quinta-feira, 29 de julho de 2010

EXÚ


A palavra “Exu” significa, em ioruba, “esfera”, aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim. Exu é o principio de tudo, a força da criação, o nascimento, o equilíbrio negativo do Universo, o que não quer dizer coisa ruim. Exu é a célula mater da geração da vida, o que gera o infinito, infinita vezes.

É considerado o primeiro, o primogênito; responsável e grande mestre dos caminhos; o que permite a passagem o inicio de tudo. Exu é a força natural viva que formenta o crescimento. É o primeiro passo em tudo. É o gerador do que existe, do que existiu e do que ainda vai existir.

Exu está presente, mais que em tudo e todos, na concepção global da existência. É a capacidade dinâmica de tudo que tem vida. Principalmente dos seres humanos que carregam, em seu plexo, o elemento dinâmico denominado Exu.

É aquilo que no candomblé chamamos de Bára, ou seja “no corpo”, preso a ele. É o que nos dá capacidade de agir, andar, refletir, idealizar. Sem o elemento Bára, a vida sadia é impossível. Sem ele, o homem seria excepcional, retardado, impossível de coordenar e determinar suas próprias atitudes e caminhos de vida..

Realmente, Exu está presente em tudo. E damos como exemplo inicial a concepção da geração da vida. O membro ereto do macho tem a presença de Exu- aliás, em terras da África, o membro rijo é o símbolo da vida, o símbolo de Exu - ; a penetração na fêmea, tema a regência de Exu; a ejaculação é coordenada por Exu; o percurso do espermatozóide dentro da fêmea, é regido por Exu; também na fecundação do óvulo Exu está presente. E quando a primeira célula da vida esta formada, a presença de Exu se faz necessária. Já na multiplicação da célula, a regência passa por Oxum, que vai reger o feto até o nascimento.

Exu também está presente no calor, no fogo, na quentura. Presente se faz nos lugares poucos arejados, nos lugares onde existem multidões, nos ambientes fechados e cheios.

Exu está na alteração do ânimo, na discussão, na divergência, no nervosismo. Está presente no medo, no pavor, na falta de controle do ser humano. Também está perto na gargalhada, no riso farto, na alegria incontida. Para nós brasileiros, amantes do futebol, Exu está presente no grito de “gol”, que soltamos de forma feliz e nervosa. É o desprendimento do nervosismo contido no peito.

Exu é a velocidade, a rapidez do deslocamento. É a bagunça generalizada e o silêncio completo. Diz-se que Exu é a contradição. É o sim e o não; o ser e o não ser. Exu é a confusão de idéias que temos. É a invenção, descoberta. Exu é o namoro, é o desejo, é o sentimento de paixão desenfreadas e é também o desprezo. Exu é a voz, o grito, a comunicação. É a indignação e a resignação. É a confusão dos conceitos ba´sico. Aquele que ludibria, engana, e confunde; mas também ajuda, dá caminhos, soluciona. É aquele que traz dor e a felicidade.

Para se ter uma noção do comportamento e da regência paradoxal de Exu, cito um de seus Orikis (versos sarados), que diz;

“ Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que jogou hoje”

Assim, pode-se ter uma idéia exata de quem Exu é, como é, e como rege as coisas. Ele esta presente em tudo..... em nada.

Exu esta presente no consumo de substâncias tóxicas, no álcool, na droga, no fumo. Ele é o sólido, o liquido e o gasoso. Está nas conversas de esquinas, de bares, de restaurantes, de praças. Está na aceitação ou recusa de qualquer coisa.

Está presente também nas refeições, pois ele é quem rege o ato de mastigar e engolir. A gula é atributo de Exu. Está no coito, no prazer sexual, na preguiça; mas também está presente na disposição, na energia, sem querer com isso carregar peso, pois Exu não gosta de carregar peso. Outro Oriki fala claramente sobre esta sua particularidade:

“ Xonxô obé, odara kolori erú”

“ A lâmina (sobre a cabeça) é afiada; ele não tem cabeça para carregar fardos”

Exu é tudo isso e mais. Fogo é o seu elemento, mas a Terra e o Ar são bem conhecidos de Exu. É a presença constante!



Mitologia

Exu é filho de Iemanjá e irmão de Ogun e Oxossi. Dos três é o mais agitado, capcioso, inteligente, inventivo, preguiçoso e alegre.É aquele que inventa historias, cria casos e o que tentou violar a própria mãe.

Numa de suas muitas histórias, podemos entender exatamente suas capacidade inventiva, sua conduta maquiavélica e sua maneira pratica de resolver seus assuntos e saciar seus desejos.

Conta-se que dois grandes amigos tinham, cada um deles,um pedaço de terra, dividido por uma cerca. Diariamente os dois iam trabalhar, capinando e revirando a terra, para plantio.Exu, interessado nas terras, fez a proposta para adquiri-las, o que foi negado pelos agricultores. Aborrecido, mas determinado a possuir aqueles dois terrenos, Exu procurou agir. Colocou na cerca um boné. De um lado branco, de outro vermelho. Naquela manhã, os amigos lavradores chegaram cedo para trabalhar a terra e viram o boné na cerca. Um deles via o lado branco e outro o lado vermelho.

Em dado momento, um dos amigos pergunto: - “O que este boné branco faz em minha cerca?” Ao que o outro retrucou: - “Branco? Mas, o boné é vermelho!”

- Não, não, amigo. O boné é branco, como algodão!

- Não, não é mesmo! É vermelho como o sangue!

- Não sei como você pode ver vermelho, se é branco, está louco?

- Não, o louco é você, que vê branco, se a coisa é vermelha!

Bem, daí desencadeou-se a maior discussão, até chegarem à luta corporal. E com as mesmas ferramentas de trabalho, mataram-se.

Exu, que de longe assistiu a tudo, esperando o desfecho já imaginado por ele, aproximou-se e assumiu a posse das terras, não sem antes fazer um comentário, bem ao seu estilo:

- Mas que gentes confusas, que não consegue solucionar problemas tão simples!

Esse é o tipo de Exu!

Não quero passar a impressão de que se trata de uma coisa ruim, má, mas Exu é nosso próprio interior, é a nossa intimidade, o nosso poder de ser bom ou mau, de acordo, com nossa própria vontade. Exu é o ponto mais obscuro do ser humano e é, ao mesmo tempo, aquilo que existe de mais óbvio e claro.

Assim é Exu, Senhor dos caminhos, pai da verdade e da mentira. O Deus da contradição, do calor, das estradas, do princípio ativo de vida. O mestre de tudo... e nada!



Dados

Dia: Segunda Feira

Data: Não existe especificamente, pois todos os dias são de Exu.

Metal: Não tem, sua matéria é a terra, pois nasceu da terra em forma de pênis.

Cor: Preto e Vermelho

Partes do Corpo: Sensações de sede e de fome, cavidade do Ori (cabeça), cavidade do útero, atividade sexual (não da atividade procriadora, da fecundação, pois ele é o resultado, o descendente), placenta fecundada, os pés (bola dos pés), uma parte do fígado (a outra é de Oya).

Comida: Sangue de bode, galos, galinhas, farofa de azeite de dendê, carnes mal passadas, pimenta e bebidas alcoólicas.

Arquétipos: magros, altos, sorridentes, extrovertidos demais, alegres, ambiciosos, com fé na vida, esperançosos para melhorar, positivo.

Símbolos: Ogo (bastão cheio de tranças de palha numa ponta com cabaças dependuradas, nas quais ele traz suas bebidas. O Ogo é todo enfeitado de búzios).

OXALÁ


Se Exu é o começo de tudo, Oxalá é o fim. Se Exu é o principio da vida, Oxalá é o principio da morte. Equilíbrio positivo do Universo, é o pai da brancura, da paz, da união, da fraternidade entre os povos da Terra e do Cosmo. Pai dos Orixás, é considerado o fim pacífico de todos os seres. Orixá da ventura, da compreensão, da amizade, do entendimento, do fim da confusão.

O branco, nos cultos Afro-Brasileiros, é a cor principal. É, entretanto, o luto, a cor de Oxalá, pois Oxalá é aquele Orixá que vai determinar o fim da vida, o fim da estrada do ser humano. Daí sua cor ser considerada a cor do luto, nos Cultos. Oxalá é ofim da vida, é o momento de partir em paz, com a certeza do dever cumprido.

Embora não gostemos dela, nem que a queiramos com certeza, a morte é uma conseqüência da própria vida. Exu inicia, Oxalá termina. É assim nas rodas de Candomblé, no xirês, quando louvamos todos Orixás. Começamos por Exu, terminamos com Oxalá.

A religião, então, encara o fator morte com a mesma naturalidade com que encara os demais assuntos, pois ele faz parte da Natureza e sabemos que tudo tem um inicio, um meio e um fim. Também o Culto vai encarar esta evidência com lógica e vai determinar uma regência, ou melhor, inúmeras regências, para essa força chamada Oxalá.

A morte é descanso final, e se é o descanso final é a paz. Oxalá é o Orixá da paz. Ele é o pai da brancura, cor do luto no Candomblé. Portanto ele é o pai a morte, ou melhor dizendo, é o principio do fim da vida.

Mas Oxalá também tem outras atribuições na Natureza. É ele que vai proporcionar a paz entre os homens; é ele que vai trazer o entendimento, a compreensão, o sossego, a fraternidade, não somente entre os homens, mas também em sua relação com outras forças da natureza, pois é comum nas Casas de Santo oferecemos comidas e flores, para que Oxalá venha apaziguar uma situação de conflito, uma determinada cabeça. É ele que servirá de mediador para que haja uma solução, uma definição.

Oxalá, portanto, está presente nos momentos em que a calma é estabelecida. Rege a tranqüilidade, o silêncio, a paz do ambiente.

Oxalá é o equilíbrio das coisas, mantendo-as suavemente estabilizado e em posição de espera ou definição, de acordo com o caso, de acordo com a situação.

É, portanto, a organização final, da maneira mais pacífica possível.

Mitologia

Oxalá era marido de Nanã, Senhora do Portal da vida e da morte. Senhora da fronteira de uma dimensão (a nossa) para outras.

Por determinação da própria Nanã, somente os seres femininos tinham o acesso ao Portal, não permitindo a aproximação dela de seres do sexo masculino, sob hipótese alguma. Esta determinação servia para todos, inclusive para o próprio Oxalá.

E assim foi, durante muito tempo. Porém, Oxalá não se conformava em não poder conhecer o Portal, não só por ser marido de Nanã, como por sua própria importância no panteão dos Orixás.

Assim, pensou, até que encontrou a melhor forma de burlar as determinações de sua esposa. Não fugindo de sua cor branca, vestiu-se de mulher, colocou o Adê (coroa) com os “chorões”, no rosto, próprio das Iabás (mulheres) e aproximou-se do Portal, satisfazendo, enfim, sua curiosidade.

Foi pego, porém, por Nanã, exatamente no momento em que via o outro lado da dimensão. Nanã aproximou-se e determinou:

-Já que tu, meu marido, vestiste-te de mulher para desvendar um segredo importante, vou compartilhá-lo contigo. Terás, então, a incumbência de ser o principio do fim, aquele que tocará o cajado três vezes ao solo para determinar o fim de um ser. Porém, jamais conseguiras te desfazer das vestes femininas e, daqui para frente, terá todas as oferendas fêmeas!

E Oxalá, conhecido por Olufan, passou a comer não mais como demais santos Aborós (homens), mas sim cabras e galinhas como as Iabás. E jamais se defez das vestes de mulher. Em compensação, transformou-se no Senhor do principio da morte e conheceu todo o seu segredo.

Oxalá, portanto, é o fim. Não o fim trágico, mas pacífico, de tudo que existe no mundo. E por isso merece todo o carinho que lhe damos. Por isso, é o nosso salvador, nosso conselheiro, aquele que vem nos momentos de angustia para trazer algo que esse mundo precisa demasiadamente: Paz.

Mitologia de Oxaguian

Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra.

Ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã.

Gostava de guerrear e comer.

Gostava muito de uma mesa farta.

Comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado.

Jamais se sentava estavam sempre atrasados, pois eram muito demorado preparar o inhame.

Elejigbô, o rei do Ejigbô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra.

Oxalá então consultou os babalaôs, fez suas oferendas a Exu e trouxe para a humanidade uma nova invenção.

O rei de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pode ser fartar e fazer todas as suas guerras.

Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de “Orixá Comedor de Inhame Pilado”, o mesmo que Oxaguian na língua do lugar.

Dados

Oxalufan

Dia: sexta feira

Data: 15 de janeiro;

Metal: prata, ouro branco, chumbo e níquel;

Cor: branco leitoso;

Partes do corpo: parte genital masculina, rins, sêmen, os 16 dentes do maxilar inferior (cauris) que pertencem a Oxalá.

Comida: ebô, acaçá, o ibi (caracol) e o inhame.

Arquétipo: calmos, mas capazes de liderar, bondosos e tolerantes;

Símbolos: apaasoró (cajado)

Oxaguian

Dia: sexta feira;

Data: 15 de janeiro;

Metal: todos os metais brancos;

Cor: branco e leitoso;

Comida: inhame pilado;

Arquétipo: altos e robustos, porte majestoso, olhar ao mesmo tempo altivo e travesso, elegante e amigo das mulheres, alegre, gosta profundamente da vida, revela-se muitas vezes irônicos, malicioso, prolixo, brincalhão, idealista e defensor dos injustiçados, intuitivo quanto ao futuro. Seu pensamento original antecipa o de sua época, espírito brilhante, facilidade de argumentação. Se rico é generoso e até pródigo. Embora guerreiro não é agressivo, nem brutal.

Oxumaré


Oxumaré (Òsùmàrè) é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se um dia Oxumaré perder suas forças o mundo acabará, porque o universo é dinâmico e a Terra também se encontra em constante movimento. Imaginem só o planeta Terra sem os movimentos de translação e rotação; imaginem uma estação do ano permanente, uma noite permanente, um dia permanente. É preciso que a Terra não deixe de se movimentar, que após o dia venha a noite, que as estações do não se alterem, que o vapor das águas suba aos céus e caia novamente sobre a Terra em forma de chuva. Oxumaré não pode ser esquecido, pois o fim dos ciclos é o fim do mundo.

Oxumaré mora no céu e vem à Terra visitar-nos através do arco-íris. Ele é uma grande cobra que envolve a Terra e o céu e assegura a unidade e a renovação do universo.
Filho de Nanã Buruku, Oxumaré é originário de Mahi, no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan. Na região de Ifé é chamado de Ajé Sàlugá, aquele que proporciona a riqueza aos homens. Teria sido um dos companheiros de Odudua por ocasião de sua chegada a Ifé.

Dizem que Oxumaré seria homem e mulher, mas, na verdade, este é mais um ciclo que ele representa: o ciclo da vida, pois da junção entre masculino e feminino é que a vida se perpetua. Oxumaré é um Orixá masculino.

Oxumaré é um deus ambíguo, duplo, que pertence à água e à terra, que é macho e fêmea. Ele exprime a união de opostos, que se atraem e proporcionam a manutenção do universo e da vida. Sintetiza a duplicidade de todo o ser: mortal (no corpo) e imortal (no espírito). Oxumaré mostra a necessidade do movimento da transformação.

Omulú é o irmão mais velho de Oxumaré, mas foi abandonado por sua mãe por ter nascido com o corpo coberto de chagas. Em tempo, não se pode condenar Nanã por esse acto, já que era um costume, quase uma obrigação ritual da época, que se abandonassem as crianças nascidas com alguma deformidade. O deus do destino disse a Nanã que ela teria outro filho, belíssimo, tão bonito quanto o arco-íris, mas que jamais ficaria junto dela. Ele viveria no alto, percorreria o mundo sem parar. Nasceu Oxumaré.

Oxumaré que fica no céu
Controla a chuva que cai sobre a terra.
Chega à floresta e respira como o vento.
Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida.

Características dos filhos de Oxumaré:

São pessoas que tendem à renovação e à mudança. Periodicamente mudam tudo na sua vida (de maneira radical): mudam de casa, de amigos, de religião, de emprego; vivem rompendo com o passado e buscando novas alternativas para o futuro, para cumprir seu ciclo de vida: mutável, incerto, de substituições constantes.

São magras. Como as cobras possuem olhos atentos, salientes, difíceis de encarar, mas ‘não enxergam’. São pessoas que se prendem a valores materiais e adoram ostentar suas riquezas; São orgulhosas, exibicionistas, mas também generosas e desprendidas quando se trata de ajudar alguém.
Extremamente activas e ágeis, estão sempre em movimento e acção, não podem parar.

São pessoas pacientes e obstinadas na luta pelos seus objectivos e não medem sacrifícios para alcançá-los. A dualidade do orixá também se manifesta nos seus filhos, principalmente no que se refere às guinadas que dão nas suas vidas, que chegam a ser de 180 graus, indo de um extremo a outro sem a menor dificuldade. Mudam de repente da água para o vinho, assim como Oxumaré, o Grande Deus do Movimento.

DIA: Terça-feira

CORES: Amarelo e verde (ou preto) e todas as cores do arco-íris

SÍMBOLOS: Ebiri, serpente, círculo, bradjá.

ELEMENTOS: Céu e terra

DOMÍNIOS: Riqueza, vida longa, ciclos, movimentos constantes.

SAUDAÇÃO: A Run Boboi!!!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Pesquisa Vox Populi desengana oposição: Dilma 41%, Serra 33%

Dilma aumenta vantagem e Serra é o mais rejeitado

Ela abriu 8 pontos de frente sobre o candidato tucano. Mídia serrista acusa golpe e insiste na fraude

A pesquisa do Instituto Vox Populi, encomendada pela Rede Bandeirantes, confirmou o crescimento de Dilma Rousseff, que subiu de 40% em junho para 41% das intenções de voto em julho, enquanto José Serra (PSDB) caiu de 35% para 33% no mesmo período. No levantamento, divulgado na última sexta-feira, a candidata do presidente Lula abriu 8 pontos percentuais de vantagem sobre o candidato tucano. A candidata do PV, Marina Silva, registrou 8% e todos os demais candidatos somaram 1%.

O Vox Populi mostrou que Serra é o mais rejeitado pelos eleitores, com 24% dos pesquisados declarando que não votariam nele de jeito nenhum. A segunda maior rejeição é de Marina Silva (PV), com 20%, e Dilma aparece em terceiro lugar com apenas 17%. Na simulação do 2º Turno, Dilma venceria a eleição com 46% dos votos contra 38% de Serra. Na pesquisa espontânea (onde o nome do candidato não é mostrado ao eleitor) Dilma também vence, com 28%, seguida de Serra, com 21%, e Marina, 5%.

Dilma passa Serra também entre as mulheres. Ela abre uma vantagem de 6 pontos, com 38% contra 32% de Serra.

A “Folha de S. Paulo”, jornal esforçado, aliás, quase alucinado para viabilizar a candidatura tucana, perpetrou outro roubo e, pela terceira vez seguida, fabricou um “empate técnico” entre Dilma e Serra. Segundo o instituto do jornal, o Datafolha, há 60 dias que não acontece nada no Brasil. É a única explicação para o resultado, nesse tempo, mesmo com o adernamento precoce da candidatura tucana, ser sempre o mesmo.

O interessante é que na mesma pesquisa onde Serra tem 37% e Dilma 36%, as respostas à pergunta “na sua opinião, quem vai ganhar as eleições para presidente da República em outubro ?” são 41% para Dilma e apenas 30% para Serra. Não existe roubo perfeito. O gato sempre deixa o rabo de fora.

O instituto da família Frias foi obrigado a recuar de uma fraude ainda mais grosseira, montada em abril, onde o candidato de FHC aparecia insuflado com 12% de dianteira sobre Dilma. Não conseguiu convencer nem um dos mais fiéis editorialistas do jornal, Clóvis Rossi – desde essa época, em desprestígio na côrte do Otavinho.

Mas, cá entre nós, nem os tucanos e seus aliados, gente que tem o cérebro confeccionado pelo corte-e-costura da mídia, acreditam mais na “Folha”. Nem com o Ali Kamel repetindo 50 vezes na “Globo” os números do Datafolha e escondendo os do Vox Populi. O problema é que o resultado do Datafolha é completamente disparatado em relação ao que todos veem e sentem.
Nem o Arthur Virgílio acredita. Tanto assim que apresentou a perspicaz proposta de que o PSDB deveria apoiar Marina em seu Estado, para “viabilizar um segundo turno com Serra”.

Tasso Jereissati, ex-presidente nacional do PSDB, depois de esquecer que seu partido tem candidato a presidente na convenção que o lançou para o Senado no Ceará, esqueceu agora de colocar fotos ou o nome de Serra em seu comitê eleitoral (veja matérias nessa edição).

Porém, há uma prova definitiva: Roberto Jefferson reclamou que a campanha de Serra está desorganizada e sem dinheiro. Jefferson tem um faro infalível para essas coisas. Praticamente toda a bancada de seu partido, o PTB, já abandonou a canoa tucana.

A própria campanha do candidato tucano está se queixando de que em Minas, segundo eleitorado do país, Aécio Neves e seu candidato ao governo, Antônio Anastasia, só falam de Serra quando este aparece por lá. O outro candidato ao Senado da coligação, o ex-presidente Itamar Franco, nem assim – exceto para dizer que é mentira que Serra tenha sido o pioneiro dos genéricos. Parece que nenhum deles acredita no Datafolha.

E isso sem falar no sensível e avassalador crescimento da campanha de Dilma. Prefeitos e outros políticos do Dem e, inclusive, do PSDB, aderem à candidata de Lula. Cada visita aos Estados transforma-se em gigantescas caminhadas e grandes comícios. O Partido Popular (PP), do senador Francisco Dornelles, decidiu por unanimidade apoiar a ex-ministra.

Enquanto isso, Serra caminha com seus assessores e alguns repórteres. Conseguiu até mesmo o prodígio de cancelar um comício por falta de público em Itabuna, Bahia, provavelmente o primeiro comício cancelado naquela comunidade desde que Jorge Amado esteve por lá e escreveu “Terras do Sem Fim”.

Como brincou o presidente Lula na sexta-feira em Garanhuns (PE), “depois dessa pesquisa (Vox Populi), no Nordeste está proibido ouvir forró pé-de-serra. Agora, só pode ouvir pé-de-Dilma”. No Estado, Dilma tem mais do que o dobro da preferência por Serra.

Aliás, o primeiro a não acreditar nos numerologistas do Otavinho é o próprio Serra. Quando um repórter lhe perguntou sobre as dificuldades de sua candidatura no Nordeste, berrou que o profissional estava fazendo campanha para Dilma e que não ia responder mais nada.

Isso é comportamento de quem está “empatado” nas pesquisas?

Em Florianópolis, além da falta de público, sua careca quase entra em colisão com um ovo, ao intrometer-se indevidamente na trajetória do objeto. Enquanto isso, Dilma reunia 15 mil em São Paulo e 40 mil no centro do Rio, mesmo debaixo de uma chuva torrencial.

Para piorar tudo – e muito – o candidato a vice de Serra revelou-se um débil mental que superou todas as mais radicais expectativas. Alguém – aliás, um dos mais serristas entre os editorialistas da “Folha” - comparou o silvícola com a inacreditável Sarah Palin, a maior comediante que a direita dos EUA já escolheu para ser candidata a vice-presidente.

Trata-se de uma injustiça. O ex-DJ (profissão conhecida pela seriedade e brilho intelectual) e genro do empreendedor Salvatore Cacciola - no momento curtindo uma estação de águas em Bangu - é muito melhor do que a Sarah Barracuda. Nós aqui achamos ele ótimo. Um grande vice para Serra. É daqueles que se cair de quatro não levanta. Cada besteira é um escândalo maior do que a outra – até porque são besteiras daquele tipo que deixaria a base dos nazistas meio envergonhada. Dentro em breve, espera-se que ele revele que tem tanta identificação com os negros que, se tivesse quintal, criaria uns dois. Ou que conseguiu o apoio do Bruno, popular goleiro do mais querido time do país, para Serra.

Mas nada disso tem influência nas “pesquisas” do Datafolha. Para o instituto do Otavinho nada acontece, jamais, em tempo algum. Serra continua “empatado”, apesar de todo mundo sentir que é impossível.

A pesquisa do Vox Populi é perfeitamente coerente com os fatos. Para a do Datafolha, os fatos não existem. Aliás, ela é feita para passar por cima da realidade. Só que não conseguiu.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Patrimônio Mundial

Patrimônio Mundial
Inaugurada oficialmente a 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial

Na noite deste domingo, 25 de julho, com uma cerimônia inspirada na diversidade e na identidade cultural brasileira, foi oficialmente iniciada a 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco. O evento aconteceu no Teatro Nacional, em Brasília, e contou com a presença do presidente do Comitê do Patrimônio Mundial e ministro da
Cultura do Brasil, Juca Ferreira, da diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, dentre outras autoridades.

“A Convenção do Patrimônio Mundial talvez seja o mais importante marco jurídico criado no âmbito da Unesco”, afirmou Juca Ferreira. Segundo o ministro, juntamente à Convenção do Patrimônio Imaterial e à Convenção da Diversidade Cultural, este é mais um instrumento internacional indispensável às iniciativas e reflexões na área da cultura.

Em seu discurso, Ferreira destacou a necessidade de se valorizar o patrimônio cultural e natural e “pensar a convenção como mecanismo de fomento à cooperação internacional para a promoção do desenvolvimento sustentável”.

A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, elogiou o espírito de amizade dos
brasileiros e também a cidade de Brasília, ao chamá-la de “marco do planejamento urbano”. Ela afirmou que o País é cheio de superlativos naturais e citou a Amazônia como “berço de grande biodiversidade” que precisa ser preservada.

Para Irina, os patrimônios mundiais devem combinar modernidade e tradição, pois se tratam de documentos vivos. Durante sua fala, ela sugeriu a preservação dos sítios históricos com a utilização de novas tecnologias e convidou as populações que vivem próximas a eles para “defender a cultura, em primeiro plano”, pois, segundo ela, é dessa forma que se conquista a paz, o respeito, o diálogo e a reconciliação entre as comunidades.

Eleonora Valentinovna Mitrofanova, Conselheira Executiva da Unesco, destacou, dentre os principais objetivos da Convenção, a garantia de que o patrimônio seja passado para as futuras gerações. “O Patrimônio Histórico é a continuação do ser humano”, disse. Para ela, a escolha de Brasília para sediar a 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial é bastante simbólica devido à recente, porém importante história da cidade. “É muito raro que a reunião aconteça em uma cidade criada no século 20″, garantiu.

Durante a solenidade, jovens do Brasil e de outros 18 países, todos participantes do Fórum Juvenil do Patrimônio Mundial, leram a Carta Brasília, um documento que reafirma o compromisso das novas gerações com a preservação do patrimônio, assumindo a responsabilidade de cuidar e divulgar sua valorização numa aliança pela identidade. Eles estiveram reunidos de 16 a 25 de julho em quatro cidades (no Brasil e na Argentina) para trocar experiências e trazer ferramentas educativas para a conservação dos patrimônios históricos mundiais.

Festa

Os representantes dos 187 Estados Partes e os demais convidados ficaram encantados com as manifestações artísticas apresentadas durante a solenidade. Alguns chegaram a dançar com as baianas ao som de tambores e berimbaus. No palco da Sala Villa-Lobos, os grupos mostraram a diversidade cultural do Brasil e suas tradições representadas pelo maracatu, forró, boi-bumbá e samba. Cada uma das cinco regiões brasileiras teve espaço na apresentação. O Hino Nacional foi executado pelas crianças do Programa Integração pela Música – Grupo PIM –
e a solenidade foi encerrada com um belo espetáculo músico e teatral com o cantor Milton Nascimento e o Grupo Ponto de Partida.

A reunião


A 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco acontecerá de 26 de julho a 3
de agosto e contará com cerca de 800 representantes dos 187 Estados Partes. Eles vão analisar a possibilidade de inclusão e extensão de território de 41 itens na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, como bens naturais, culturais e mistos, apresentados por 35 países. O grupo também vai avaliar o estado de conservação de 31 patrimônios que já conquistaram este reconhecimento, mas estão na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo, como a Ilha de Galápagos, e decidir se incluem nessa lista novos bens que necessitem de atenção especial.

É a segunda vez que a capital brasileira recebe a Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial. A primeira foi em 1988, um ano após o seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Mundial.

Leia, também: Brasília receberá 800 representantes de 187 Estados Partes para evento que começa neste domingo, 25 de julho

Cerimônia de Abertura da 34° Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial

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Cerimônia de Abertura da 34° Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial na sala Villa Lobos no Teatro Nacional Cláudio Santoro.Foto: Pedro França/MinC

(Texto: Sheila Rezende, Comunicação Social/Minc)
(Fotos: Pedro França, Comunicação Social/Minc)

Publicado por Comunicação Social/MinC
Categoria(s): Notícias do MinC, O dia-a-dia da Cultura
Tags: 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, Fórum Juvenil do Patrimônio Cultural, Ministro Juca Ferreira, Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial


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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Estatuto do combate ao racismo é assinado pelo presidente Lula


O presidente Lula sancionou, terça-feira, o Estatuto da Igualdade Racial. O documento apresenta diretrizes para a implementação de medidas que visem a redução da discriminação racial, estabelecendo a criação de políticas públicas nas áreas da educação, saúde, esporte, lazer e meios de comunicação.

Entre os pontos apresentados no Estatuto está a realização de políticas que garantam a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a população negra, tendo inclusive o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) como formulador de programas e projetos.

EDUCAÇÃO

O Estatuto prevê também a obrigatoriedade do estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados. Também consta no estatuto o reconhecimento de manifestação coletiva da população negra, como patrimônio histórico e cultural, assim como é assegurado o livre exercício dos cultos religiosos.

A solenidade de sanção do Estatuto da Igualdade Racial foi realizada em Brasília e contou com a presença de ministros, reitores e representantes do movimento negro. No ato, o presidente Lula também sancionou a lei que cria a Universidade da Integração Internacional Luso-Afro-Brasileira (Unilab). Conforme Paulo Speller, reitor pró-tempore da Universidade, o objetivo da Unilab é integrar os povos luso-afro-brasileiros. Metade das vagas será destinada a alunos estrangeiros, que cursarão parte do curso em campus brasileiro, localizado no município de Redenção, no Ceará.

Em seu discurso, o presidente Lula afirmou que a “democracia brasileira parece mais justa e representativa com a entrada em vigor do Estatuto da Igualdade Racial. Estamos todos um pouco mais negros, um pouco mais brancos e um pouco mais iguais”.

Lula lembrou que “na primeira conferência do povo negro do nosso país, eu fiz um apelo para que vocês levassem em conta que, se não houvesse um acordo entre o movimento negro, jamais a gente conseguiria ter aprovado esse Estatuto, jamais. Se cada um tivesse a sua posição, esse Estatuto iria mofar nas gavetas do Congresso Nacional, e daqui a 150 anos ele ainda estaria lá guardado”. “Foi obrigado à sabedoria daqueles que perceberam que não poderiam conquistar tudo de uma vez, ou seja, mas que poderiam conquistar um espaço a mais, um caminho a mais, um fôlego a mais, um tempo a mais, para que a gente pudesse, com a nossa força reconstruída, a gente conquistar mais espaço, porque falta muito para a gente consolidar a democracia no nosso país”, afirmou.

Na mesa, estiveram presentes o ministro da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araújo, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o ministro da Educação, Fernando Haddad, a coordenadora do Memorial Sakay, do Instituto Nacional da Tradição e da Cultura Afro-brasileira, Egbomi Conceição Reis de Ogum, e o presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB), Eduardo de Oliveira, autor do Hino à Negritude. Para Eduardo de Oliveira, “a partir de agora, iremos unir esforços para o aperfeiçoamento desse instrumento constitucional para fazer valer a nossa condição de cidadãos de primeira classe” (ver matéria abaixo).

UNILAB

O presidente Lula também ressaltou a importância da Unilab, considerando que sua aprovação “é uma coisa extraordinária e eu espero que no próximo ano ela já comece a funcionar. Nós temos uma preocupação de trazer os alunos de lá para cá, mas também levar os alunos de volta, de quando em quando, para eles aprenderem que eles têm que voltar para o seu país, que eles têm que aprender coisas que estejam muito ligadas ao desenvolvimento do continente africano”.

A Unilab oferecerá cursos de Enfermagem, Formação de Professores, Gestão Pública, Agronomia e Engenharia de Energia e atenderá 5 mil alunos. Os estudantes brasileiros serão selecionados pelo ENEM.



Eduardo de Oliveira, presidente do CNAB:

“O resultado da nossa luta provou que a verdade vence a impostura”

“O Estatuto da Igualdade Racial, aprovado pelo Senado Federal, foi a vitória de Zumbi contra Golias, que aconteceu exatamente em nossos dias”, declarou o professor Eduardo de Oliveira, presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileira (CNAB), após a solenidade em que o presidente Lula sancionou o Estatuto da Igualdade Racial, em Brasília.

“Todo o resultado da luta da comunidade negra, que vem ocorrendo desde que Zumbi dos Palmares entrou para a imortalidade no dia 20 de novembro de 1695, com a sanção do Estatuto da Igualdade Racial pelo presidente mais popular, o estadista Luis Inácio Lula da Silva, provou que a verdade vence a impostura. E nesse momento, nós, brasileiros de boa vontade, de todas as etnias, dispomos de um instrumento ideal e poderoso para superar as tradicionais desigualdades que ainda hoje, depois de 122 anos da Abolição da Escravatura, comprometiam nosso espírito de fraternidade, que deve dirigir as ações civilizadas”.

“O caráter de transversalidade por que passam os vários artigos dessa nova lei, que seria, no nosso entender, o segundo artigo da Lei Áurea, permite que nos atendamos o que é de direito de primazia, quanto aos direitos dos cidadãos e das cidadãs de ascendência afro-brasileira”, afirmou Eduardo, que, ao final do ato, presenteou o presidente com um CD do Hino à Negritude, de sua autoria.

“Portanto, resta-nos apenas, a partir de agora, unir esforços para o aperfeiçoamento desse instrumento constitucional para fazer valer a nossa condição de cidadãos de primeira classe. Posto isso, resta agora nós festejarmos tudo quanto há de nobre e de elevado na sociedade brasileira, que deve ser um país de cada um de nós e de todos, que se sintam dignos de valorizarem a sua postura de pessoas feitas à imagem e semelhança de Deus”.

“O CNAB sempre esteve no encalço desse sucesso, que acabou coroando todos os que, de uma forma ou de outra, se empenharam para estabelecer a justiça sem adjetivos. É bom destacar que negros e brancos de todas as tendências ideológicas e políticas são merecedores das gerações que vão se beneficiar de modo efetivo dos artigos que constituem o arcabouço jurídico constitucional do Estatuto da Igualdade Racial”, concluiu.

Estatuto da Igualdade Racial e Universidade Afro-Brasileira vitaminam a democracia

"Presidente Lula confraterniza com participantes da cerimônia de sanção do Estatuto da Igualdade Racial, em
cerimônia realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília."


A entrada em vigor do Estatuto da Igualdade Racial e a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), graças à sanção presidencial desta terça-feira, tornam a democracia ainda mais justa e representativa, afirmou o presidente Lula em cerimônia realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília, que contou com a presença de lideranças políticas e sociais de todo o País. Misturando o discurso escrito com improviso, Lula parabenizou todos que se dedicaram à aprovação do Estatuto e à criação da universidade, afirmando que em seu governo “nenhum projeto é bom se não amplia e melhora as condições de vida dos brasileiros e brasileiras que historicamente sempre foram deixados para trás; dos que não tinham voz; dos que nunca tinham tido oportunidades”.


Lula afirmou ainda que o impasse estrutural entre pobreza e desenvolvimento está sendo enfrentado com firmeza:


"Sempre tivemos clareza que superá-lo não era um atributo direto da economia, mas uma prerrogativa da decisão política. Por isso decidimos que a luta contra a pobreza, a luta contra a desigualdade e a discriminação constituíam o motor do desenvolvimento brasileiro. E não uma conseqüência natural, como se apregoou durante tanto tempo".


O presidente fez questão também de homenagear as pessoas que ajudaram a montar e aprovar tanto o Estatuto da Igualdade Racial como a Universidade Afro-Brasileira, e que não puderam comparecer à cerimônia – como o ativista Abdias do Nascimento, que está com problemas de saúde. Mandou ainda um recado a todos que criticaram o Estatuto por ele não contemplar todas as reivindicações dos negros brasileiros, lembrando o apelo que fez na primeira Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial.

sábado, 24 de julho de 2010

Comunidade negra comemora a sanção do Estatuto da Igualdade Racial

Representantes da comunidade negra de todo o país estiveram, terça-feira, 20 de julho, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, para a cerimônia de sanção, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Estatuto da Igualdade Racial. O documento, aprovado pelo Congresso Nacional no mês passado, após sete anos de tramitação, prevê garantias e o estabelecimento de políticas públicas de valorização aos negros.

O Estatuto da Igualdade Racial define uma nova ordem de direitos para os brasileiros negros, que somam cerca de 90 milhões de pessoas. O documento possui 65 artigos e tem como objetivo, segundo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), corrigir as desigualdades históricas no que se refere às oportunidades e aos direitos dos descendentes de escravos do país.

A lei prevê fontes de financiamento para programas e ações de promoção à igualdade racial. Ela estabelece, ainda, que os orçamentos anuais da União contemplem as políticas de ações afirmativas destinadas ao enfrentamento das desigualdades em áreas fundamentais, como educação, trabalho, segurança, moradia, entre outras.

O documento contemplará também todos os integrantes das comunidades tradicionais, como as de terreiro, os ciganos, os indígenas e os quilombolas. Confira a Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial.

Dia de Ogum

“Hoje é terça-feira, dia de Ogum, o Orixá do caminho e da transformação. A concretização desse documento é de grande importância, principalmente para as religiões de matrizes africanas”, comemorou a mãe de santo e integrante do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Egbonmy Conceição Reis de Ogum. Ela acredita que o Estatuto da Igualdade Racial é resultado do trabalho dos movimentos sociais e de negros que contribuíram, historicamente, para a sua elaboração.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, compareceu ao evento e lembrou que o Estatuto não significa a institucionalização de tudo que era necessário. “Mas é um marco importante e nele está contida a possibilidade e a obrigação de desenvolver políticas de igualdade em todos os níveis de poder”, assegurou Ferreira, acrescentando que, a partir de agora, o governo poderá tornar mais complexa as políticas de igualdade racial no país.

De acordo com o ministro Eloi Ferreira de Araujo, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), a lei sobre a igualdade racial no Brasil apresenta respostas para a inserção dos negros, ciganos, e indígenas, dentre outros, nos meios de comunicação de massa, assim como para as demandas por moradia, acesso à terra, segurança, acesso à justiça e financiamentos públicos.

Unilab

Além do Estatuto da Igualdade Racial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
também assinou a lei que cria a Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira (Unilab). A nova universidade tem o objetivo de promover atividades de cooperação internacional com os países da África por meio de acordos, convênios e programas de cooperação internacional, além de contribuir para a formação acadêmica de estudantes dos países parceiros.

A Unilab será construída no município de Redenção, no maciço de Baturité, a 66 quilômetros de Fortaleza. As atividades acadêmicas terão início este ano em instalações provisórias, em prédios cedidos pela prefeitura de Redenção.

Brasil terá Centro Regional de Formação para Gestão do Patrimônio

Assinatura de Protocolo
Brasil terá Centro Regional de Formação para Gestão do Patrimônio

Abertura do Centro reforça proposta de valorizar a cooperação internacional
no Comitê do Patrimônio Mundial

O Brasil e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) vão formalizar, durante a 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, a criação do Centro Regional de Formação para Gestão do Patrimônio, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro.

A assinatura do protocolo deverá ocorrer até segunda-feira, dia 26 de julho. A abertura oficial da 34ª Sessão será realizada no domingo (25) e contará com as presenças do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Cultura e atual presidente do Comitê do Patrimônio Mundial, Juca Ferreira, do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, da diretora-geral da Unesco, Irina Bokowa, e do diretor do Centro do Patrimônio Mundial, Francesco Bandarin.

O Centro é o resultado do esforço brasileiro para a cooperação técnica internacional e foi aprovado na 35ª Conferência Geral da Unesco, realizada ano passado na França. Entre suas missões estratégicas estão a capacitação profissional e o aperfeiçoamento dos instrumentos de gestão do patrimônio e que esse seja considerado um recurso e instrumento de promoção do desenvolvimento das nações.

Em suas ações de formação, intercâmbio e produção de conhecimentos, o Centro tem como foco a implementação das Convenções da Unesco para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972, para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, de 2003, e para a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, de 2005.

Meta é incentivar a cooperação internacional

O Comitê do Patrimônio Mundial definiu quatro objetivos estratégicos para considerar um bem como Patrimônio Mundial, conhecidos como os 4 Cs: credibilidade, conservação, capacitação e comunicação, respectivamente. A delegação brasileira irá propor que volte à pauta o chamado 5º C, de cooperação. A intenção é incentivar os países a realizarem ações conjuntas para capacitar pessoas a atuarem na preservação dos patrimônios, com parcerias nos moldes da que já existe entre o Brasil e 18 países da América Latina, África e Ásia, organizadas pelo Centro Regional de Formação para Gestão do Patrimônio.

Apesar de ainda não fazer parte dos objetivos estratégicos, a cooperação técnica já é um dos propósitos do Fundo do Patrimônio Mundial, que todos os anos destina mais de 4 milhões de dólares para auxiliar os Estados Partes a manterem a integridade de seus bens. A verba também é usada para ações emergenciais e treinamento de especialistas para trabalharem na pesquisa e conservação dos patrimônios.

* A 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial será realizada no Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada, de 25 de julho a 3 de agosto. Página oficial: www.34whc.brasilia2010.gov.br.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Censo 2010: Sou negro e sou de Axé!

No próximo mês de agosto, a população brasileira dos 5.565 municípios estará recebendo recenseadores e recenseadoras para o levantamento demográfico que desde o primeiro censo, em 1872, com 643(1) municípios, se mostrou como importante fonte de dados.

Sabemos do valor das informações coletadas para acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e a evolução das características da população e como elementos importantes para definição de políticas públicas em nível nacional, estadual e municipal, bem como para a tomada de decisões na iniciativa privada, incluindo, atualmente (para algumas), as ações de responsabilidade social.

Foi no censo de 1872 que, pela primeira vez, o conjunto da população era compreendido oficialmente em termos raciais, base para o estabelecimento de novas diferenças entre os grupos sociais. Diferenças ainda longe das concepções hierarquizantes e poligenistas que se acercariam da noção de raça, anos mais tarde.

Naquele momento, tratava-se de conhecer uma população de ex-escravizados que começava a exceder cada vez mais o número dos ainda escravizados. E esta diferença era possível na medida em que a instituição escravista tinha perdido a legitimidade devido à ação de grupos abolicionistas ou mesmo por meio das consequências da abolição do tráfico (1850) ou das leis posteriores que prometiam, apesar de gradual, a abolição da escravidão: a lei do ventre livre (1871), depois a lei dos sexagenários (1885), seguida da proibição dos açoites (1886) (2).

É muito importante anotar que a noção de “cor”, herdada do período colonial, não designava, preferencialmente, matrizes de pigmentação ou níveis diferentes de mestiçagem, mas buscava definir lugares sociais, nos quais etnia e condição social estavam indissociavelmente ligadas. (3)

O novo Movimento Negro, surgido nos anos 1970, enfrentou a falácia da “democracia racial” entendendo que a o quesito “cor” era determinante do lugar social da população negra. Esse conhecimento, sustentado por militantes e pensadores na área das ciências humanas e sociais (incluindo a economia e a estatística), levou a uma campanha, em nível nacional, para o censo de 1991: “Não deixe sua cor passar em branco”.

Se fizermos uma breve retrospectiva do quesito “raça” / “cor” nos censos do País, não é difícil compreender a necessidade dessa campanha por parte do Movimento Negro:

1 - o quesito “raça” foi pesquisado nos censos de 1872 e de 1890;
2 - foi suprimido em 1900 e 1920;
3 - o quesito retorna em 1940, sob o rótulo de “cor”;
4 - em 1970, o questionário não contemplou o quesito “cor”;
5 - em 1980, o quesito volta a aparecer;
6 - em 1991 o quesito “cor” está presente, incorporando a (nova) categoria “indígenas e amarelos”;
7 - o censo de 2000 admitiu “raça e cor” como sinônimos, compondo uma única categoria (“cor ou raça”). (4)


A força da campanha do Movimento Negro tinha ainda maior razão! Além da invisibilidade da população negra, pela falácia da “democracia racial”, o quesito “cor”, respondido apenas no Questionário Amostra, tangenciava uma população já impregnada pelo não lugar do ser negro, colocado sempre no lugar de 2ª classe!

“Não deixe sua cor passar em branco!” cobriu o censo de 1991 e foi reprisada no censo de 2000, com o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada; ao mesmo tempo em que era um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento do país por meio da instituição de uma hierarquia cromática e de fenótipos que têm na base o negro retinto e no topo o ‘‘branco da terra'', oferecendo aos intermediários o benefício simbólico de estarem mais próximos do ideal humano, o branco. (5)

Apesar de, neste novo censo de 2010, o quesito “cor ou raça” sair do Questionário da Amostra e passar a ser investigado também no Questionário Básico, cobrindo toda a população recenseada (6), ainda há um longo caminho da superação do racismo para que todos e todas respondam pela dignidade e pelo reforço da auto-estima de pertencerem a um grupo étnico que só tem feito contribuir eficiente e eficazmente para o desenvolvimento do País.

Ao contrário do que propõe as “assertivas” de exclusão, a identificação da população negra se faz necessária sempre e a cada vez para que se constate em números (como gosta o parâmetro científico) o racismo histórico que ainda está perpetrado sobre a população negra. Só depois que alcançarmos a liberdade de fato é que as anotações étnicas passarão a ser fatores que dizem respeito exclusivamente à cultura. Enquanto estivermos, como estamos hoje – após 122 anos da abolição da escravatura – vivendo uma abolição não conclusa, precisaremos reafirmar nossa etnia do ponto de vista político; econômico; habitacional; na área da saúde; na área da educação; nas condições de supressão da liberdade que não se dá apenas aos presidiários, mas a pais e mães que clamam por políticas para garantir que seus filhos e filhas possam crescer com dignidade e sem ameaças.

A proposta do IBGE de tirar a “fotografia” mais nítida o possível do Brasil, ainda está longe de ser alcançada!

E a luta do povo negro não termina! O racismo é tão implacável que, a cada etapa alcançada, um novo desafio se apresenta!

Para este ano, novamente o Movimento Negro está em campanha, em nível nacional! E, agora, é para que todos aqueles que são adeptos das Religiões de Matrizes Africanas respondam sem qualquer dissimulação: “Quem é de Axé diz que é!” (**)

O quesito “religião ou culto” continua no Questionário de Amostra e tem campo aberto para que o recenseador ou a recenseadora anote a “religião ou culto” declarado pelo cidadão, pela cidadã.

Tanto no quesito “cor ou raça” para todos (no Questionário Básico); quanto no quesito “religião ou culto” para alguns que responderão o Questionário Amostra, a população negra e seus descendentes estão conscientes de que suas palavras precisam ser firmes e que devem estar atentos para que a anotação seja feita sem qualquer margem de erro em relação ao que declarou.


Já se justificou essa omissão do quesito “cor” por um possível empenho do regime republicano brasileiro em apagar a memória da escravidão. Entretanto, parte da explicação pode vir do incômodo causado pela constatação de que nossa população era marcada e crescentemente mestiça, enquanto as teses explicativas do Brasil apontavam para os limites que essa realidade colocava à realização de um ideal de civilização e progresso. (7)

Não temos qualquer dúvida de que a resistência em tratar de raça-cor e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas. Não dissimular a declaração de adepto ou adepta das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer.

A poligenia está superada! As evidências de que a humanidade surgiu no continente africano são cada vez em maior número e com rigor científico sempre mais acurado. O conceito de raça não tem o menor sentido, dizem nossos opositores, no afã de jamais ceder o lugar histórico de conforto a que estão acostumados! Enquanto não repararmos o estrago que o uso histórico do conceito fez a cidadãos e cidadãs que hoje são em mais de 50% da população, qualquer discussão conceitual será apenas a má retórica que tenta persuadir para continuar reinando.

Por isso,
Não vamos deixar nossa cor passar em branco!
E vamos dizer que somos de Axé!
“Quem é de Axé diz que é!”

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A ponte entre o Orum e o Aiyê



Reza uma história africana, originária de Ketu, que no início de tudo havia o Orum, o espaço infinito, e lá vivia o deus supremo Olorum. Certo dia, Olorum criou uma imensa massa de água, de onde nasceu o primeiro orixá: Oxalá, o único capaz de dar vida. Olorum mandou Oxalá partir e criar o aiyê, o mundo. Só que Oxalá não fez as oferendas necessárias para a viagem e enfrentou sérios problemas no caminho.

Quem acabou criando o mundo foi Odudua, sua porção feminina. Para consolar Oxalá, o deus supremo lhe deu outra missão: a de inventar os seres que habitariam o aiyê. Assim Oxalá usou a água branca e a lama marrom para criar peixes azuis, árvores verdes e homens de todas as cores. Foram justamente os homens que, mais tarde, imaginaram formas de adorar e representar a saga de deuses como Oxalá, Odudua, Olorum e tantos outros.

100 Anos do Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradicionais terreiros de candomblé do país

Um século de força, afirmação de identidade e resistência negras
“Todos os que passam do portão do terreiro para dentro são considerados por Xangô, seus filhos”. Com esta frase a professora Vanda Machado, egbomi do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, explica aos convidados com simpatia o acolhimento que terão dentro de um
dos mais tradicionais terreiros de candomblé da Bahia. E deixa antever princípios filosóficos de uma cultura de matriz africana ancestral.

Na tradução do iorubá – língua falada pelos negros nagôs - para o português, o nome do terreiro significa “Casa de Força Sustentada por Xangô”. Foi em referência a este Orixá que a criadora do Axé, dona Eugenia Anna dos Santos, a famosa Mãe Aninha, fundou o terreiro no ano de 1910. Mãe Aninha dizia sonhar ver os filhos do Axé “de anel de doutor nos dedos e prostrados aos pés de Xangô”. Passados cem anos, e sob a direção de Mãe Stella de Oxossi, a atual sacerdotisa que dirige toda a comunidade religiosa situada no bairro de São Gonçalo do Retiro, em Salvador, o Opô Afonjá, além de espaço de culto ao sagrado, é sinônimo do “axé” (força), de resistência cultural e local de afirmação das identidades negras.

Ocupando uma área com cerca de 39.000 m2, o terreiro abriga ainda a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, reconhecida pelo MEC como instituição modelo no que se refere àquilo que a lei 10639/2003 advoga: que as escolas do país devotem tempo e atenção à história e a força das culturas negras. Estas tão bem representadas por personagens como mãe Aninha e Mãe Stella, mas também por outras sacerdotisas que ocuparam o posto máximo daquela Casa, tais como Mãe Badá, Mãe Ondina, Mãe Senhora. E tantas outras que, neste território de dimensões continentais, vem acolhendo em seus “axés” aqueles que buscam proteção, força vital, esperanças, troca comunitária e felicidade na religião dos Orixás.

É bem verdade que as ações, a coragem, a determinação e a luta destas mulheres negras valorosas ainda fazem parte da história não-oficial do país. Mas é incontestável também as possibilidades de reconhecimento pelos jovens e crianças de nossas escolas do quão interessantes e exemplares são estas – e tantas outras – personalidades negras. Muitos vem lutando para que este seja um dos frutos a serem colhidos através da obrigatoriedade da lei que passou a regular, em 2003, as práticas educacionais em nossas escolas na direção da Igualdade Racial. Para além dela (e fortalecendo-a) temos ainda, o recém aprovado Estatuto da Igualdade Racial – com artigos garantidores não apenas dos avanços na área educacional, mas também dos direitos das comunidades-terreiros. São avanços que podem contribuir efetivamente para que todos que protagonizaram a história do Ilê Opô Afonjá integrem-se já neste século XXI e nos vindouros, às páginas que registram a História Oficial da Nação Brasileira.

Veja e as “ditaduras africanas”

Na edição de 14 de julho em reportagem sobre a recente viagem do Presidente Lula a África, a revista “Veja” assume de forma clara o papel de cão de guarda dos EUA no que considera “reserva territorial” americana, a África.

O preconceito racista escravocrata contra países pobres do continente negro que, generalizando, chama de “ditaduras” é evidente. “Veja” ainda demonstra contrariedade com a objetividade e eficiência da diplomacia brasileira. Contra uma política externa independente, cujo “mérito dos fins diplomáticos” tem sido oposto à política de big stick americana, mas que não impediu que o Presidente Barak Obama dissesse que o Presidente Lula é “o Cara”, para desventura de “Veja”.

As “ditaduras africanas” das quais “Veja” “acusa” o Presidente Lula de ser amigo são todos os países com os quais, segundo ela, só os EUA podem se relacionar e manter como mercados cativos para suas multinacionais sugarem riquezas como petróleo e diamantes. E além disso, obter lucros adicionais exorbitantes com a venda de produtos industrializados, sobretudo armas. Enquanto a África continua abandonada padecendo da miséria, da fome e de doenças do subdesenvolvimento, escravizada pela política predatória dos monopólios.

Os EUA mantêm inúmeras bases militares em vários países africanos e um comando militar especial no oeste da África. Base de apoio que utiliza para trafegar soldados e armas de um a outro país com o objetivo de garantir seus interesses econômicos e políticos nas guerras tribais. Guerras que fomentam através de ONGs, “missões humanitárias” e “religiosas” que espalham por todo o continente.

Não há nada que determine que a África seja propriedade privada dos EUA e que o Brasil não tenha que cultivar e desenvolver relações políticas e econômicas autônomas com os africanos, como aliás, muito justamente tem sido feito desde que Lula assumiu a presidência.

Em respeito e em reconhecimento à África, em defesa dos interesses do Brasil, Lula tem se empenhado em que o país seja, cada vez mais, amigo e parceiro das nações africanas e, nesse sentido, desde 2003 visitou quase todos os países do continente. África do Sul, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Nigéria, Argélia, Burkina Faso, Congo, Benin, Botsuana, São Tomé e Príncipe, Namíbia, Egito, Líbia, Gabão, Camarões, Gana, Guiné Bissau, Senegal, Quênia, Guiné Equatorial, Tanzânia, Zâmbia são alguns deles.

Com todos esses países, graças à ação irretocável, firme e serena do Chanceler Celso Amorim - que não se indispôs com os EUA mas também não considerou a África “reserva de mercado” dos EUA - o Brasil foi até lá, ampliou a amizade, a cooperação bilateral em vários e diferentes níveis, estimulou as políticas de paz e o comercio internacional ampliando a pauta das exportações brasileiras.

Inconformada com a força moral do governo Lula e com o respeito e a credibilidade que o Brasil tem merecido do conjunto das nações, “Veja” evoca bandidos guzano-cubanos financiados pela CIA para fazer greve de fome e gerar factoides no “palco da globalização” para alimentar a cruzada que os monopólios de mídia realizam contra Cuba há 50 anos e, de tabela, atacar Lula e o Brasil. A revistinha não admite que a diplomacia brasileira não se submeta à farsa que ela repercute.

Seria imoral atender os latidos de “Veja”, e desconsiderar os interesses do Brasil. Já passou o tempo em que um FHC submisso diante dos interesses imperialistas e arrogante diante dos mais fracos e mais pobres envergonhava o Brasil. Tempos ruins a que hoje “Veja” e seu candidato Serra – que há poucos dias atacou a Bolívia e o MERCOSUL - tentam retroceder inutilmente. “Veja” está contra o Brasil. Mas, o que é bom para “Veja” não é bom para o Brasil.

Lula: “não sou homem de duas caras, Dilma é minha candidata”

Multidão parou o Centro do Rio para ouvir Lula, Dilma e Cabral. Presidente repele tentativa de calá-lo


O presidente Lula denunciou para os milhares de participantes do comício da Dilma e Sérgio Cabral, realizado na Cinelândia, no Centro do Rio, na última sexta-feira, que os adversários querem que ele finja não conhecer a sua ex-ministra da Casa Civil e coordenadora dos principais programas do governo federal. “Há uma premeditação de me tirarem da campanha política para não permitir que eu ajude a companheira Dilma a ser a presidente da República desse país”, afirmou o presidente.

“Na verdade o que eles querem é me inibir para eu fingir que não conheço a Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela... tem uma procuradora qualquer aí... eles querem é me inibir, para eu fingir que não conheço a Dilma, para que eu passe por ela e vire o rosto. Mas não sou homem de duas caras. Ela é a minha candidata. Vou dizer que a minha companheira Dilma, que foi chefe da Casa Civil, está preparada para ocupar a Presidência da República desse país”, destacou, enquanto apertava fortemente as mãos da candidata.

O recado do presidente, de que ninguém vai calá-lo nesta campanha, foi uma resposta às declarações absurdas feitas por uma vice do Ministério Público que deveria cumprir sua obrigação e garantir a lisura do pleito, mas, ao contrário disso, tenta impedir o presidente de externar suas opiniões políticas.

A vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, pediu as fitas do ato de lançamento do edital do trem bala, ocorrido há alguns dias, em Brasília, porque Lula teria feito na ocasião referência ao papel de Dilma, quando ela esteve na Casa Civil, para garantir o sucesso do projeto.

Além disso, a vice-procuradora fez o comentário de que “o PSDB tem demonstrado mais zelo e respeito à Lei Eleitoral do que o PT”. Com essa visão superimparcial, não é de estranhar que muitas violações dos tucanos contra a Lei tenham passadas “despercebidas” pela procuradora. Além do mais, ela não tem que comentar nada. Tem que fiscalizar. Não satisfeita, ela disse que o presidente Lula não consegue “ficar de boca calada”. A mesma procuradora que diz essas coisas sobre o presidente, finge não ver Serra participando ilegalmente de programas de outros partidos que não o seu, além dos elogios do governador de São Paulo, Alberto Goldman, feitos em solenidades oficiais, ao candidato tucano. “São dois pesos e duas medidas”, denunciou Dilma.

Mas, apesar das tentativas de tirá-lo da campanha, Lula deixou claro para todo o povo brasileiro no comício que não vai ficar calado. Ele vai mesmo é para as ruas, fazer a campanha de Dilma. Debaixo de chuva, e sem que o povo arredasse o pé da praça, Lula prosseguiu: “Ao indicá-la para ser a futura presidente, estou indicando uma pessoa que eu colocaria minhas duas mãos no fogo, a minha alma em jogo”. “Sei da competência e da honestidade, do compromisso e do sofrimento dela. Esta mulher com cara de anjo já foi torturada e tomou choque elétrico. Mas ela não guarda mágoa. Ela não quer viver o passado. Ela quer construir o futuro do Brasil”, prosseguiu Lula, arrancando aplausos da multidão.

A gigantesca caminhada da Candelária à Cinelândia organizada pela coligação “Para o Brasil Seguir Mudando” reuniu as principais lideranças políticas do estado e agitou o centro do Rio. Para os organizadores, cerca de 40 mil pessoas participaram da marcha pelo Centro da cidade, região que foi palco de grandes manifestações pelas Diretas Já, em 1984.

No comício, na Cinelândia, Lula afirmou que a sua amizade por Dilma é recente. “Vou dizer do fundo da minha alma: não tinha amizade por essa mulher até pouco tempo antes de entrar na Presidência”. “Ela ganhou a minha confiança. Ao indicar a Dilma é como se eu colocasse as minhas duas mãos no fogo”, disse o presidente. “Dilminha”, falou o presidente, dirigindo-se à candidata, “eu tenho a convicção de que o Brasil precisa de você e que você pode ajudar o Brasil”. “Olé, olé, olá...Dilma, Dilma!”, gritavam os presentes.

Quando a chuva apertou, Lula disse que não era o mau tempo que o impediria de pedir votos para Dilma Rousseff e o candidato ao governo estadual, Sérgio Cabral. “Eu acho que a primeira vez a gente nunca esquece e essa é a primeira vez que a gente vem fazer a campanha da Dilma e do Sérgio Cabral no Rio e não há chuva que me tirasse de estar aqui nessa praça para poder conversar com vocês”, afirmou. “Certamente sairei daqui tão molhado como vocês. Mas, sairei convencido de que me dirigi a uma parte do povo brasileiro para que a gente não permita que nenhum retrocesso aconteça nos próximos anos”, afirmou Lula, sob intensos aplausos da população presente.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, agradeceu a todos e fez uma conclamação. “Por isso, Dilma, nós vamos continuar juntos, avançando, fazendo do Brasil um país mais justo, fazendo do Rio de Janeiro um estado mais justo”.

Participaram do comício, além do presidente Lula e da candidata Dilma Rousseff, o candidato a vice, deputado Michel Temer (PMDB), o governador e candidato a reeleição, Sérgio Cabral (PMDB), o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), o ex-prefeito de Nova Iguaçu, e candidato ao Senado, Lindberg Farias (PT), além de centenas de lideranças políticas, prefeitos do interior do estado, parlamentares e candidatos de todos os partidos que compõem a coligação.

Comenta-se que os repórteres da “Folha de S. Paulo” que foram designados para cobrir o comício no Rio de Janeiro devem ter se perdido e não conseguiram chegar à tempo na Cinelândia. Não sabiam que o melhor caminho para o centro da cidade é descer no Aeroporto Santos Dumont e não no Galeão. Resultado: pegaram a Linha Vermelha e devem ter sido parados nas blitz de bafômetro que vêm sendo feitas por lá. Demoraram para convencer os policiais que não estavam bêbados. Aí, chegaram atrasados. Só viram mil pessoas na Cinelândia. A “Folha”, que não conhece bem o Rio, acreditou nos retardatários e repetiu a barriga, na capa e em outras duas matérias internas. O Frias não teve tempo de checar as informações. Devia estar ocupado, fabricando números para mais uma pesquisa de seu instituto, o DataFolha.

para ver diferente as 43 ilhas de Belém na paisagem cultural do Pará

Ilhas tapuias

Um olhar antropoético da cidade morena de frente para o Rio Mar dirá que a velha “Cidade do Pará” cresceu de costas para o rio que a pariu e que, na Amazônia, o estado precedeu a sociedade. Ou não... Caso a democracia dos trabalhadores, levada às últimas consequências, venha a revogar completamente a jurisprudência caduca de Ginés Sepúlveda contra o indianismo de Las Casas, a célebre polêmica da corte de Valladolid, para no século XXI dar espaço ao índio e ao negro na República Federativa do Brasil onde deveriam estar desde as origens: assim, o direito territorial fundamental do bravo Povo Brasileiro há de estar mais seguro do que nunca no país do Futuro.

A história da Amazônia, então, começaria muito mais cedo nos compêndios escolares do que pinta a medo a teoria do segredo, na historiografia colonial luso-brasileira oficial; e a pré-história recuará para além do ano 400 da era cristã até 10 mil anos a.C., tal qual como a ciência do Homem amazônico informa nos círculos acadêmicos, a ser, enfim, popularizada e divulgada mundo afora.

Coincidência formidável: no velho mundo a civilização greco-romana entrava em declínio quando ao mesmo tempo, no Novo Mundo, foz do Amazonas; a civilização neotropical nascia na Ilha do Marajó sob alvoradas majestosas desde o fundo imaginário do rio Aracy, Ilha do Sol, Baía do Sol e as luzes aquáticas de Icoaracy, donde mais tarde o andejo guerreiro Tupinambá chegaria para contemplar à distância o mítico “Araquiçaua” como um chamado da utopia selvagem a incitar a travessia do grande mar de água doce, como um destino imperioso e inevitável coroado por ritos antropofágicos... Cadê o cinema nacional que anda cego (que nem no “Sermão aos Peixes” do padre Antônio Vieira) para este feito épico desconhecido?

A sociedade amazônica original terá começado, então, antes do estado-colônia com a primeira cultura complexa na ilha do Marajó, obra da necessidade e do acaso por mãos anônimas de pescadores de gapuia. A partir do primeiro teso (aterro artificial) da célebre Cultura Marajoara, há mais de mil anos antes da primeira viagem de Cristóvão Colombo a América.

Também no Ver O Peso a academia do peixe frito a dissertar acerca do folclore de São Benedito da Praia poderá, eventualmente, cogitar sobre a viagem do rei do Mali, Mansa Mussa, o qual em 1324 peregrinou a Meca e fez estada no Egito onde chegou com 60 mil carregadores levando cada um três quilos de ouro, ou seja, 180 toneladas. Uma verdadeira inflação na corte dos faraós. Vem daí o relato sobre expedição de seu predecessor Abu Bakar II, que teria entrado ao mar com dois mil caiaques decidido a encontrar um caminho marítimo para Meca. A flotilha saiu de porto do Senegal e nunca mais houve notícia dela... Acredita-se que o rei negro foi arrastado pela corrente equatorial marítima e, acidentalmente, atravessou o Oceano. Existem versões árabes de que o imperador mandinga teria chegado ao continente americano mais de um século e meio antes de Colombo.

Consta que duzentos dos remadores que exploravam o caminho para o rei chegaram à foz do Amazonas e foram tragados pela Pororoca. Exceto dois deles que conseguiram retornar e avisar o rei, tendo este prosseguido com a flotilha e passado pelas bocas do Drago (delta do Orenoco) levado pela corrente das Guianas até girar para as Antilhas. Mais tarde, marinheiros de Colombo teriam se admirado da existência de estranhos “índios negros” no Haiti usando lanças com ponta de cobre...

Claro, só se ama o que se conhece. Os brasileiros devem conhecer mais a Amazônia que lhes pertence e amazonizar o Brasil do porvir. No ano de 1494, em Tordesilhas, os reis de Espanha e Portugal brigavam pela partilha do mundo achado e por achar... Sem saber eles estavam afetando o destino de muitos povos distantes e a desatar a brutal corrida de destruição das Índias. A famosa “linha”, de polo a polo no mapa-múndi cortaria o Brasil numa nesga de terra costeira passando ao sul sobre Laguna (SC) e ao norte sobre Belém (PA). Portanto, a grande boca do Rio Mar de água doce se repartia em duas bandas: pelo acordo ibérico a margem direita do Pará a Portugal até o Mar-Oceano; pelo lado do arquipélago do Marajó para oeste até o Peru era tudo patrimônio dos Reis Católicos, por homologação de bula do papa Alexandre VI (Rodrigo Bórgia)... Não combinaram com os índios do Pará e a história acabou sendo outra, como agora se sabe.

Pois bem, do Ver O Peso quem souber ver com os olhos da história compreenderá que não foi pouco o feito daqueles mamelucos do Nordeste à frente da massagada tupinambá de arco e remo a levar milites portugueses mato adentro à conquista das Amazonas... Que resistência invencível aquelas ilhas que aparecem ao fundo da baia ofereceram ao passo audaz do conquistador! Quem sabe agora, pelos bares e lares da cidade, a ouvir a Voz do Brasil com os acordes de o “Guarani” desperte nesta gente curiosidade em saber a velha história da pátria diante da pressa do asfalto e a surdez dos arranha-céus?

José Saramago teve razão ao dizer que é o presente que explica o passado e não o contrário. O historiador José Honório Rodrigues, mais ainda, na “Teoria da História do Brasil”, ao defender o olhar das gerações presentes como marco que esclarece – com o progresso da Ciência – o obscuro fato histórico esquecido e velado pelo manto do tempo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

sou negro e sou de axé!

No próximo mês de agosto, a população brasileira dos 5.565 municípios estará recebendo recenseadores e recenseadoras para o levantamento demográfico que desde o primeiro censo, em 1872, com 643 municípios, se mostrou como importante fonte de dados.
Sabemos do valor das informações coletadas para acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e a evolução das características da população e como elementos importantes para definição de políticas públicas em nível nacional, estadual e municipal, bem como para a tomada de decisões na iniciativa privada, incluindo, atualmente (para algumas), as ações de responsabilidade social.
Foi no censo de 1872 que, pela primeira vez, o conjunto da população era compreendido oficialmente em termos raciais, base para o estabelecimento de novas diferenças entre os grupos sociais. Diferenças ainda longe das concepções hierarquizantes e poligenistas que se acercariam da noção de raça, anos mais tarde.
Naquele momento, tratava-se de conhecer uma população de ex-escravizados que começava a exceder cada vez mais o número dos ainda escravizados. E esta diferença era possível na medida em que a instituição escravista tinha perdido a legitimidade devido à ação de grupos abolicionistas ou mesmo por meio das consequências da abolição do tráfico (1850) ou das leis posteriores que prometiam, apesar de gradual, a abolição da escravidão: a lei do ventre livre (1871), depois a lei dos sexagenários (1885), seguida da proibição dos açoites (1886) .
É muito importante anotar que a noção de “cor”, herdada do período colonial, não designava, preferencialmente, matrizes de pigmentação ou níveis diferentes de mestiçagem, mas buscava definir lugares sociais, nos quais etnia e condição social estavam indissociavelmente ligadas.
O novo Movimento Negro, surgido nos anos 1970, enfrentou a falácia da “democracia racial” entendendo que a o quesito “cor” era determinante do lugar social da população negra. Esse conhecimento, sustentado por militantes e pensadores na área das ciências humanas e sociais (incluindo a economia e a estatística), levou a uma campanha, em nível nacional, para o censo de 1991: “Não deixe sua cor passar em branco”.
Se fizermos uma breve retrospectiva do quesito “raça” / “cor” nos censos do País, não é difícil compreender a necessidade dessa campanha por parte do Movimento Negro:
1 - o quesito “raça” foi pesquisado nos censos de 1872 e de 1890;
2 - foi suprimido em 1900 e 1920;
3 - o quesito retorna em 1940, sob o rótulo de “cor”;
4 - em 1970, o questionário não contemplou o quesito “cor”;
5 - em 1980, o quesito volta a aparecer;
6 - em 1991 o quesito “cor” está presente, incorporando a (nova) categoria “indígenas e amarelos”;
7 - o censo de 2000 admitiu “raça e cor” como sinônimos, compondo uma única categoria (“cor ou raça”).
A força da campanha do Movimento Negro tinha ainda maior razão! Além da invisibilidade da população negra, pela falácia da “democracia racial”, o quesito “cor”, respondido apenas no Questionário Amostra, tangenciava uma população já impregnada pelo não lugar do ser negro, colocado sempre no lugar de 2ª classe!
“Não deixe sua cor passar em branco!” cobriu o censo de 1991 e foi reprisada no censo de 2000, com o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada; ao mesmo tempo em que era um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento do país por meio da instituição de uma hierarquia cromática e de fenótipos que têm na base o negro retinto e no topo o ‘‘branco da terra'', oferecendo aos intermediários o benefício simbólico de estarem mais próximos do ideal humano, o branco.
Apesar de, neste novo censo de 2010, o quesito “cor ou raça” sair do Questionário da Amostra e passar a ser investigado também no Questionário Básico, cobrindo toda a população recenseada , ainda há um longo caminho da superação do racismo para que todos e todas respondam pela dignidade e pelo reforço da auto-estima de pertencerem a um grupo étnico que só tem feito contribuir eficiente e eficazmente para o desenvolvimento do País.
Ao contrário do que propõe as “assertivas” de exclusão, a identificação da população negra se faz necessária sempre e a cada vez para que se constate em números (como gosta o parâmetro científico) o racismo histórico que ainda está perpetrado sobre a população negra. Só depois que alcançarmos a liberdade de fato é que as anotações étnicas passarão a ser fatores que dizem respeito exclusivamente à cultura. Enquanto estivermos, como estamos hoje – após 122 anos da abolição da escravatura – vivendo uma abolição não conclusa, precisaremos reafirmar nossa etnia do ponto de vista político; econômico; habitacional; na área da saúde; na área da educação; nas condições de supressão da liberdade que não se dá apenas aos presidiários, mas a pais e mães que clamam por políticas para garantir que seus filhos e filhas possam crescer com dignidade e sem ameaças.
A proposta do IBGE de tirar a “fotografia” mais nítida o possível do Brasil, ainda está longe de ser alcançada!
E a luta do povo negro não termina! O racismo é tão implacável que, a cada etapa alcançada, um novo desafio se apresenta!
Para este ano, novamente o Movimento Negro está em campanha, em nível nacional! E, agora, é para que todos aqueles que são adeptos das Religiões de Matrizes Africanas respondam sem qualquer dissimulação: “Quem é de Axé diz que é!”
O quesito “religião ou culto” continua no Questionário de Amostra e tem campo aberto para que o recenseador ou a recenseadora anote a “religião ou culto” declarado pelo cidadão, pela cidadã.
Tanto no quesito “cor ou raça” para todos (no Questionário Básico); quanto no quesito “religião ou culto” para alguns que responderão o Questionário Amostra, a população negra e seus descendentes estão conscientes de que suas palavras precisam ser firmes e que devem estar atentos para que a anotação seja feita sem qualquer margem de erro em relação ao que declarou.
Já se justificou essa omissão do quesito “cor” por um possível empenho do regime republicano brasileiro em apagar a memória da escravidão. Entretanto, parte da explicação pode vir do incômodo causado pela constatação de que nossa população era marcada e crescentemente mestiça, enquanto as teses explicativas do Brasil apontavam para os limites que essa realidade colocava à realização de um ideal de civilização e progresso.
Não temos qualquer dúvida de que a resistência em tratar de raça-cor e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas. Não dissimular a declaração de adepto ou adepta das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer.
A poligenia está superada! As evidências de que a humanidade surgiu no continente africano são cada vez em maior número e com rigor científico sempre mais acurado. O conceito de raça não tem o menor sentido, dizem nossos opositores, no afã de jamais ceder o lugar histórico de conforto a que estão acostumados! Enquanto não repararmos o estrago que o uso histórico do conceito fez a cidadãos e cidadãs que hoje são em mais de 50% da população, qualquer discussão conceitual será apenas a má retórica que tenta persuadir para continuar reinando.
Por isso,
Não vamos deixar nossa cor passar em branco!
E vamos dizer que somos de Axé!
“Quem é de Axé diz que é!”

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Os Dez Mandamentos do bom professor

Esses mandamentos foram construídos para o professor do Ensino Básico brasileiro (caso ele ganhasse, no mínimo, 21 reais a hora aula)

1. Ter o domínio do que pretende que seja aprendido. Há um ditado popular que diz “que quem não sabe ensina”. O bom professor prova que esse ditado está errado, só quem realmente sabe, ensina de modo efetivo a ponto do aprendizado ser completo. O aprendizado se dá não se o estudante sabe repetir enunciados sobre o que ouviu, mas se, de acordo com os conteúdos que foram ensinados, opera com eles em sua vida por meio de comportamentos e hábitos que passa a ter, e que antes não tinha.

2. Ter a capacidade de se colocar no lugar do aluno, ouvindo-o e levando-o a sério. Muitos adultos, pais e professores fazem “café com leite” das crianças. Jogam com eles através de artifícios. Esses artifícios começam cedo, quando elas são pequeninas (deixando-as ganhar em jogo que elas não entendem etc.) e, depois, erradamente, se mantém na escola. Eis então que toda a arte da conversação se torna falsa e mais falsa ainda quando a didática é artificial. O aluno percebe logo que esses adultos vivem na artificialidade e, então, identificam também no professor e na escola essa situação “de brincadeirinha”, ele ou se revolta ou se adapta de modo pouco produtivo ou aparentemente produtivo.

3. Saber convencer. O bom professor é alguém que “vende o seu peixe” ou “ganha o aluno para o seu negócio”. Não se ensina por meio de frases doutrinárias ou textos excessivamente posicionados que se negam a oferecer boas razões do que defendem. A conversação em sala de aula é um “dar e receber razões”. O professor é uma pessoa persuasiva ou não é professor. Mas a persuasão do professor não é qualquer uma, ela é feita por mostrar razões e ele ensina por meio de solicitar razões.

4. Ser razoável. Uma das coisas mais difíceis para o professor é ser razoável. Em geral ele ou cria situações que são impossíveis do aluno cumprir, que ele próprio, professor, não conseguiu e não conseguiria cumprir em situação normal, ou então ele adota a postura de “passar a mão na cabeça”, tomando os alunos como incapazes e facilitando o serviço deles para além da conta. Na sala de aula o professor faz o jogo de “dar e pedir razões” quanto ao conteúdo, mas na postura geral quanto aos alunos vale sua capacidade de ponderar, perante si mesmo, se ele realmente é uma pessoa razoável ou apenas alguém inconseqüente.

5. Ter grande percepção de si mesmo. O bom professor é um analista de si mesmo. Estou bem vestido para ir dar aula? Minha voz é boa? Estou atento aos alunos ou sou desleixado? Sou capaz de admitir quando erro? Gosto da atividade de professor? Tenho capacidade de não me deixar levar por impulsos meus, e inclusive por complexos psicológicos? Tenho mesmo a capacidade de ajudar os alunos ou sempre acho que há algum caçoando de mim, e quero prejudicá-lo. Trabalho antes por vingança contra aluno que por entender que faço parte de um grupo de elite que é “formador de opinião”? O professor que não consegue ser sincero para si mesmo diante dessas perguntas, que não consegue se preparar com isso, nunca será um bom professor. Preparar a aula é, antes de tudo, preparar a si mesmo.

6. Ter capacidade de compreender a profissão. O bom professor conhece a dimensão pedagógica, política e sindical de sua profissão. Na dimensão pedagógica, ele é alguém que não se admite despreparado para uma aula. Se não sabe, busca aprender. Na dimensão política, ele sabe que é um cidadão com o qual a sociedade conta como mais qualificado que outros, que é dele que se espera a vinda das idéias para as melhores mudanças. Na dimensão sindical ele mostra conhecer a legislação que rege o ensino e também a que rege a sua própria carreira. Está sempre pronto para atuar na articulação entre necessidades sindicais e necessidades pedagógicas. Não é bom professor aquele que nunca leu um bom manual de filosofia e história da educação brasileira.

7. Ser um leitor consciente. O bom professor não tira a cópia Xerox e nem incentiva o Xerox que, aliás, é crime. Ele valoriza o livro, educa seus alunos para terem uma mini-biblioteca, a freqüentarem livrarias presenciais ou virtuais. Fomenta o gosto pela leitura e, principalmente, ensina seus alunos a ler no sentido da ampliação do texto, não no sentido do “fichamento” ou “resumo”. Ele próprio é um leitor atento para todas as variáveis do texto, para o autor, jamais opinando somente porque leu o título ou fazendo do texto um pretexto para falar sobre outro assunto que não aquele que diz comentar. O professor de “cabeça cheia”, ou seja, aquele que só tem uma idéia e tudo que lê absorve segundo aquela idéia, gerará alunos frustrados ou então alunos limitados como ele.

8. Ser um desbravador criativo. Alunos são crateras ferventes, em vários níveis. Na adolescência, o vulcão entra em erupção. O professor não deve temer isso. Ele também foi criança e jovem. Não pode temer o seu passado. Deve compreender suas angústias e verificar se conseguiu superá-las. Caso tenha conseguido, poderá indicar caminhos para os alunos. Caso não tenha conseguido, deve se precaver para não perder o auto-controle diante dos problemas dos alunos que, enfim, o fazem lembrar que ele também não superou sua adolescência. Em um determinado nível, nunca somos adultos. No entanto, como professores, devemos saber quando é que o problema do aluno é o nosso, e como que não podemos nos perder nessa possível confusão. A conversa com os jovens fora da sala de aula, tentando compreendê-los, pode manter a profissão em seu exercício possível, diário, difícil, às vezes até perigoso. Entrar em novos campos exige capacidade criativa. Enfrentar a vida é para quem tem imaginação.

9. Ser capaz de fazer do aprendizado uma tarefa coletiva e desafiadora. A pior situação que o professor pode criar é aquela em que ele não consegue mostrar que os problemas que irá tentar resolver em sala de aula, durante o ano letivo, não são só dele ou “da escola” ou “para cumprir etapa”. Os problemas são problemas de todos. São desafios que devem ser postos para toda a classe que o professor tem diante de si e para ele mesmo. Posto um problema, o professor deve convidar os alunos a enfrentá-lo junto com ele, pois se trata de um problema de todos – real problema de todos. Ninguém escapa de problemas que se universalizam e que, por isso, são também particulares, que estão acontecendo com cada um de nós. Compreendido isso, então o problema ou “a matéria” se torna um desafio interessante e válido para o estudante. Do mesmo modo que ela o é para o professor – ou deveria ser.

10. Ser curioso. O professor é curioso ou não é nem nunca será professor. O professor que toma o assunto que irá ensinar não problemático, sem algo que desperte sua curiosidade e, então, seja capaz de aguçar a curiosidade do aluno, inclusive sua imaginação, não tem qualquer habilidade para ser professor. Deve desistir.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

TSE julga improcedente representação contra Dilma por propaganda antecipada

O ministro auxiliar Joelson Dias, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), julgou improcedente a representação contra a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, por propaganda eleitoral fora de época.

O Ministério Público Eleitoral pedia multa a Dilma por suposta propaganda antecipada feita em entrevista concedida, no dia 7 de abril, ao programa "Rádio Vivo", da rádio Itatiaia, em Belo Horizonte (MG).

Segundo a ação, Dilma mencionou na entrevista as eleições deste ano, com exposição de sua candidatura e da plataforma de governo, além de realizar comparações entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do qual seu adversário José Serra (PSDB) atuou como ministro.

Dias considerou a representação improcedente por não verificar a ocorrência de propaganda antecipada supostamente feita por Dilma na entrevista.

Segundo o ministro, pela mídia e degravação da entrevista, que acompanharam o processo, "não houve pedido expresso de votos durante a referida entrevista, tendo a representada [Dilma Rousseff] limitado-se à exposição de sua plataforma e projetos políticos".

Ele também não identificou nos autos a suposta propaganda negativa que Dilma teria feito de Serra. "No caso específico dos autos, no entanto, tenho que a representada não chegou necessariamente [na entrevista] a comparar as suas realizações com as de seu adversário político específico, o então também pré-candidato José Serra, nem a formular propriamente crítica à sua conduta."

Eleição em 18 Estados pode ser definida em primeiro turno

Pesquisas disponíveis em 23 Estados e no Distrito Federal indicam que 18 disputas a governador podem ser definidas no 1º turno.

Também em 18 unidades da Federação há candidatos competitivos --que estão em primeiro lugar ou com chance de ir ao segundo turno-- representando as forças políticas que já estão no poder.

O Estado recordista da longevidade de um mesmo grupo no governo é São Paulo. Desde 1994 o PSDB ganha seguidamente as eleições. Não há equivalente em nenhuma outra região do país.

Os mapas do Brasil multicoloridos no topo da página indicam quais partidos venceram nos Estados em todas as eleições desde 1994. Foi nesse ano que presidente, governadores, deputados e senadores passaram a ser escolhidos na mesma data. Exceto por São Paulo, nenhum dos Estados nem o DF estão pintados apenas de uma cor.

Estados do Nordeste, em geral tidos como redutos de coronelismo político, tiveram alternância de poder. A Bahia, dominada historicamente por políticos ligados ao DEM (antigo PFL), foi conquistada pelo PT em 2006.

Agora, se vencer neste ano em São Paulo, o PSDB registrará um novo recorde: a chance de ficar 20 anos no poder. No momento, o candidato tucano ao Bandeirantes, Geraldo Alckmin, lidera as pesquisas --podendo encerrar a disputa no 1º turno.

O contraponto ao PSDB em termos de longevidade é o PT no Estado do Acre. Os petistas venceram todas as eleições desde 1998. Neste ano, o partido continua competitivo, com o senador Tião Viana à frente nas pesquisas.

CONTINUIDADE

As pesquisas listadas na tabela desta página mostram apenas a linha de largada da eleição deste ano. Feita a ressalva, se a tendência for mantida, não haverá grandes alterações na composição geral de número de governadores por sigla em 2011.

O PT, por exemplo, já governa hoje quatro Estados (Acre, Bahia, Pará e Sergipe). Em todos esses há petistas competitivos. O partido também tem Tarso Genro em primeiro no Rio Grande do Sul.

O PSDB governa no momento seis Estados (Alagoas, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina e São Paulo). Não há pesquisa disponível sobre Alagoas. Nos cinco restantes, os tucanos são competitivos em Minas, Roraima e São Paulo. Em Santa Catarina, decidiu não ter candidato próprio.

O PMDB, que hoje governa nove Estados, tem chances em ao menos oito localidades. O DEM, que não governa nenhum Estado, é favorito só no Rio Grande do Norte.

Brasil deve crescer pelo menos 7% em 2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar certo que o Brasil deve crescer a índices não inferiores a 7% em 2010. A declaração do persidente foi durante a 4ª Cúpula Brasil-União Europeia que ocorre em Brasília. Lula afirmou ainda que o País deve gerar mais de 2,5 milhões de empregos formais até o final do ano.

"Preferimos confiar em políticas anticíclicas de fomento ao crescimento em uma regulação bancária eficaz e bancos públicos robustos e no mercado interno pujante. Isso fez a diferença. Em 2010, projetamos um crescimento da economia brasileira não inferior a 7% e a geração de 2,5 milhões de empregos formais".

Ao lado do presidente da Comissão da Europeia, José Manuel Barroso, e do presidente do Conselho Europeu, Herman von Rompuy, Lula voltou a fazer críticas ao protecionismo da União Europeia na adoção de medidas que dificultam a entrada de estrangeiros nos países do bloco.

"Insistir no protecionismo e criminalizar a emigração só agrava essa situação. A porta do Brasil para responder a crise foi outra: no momento em que a crise ceifava os empregos no País não hesitamos em regularizar a situação de dezenas de milhares de imigrantes. Fomos e continuaremos a ser um país aberto e solidário àqueles que vêm procurar no Brasil trabalho digno e uma vida melhor".

terça-feira, 13 de julho de 2010

As Águas de Oxalá

“As Águas de Oxalá” é um dos rituais mais eloqüentes e belos da tradição do Candomblé. Oxalá é o grande orixá, o Orixá Funfun (pureza), que representa a paz, a água, a harmonia, a criação dos seres humanos. Cultuado em todas as ”Nações“ de matriz africana, Oxalá traz a essência e o poder da fertilização. A significação da Oferenda denominada de ”Águas de Oxalá“ está pautada no dinamismo da renovação, da purificação e da preparação da Terra e dos homens para a semeadura em espaços férteis de procriação através do poder que a água veicula. A mudança entre o passado e o presente que se afirma, sem perder o elo de ligação. Poderia ser comparada como o renascer de um novo ano, de uma nova fase, de uma nova era. Onde todos os seres, todas as energias estão receptivas paras as inovações numa reflexão critica das necessidades de mudanças de comportamentais das relações universais em toda a sua amplitude, seja social, econômica, ecológica etc. visando sempre o equilíbrio necessário para a eternização do todo. A água é um dos elementos de grande importância de manutenção e preservação do axé. A água é um dos veículos de transporte do axé, a força mágica sagrada que permite as mudanças e transformações rumo ao equilíbrio dinâmico do universo.

Às ”Águas de Oxalá“ remonta uma das parábolas de tantas outras da Visão de Mundo de tradição africana, visão esta que é originária de uma cultura tradicional e religiosa, rica de ensinamentos e proposições bem elaboradas e bem definidas num contexto próprio, embora na sua tradução não fere princípios diferentes de outros povos. É sempre pensada no coletivo e na diversidade de todas as sociedades. Aprendi com o meu mentor espiritual, ou melhor, meu Babalorixá Paulinho de Oxossi, quando fizemos as primeiras cerimônias das ”Águas de Oxalá“, em Belém do Pará, no Ilé Axé Iya Omi Ofa Karé, nos idos do ano de 1987 o seguinte Itan (historias dos povos africanos, parábolas, Mitologia etc)”.

Oxalá tivera um sonho com Xangô e como este era um dos seus filhos mais querido, ficou muito preocupado, pois não conseguia ficar sem pensar no seu filho. Há muito tempo que Oxalá não tinha contato com Xangô e já que o fato o instigava, resolveu visitá-lo. Porém, antes da viagem foi consultar o Orunmilá, o Oluô, o Senhor do destino, o grande conhecedor do futuro, para fazer uma consulta e contar do ocorrido, além da grande saudade que sentia do seu filho. Orunmilá, grande amigo de Oxalá, observando a conformação dos seus ikins (elementos da adivinhação, búzios, caroços de dendê, nozes de cola, sementes consagradas); após jogá-los no seu opere (espécie de peneira ou tábua onde se joga os ikins), disse para Oxalá:
-Não é um bom momento para o senhor viajar, vejo muitas dificuldades e problemas durante o seu percurso. Muitas coisas poderão acontecer durante a sua caminhada.
Oxalá respondeu:
-Orunmilá, eu preciso muito conversar com Xangô, sei que ele enfrentará uma grande batalha e tenho que ajudá-lo. No seu reino tem muita discórdia e dias difíceis virão.
Orunmilá respondeu:
-O Senhor pode ir sim. Desde que faça algumas oferendas (ebós) para garantir a sua chegada em paz, vão ter problemas sim, mas vamos amenizá-los. Primeiro o senhor terá que preparar 03 peças de roupas brancas e durante a sua viagem não poderá conversar com ninguém e evitará ficar com as roupas suja. O seu silêncio só cessará quando o senhor encontrar com Xangô, além de evitar que as suas roupas fiquem sujas, repito: evite falar com as pessoas e jamais se desvie do caminho para que possas chegar em paz. O senhor só poderá conversar com Xangô quando chegar no seu destino.

Oxalá, após fazer as Oferendas indicadas por Orunmilá, vestiu-se com a primeira roupa, colocou as outras duas em um saco e começou a sua caminhada rumo a Oió (Terra do reino de Xangô), sustentado com o seu Opaxoro (Cajado sagrado).
Exu, o Orixá da palavra, a boca que tudo come, o transportador do ebó, resolveu testar Oxalá, para observar se ele iria cumprir a risca as determinações de Orunmilá.

Na primeira peça, Exu disfarçou-se de mendigo e atravessou no momento que Oxalá passava e lhe pediu uma esmola. Oxalá que é benigno, bondoso e a todos quer ajudar ofertou um pedaço de pão e nada falou. O mendigo solicitou a Oxalá que o ajudasse a colocar um saco na sua cabeça e Oxalá prontamente o ajudou. Quando Oxalá suspendeu o saco, o fundo do mesmo estava furado e cheio de pedras de carvão, que caíram sobre as suas vestes branca, ficando toda suja de carvão. Aí, Exu começou a dar gargalhadas e desapareceu. Oxalá, pacientemente foi ao rio, tomou um banho trocou a primeira peça de roupa que estava vestido pela segunda que guardara no saco. Oferendou a peça de roupa suja no tempo.
Na segunda peça. Exu se desfaça de salineiro e quando Oxalá passa próximo ao mar ele o chama. O salineiro estava descarregando o seu barco que estava cheio de sacos de sal e como Oxalá permanecia em silêncio, convidou Oxalá para ajudá-lo. Oxalá também é piedoso e resolveu acudir aquele pobre homem que trabalhava sozinho. Ao colocar o saco sobre as costas não percebera que este estava furado e todo o sal derramou sobre as suas vestes. Banhou-se, vestiu a sua última roupa e ofertou a que estava suja de sal para as águas.
Na 3ª e última peça, Exu é um viajante que comercializa óleos comestíveis e quando Oxalá passa por perto de sua taberna, pede a Oxalá para segurar o tacho onde ele derramará o óleo. O viajante propositadamente derrama o óleo que era à base de dendê sobre Oxalá. Exu dá uma grande gargalhada e desaparece. Oxalá vai ao rio banhar-se, mas não consegue limpar a sua roupa, como já não mais dispunha de outra peça limpa para trocar, teve que se conformar com as vestes sujas.

Próximo ao reino de Xangô, já cansado de tanto caminhar, Oxalá resolve repousar um pouco próximo a um alpendre, quando, de repente, aparece um lindo cavalo branco galopando sozinho. Oxalá começa a acariciar o cavalo, que muito parecia ao cavalo que outrora tinha presenteado a Xangô. Os soldados de Oió estavam à procura do cavalo do rei, que tinha sido roubado e ao vê-lo do lado de Oxalá, prenderam o forasteiro e o levaram para as masmorras, onde o mantiveram preso.
Durante o período em que Oxalá foi mantido preso, o Reino de Xangô passou por muitas dificuldades, a terra nada produzia, os animais morriam, das árvores não brotavam mais frutos. O povo sofria de infinitas mazelas e muito pouco tinha para comer, muitos morreram de fome e de doenças. As mulheres ficaram secas, estéreis, não geravam mais filhos e a população ficou reduzida a poucos. Os homens não dialogavam mais e as guerras, constantes, destruíam Oió impiedosamente. Xangô, justo, benevolente, pulso firme e sábio não sabia mais o que fazer. Resolveu consultar um grande Oluô da região que abrir o seu Ifá (jogo de Ifá - jogo de premunição). O respeitável adivinho, disse a Xangô que todas as dificuldades e sofrimentos que tomavam conta da nação não eram em vão. Xangô tinha cometido um tremendo engano no seu reino, ao manter preso nas suas masmorras um grande ser, que viera lhe visitar para trazer boas novas de paz e amor para seu povo, para a sua terra. Vá verificar com os seus próprios olhos.

Xangô foi pessoalmente visitar as prisões, quando reconheceu que aquele velho homem que ali se encontrava era seu pai. Chorou e imediatamente o carregou em suas costas, pedindo a todos que trouxessem bastante água para que pudesse limpá-lo e purificá-lo. Aparou as suas barbas, mandou preparar as mais belas vestes brancas e o vestiu. Providenciou que fosse organizada uma grande cerimônia, onde todos deveriam estar vestidos de branco para homenagear o rei.
O povo da cidade desceu em uma majestosa procissão contemplando Oxalá que andava lentamente guiado pelo seu Opaxorò (cajado sagrado de Oxalufã) e a cada passo era ajudado pelos seus filhos, todos protegidos por um grande manto branco sagrado, chamado de alá, que cobria as suas cabeças. Após a procissão, todos retornaram para o Palácio de Xangô, que ficava numa floresta sagrada onde foi oferecido um banquete e todos tiveram que comer uma massa feita de inhame bem passada, como prova da continua comunhão que devemos ter com o divino, com a criação.

E O reino de Xangô voltou a prosperar, as terras ficaram férteis, as mulheres germinaram e as guerras cessaram. A Paz, a justiça, o amor e a verdade voltaram a se abraçar para o bem do universo.

Esta viagem de Oxalá é relembrada quando fazemos o ritual das “Água de Oxalá”. É uma tradição das principais casas da chamada Nação “Ketu” no Brasil.

Fases:

I – Construção da casa onde Oxalá irá ficar durante as obrigações. Chamada de Boloti.
II - Todos dormem na casa de axé e preparam os seus quartilhões (jarros grandes, brancos, de louça ou barro) para carregar água para Oxalá.
III – De madrugada, por volta de quatro horas da manhã, todos se acordam em silêncio, pegam os seus quartilhões e se posicionam enfileirados respeitando a hierarquia do axé.
IV – Começa a procissão, e todos, em silêncio, vão para próximo da fonte de Oxalá, onde mora uma Iyaba, para alguns chamada de Oloxá (Senhora dos lagos, das fontes) que tem fundamento com Oxum e Nanã.
V – Cantam-se alguns fundamentos do axé relacionados com as oferendas e em silencio todos os quartilhões são preenchidos com água da fonte.
VI – Cada um carregado o seu quartilhão cheio de água se dirigem em procissão em direção ao Bolonti armado na área livre do templo.
VII – Entra um por um no Bolonti e suas cabeças são lavadas com a água de seus quartilhões.
VIII – Cada um tem que completar três viagens para encher novamente os quartilhões.
IX – Toda água recolhida, com exceção, da utilizada para purificar as cabeças vão primeiramente para o espaço onde mora o Oxalá da casa de axé e depois para os outros espaços onde moram os outros Orixás. Será utilizada para fazer o Osé (limpeza e purificação dos assentamentos dos Orixás e enchimento de todos os vasilhames que comportam água).

Cerimônias:
1º Domingo - Candomble
Homenagem a Oxoguiã / Oferendas do Pilão/ Simulação de Guerra com os Atoris/ Distribuição da Massa de Inhame para todos.
2º Domingo - Candomblé
Homenagem a Oxalufã. Toque de Ibin para Oxalá, que sai com o seu Opaxorò abençoando a todos. Depois todos carregam o Alá com Oxalá embaixo conduzido pelos seus filhos.

Esta simbologia se eterniza nos princípios fundamentais que são inerentes de todos os seres, animados e inanimados. Princípios estes, que sustentam e fundamentam a necessidade da convivência com: a diversidade, a respeitabilidade, a perseverança, o amor, a paz, a harmonia, a verdade e a justiça.