segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Diversidade cultural na posse de Dilma Rousseff


Sol e chuva, calor e frio se alternavam em Brasília, mas a alegria e a emoção dos visitantes do Arena Brasil permanecia inabalável na Esplanada dos Ministérios. Cerca de 30 mil pessoas circularam pela manhã e pela tarde no espaço idealizado pela Fundação Cultural Palmares, em parceria com o Ministério da Cultura, para celebrar a posse da Presidenta da República, Dilma Rousseff.



Constituída de quatro tendas, representando as quatro macrorregiões brasileiras, a primeira edição do Arena Brasil reuniu artesanato, música e dança de todos os cantos do País - aliás, pessoas de todos os cantos do País. Braz Augusto de Menezes, por exemplo, veio de Barretos, São Paulo, para conferir a festa cívico-cultural. Enquanto não acontecia a passagem da faixa, o paulista curtia as apresentações musicais. "Está sendo uma festa maravilhosa, que faz jus à grandiosidade do momento", disse.



Já o vendedor ambulante Raimundo João, com seus dois nomes próprios, seus olhos azuis e seus 73 anos, veio da Paraíba há 33 anos e não voltou mais. No Arena Brasil, vendia bandeiras e faixas em homenagem à Presidenta, mas disse que viria de qualquer maneira, afinal, "é um momento muito importante, né?".



O presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, também participou das comemorações e fez questão de transitar por todas as tendas, conferindo as apresentações do dia. "Hoje é dia de celebração da diversidade cultural e de gênero, além, evidentemente, da cultura afro-brasileira", ressaltou.



SUDESTE - Mesmo com toda a diversidade, o Brasil, com suas dimensões continentais, consegue apresentar semelhanças, como explica a artesã Onilde Conrada, da tenda Sudeste: "O artesanato é muito parecido em todas as regiões do País. O que muda, muitas vezes, é o material". Sua parceira de vendas, Maria Joana, acrescenta: "Todas as regiões têm algo em comum, estão interligadas". Os ritmos são muitos e o País é plural, de modo que já não dá pra dizer o que é de onde.



O rap, por exemplo, com sua batida marcada e suas rimas enérgicas, característico de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi apresentado pelo grupo Brô MC's, da reserva indígena Jaguapiru, de Mato Grosso do Sul. O Arena Brasil prova que, de uma ponta a outra, o que interliga os Brasis é a arte e suas muitas manifestações.



NORTE - Reconhecida internacionalmente pela Amazônia, a região Norte chamou a atenção no Arena Brasil pela alegria de sua plateia. As cores dos figurinos, as grandes saias rodadas e os ritmos marcados podiam ser vistos e ouvidos de longe. Representantes da tribo indígena Tuxauas, da reserva Raposa Serra do Sol, de Roraima, apresentaram danças tradicionais Macuxi. "É muito bom estar aqui hoje, valorizar a nossa cultura e tudo que nosso povo sabe", disse Mestre Jaci, após sua apresentação.



SUL - Roupas, acessórios e maquiagem que lembram países europeus, mas que são bem brasileiros. Só pode ser a região Sul, que trouxe para Brasília o grupo folclórico Ucraniano-Brasileiro Vesselka e seu lúdico balé, que deixou muito brasiliense confuso. "Entrei aqui e falei: daonde é isso" Lembrei que a Região Sul é quase um País diferente, mas gostei de ver, é muito curioso", disse Regina Magalhães, nascida em Brasília, e que nunca visitou a região, mas, depois da apresentação, tem ainda mais vontade de conhecer. É o Arena Brasil apresentando o Brasil aos brasileiros.



NORDESTE - Forró, frevo e quadrilha: a animação da região Nordeste transbordava de sua tenda, colocando até o presidente Zulu Araújo para dançar. O diretor da Palmares, Elísio Lopes Jr, também não foi poupado, sendo puxado pela própria apresentadora das atrações do espaço. Casais se formavam a cada minuto, e quem entrava na tenda automaticamente começava a "balançar o esqueleto".



"O Brasil inteiro está na Esplanada hoje. Me sinto de volta à minha terra", afirmou o pernambucano João Guimarães, enquanto simulava dançar forró sozinho assim que entrou na tenda, demonstrando que diminuir a saudade da terra natal é um dos resultados do Projeto Arena Brasil.



INFANTIL - Mas os pequenos não poderiam ficar de fora da festa e contaram com uma programação toda especial. A apresentação dos bonecos do Mamulengo sem Fronteiras hipnotizou crianças e adultos, que depois dançaram e cantaram com bonecos gigantes e os pernas de pau do grupo Mamãe Taguá - ambos do Distrito Federal. Tímidas no começo, as crianças participaram das brincadeiras propostas e se encantaram com as histórias, as máscaras e os figurinos caprichados. Ana Luiza Batista, mãe de Jéssica, de 7 anos, ficou satisfeita com a programação infantil: "São histórias e brincadeiras nossas, brasileiras, que valorizam nosso povo. Nossas crianças precisam ter mais acesso a isso".



CIRANDA - Parecia uma grande brincadeira de criança, mas era a prova concreta da união do nosso povo. A consagrada cantora Lia de Itamaracá puxou uma ciranda que reuniu artistas do bumba-meu-boi, passando pelo frevo, até o samba pisado. Cirandas dentro de cirandas. Brasileiros de todas as regiões do País cantavam e dançavam de mãos dadas, unidos em suas diferenças, como apenas o Brasil sabe ser.



Bandeiras, cores, bonecos, pernas de pau, índios, brancos, negros... O Brasil dançou uma grande ciranda no centro da Arena Brasil. "Minha ciranda não é minha, é de todos nós", cantava Lia de Itamaracá, que ouvia de volta: "é de todos nós", enquanto os pés marcavam a batida dos tambores.



Após duas animadas cirandas, eis que surge a mais brasileira das canções: o Hino Nacional, interpretado também como ciranda. As mãos dadas, os passos marcados, sorrisos largos e a multidão cantando em uníssono. Haja cores, culturas, misturas. No primeiro dia do ano, no dia da posse da primeira Presidenta da República, nada mais justo que celebrar a cultura plural deste povo trabalhador, alegre e criativo.


E viva o povo brasileiro!