terça-feira, 16 de agosto de 2011

ENTREVISTA NO BLOG DO IAP




Entrevista com Antônio Ferreira, mestre em cultura popular, afro religioso, representante da Cultura Afro dentro do Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC e vice-presidente da Região Norte do Congresso Nacional Afro-Brasileiro – CNAB/Belém, Pará.

IAP - A Caravana Rumos à Cidadania trouxe representantes do Ministério da Cultura para ouvir gestores culturais e artistas locais, o que se espera desse encontro? Como vai se desenrolar?

AF - Foi muito importante a vinda da Caravana na Região Norte, haja vista que o hoje o Ministério da Cultura tem uma nova nomenclatura. A fusão e a junção de duas secretarias juntaram na frente Marta Porto, que é uma grande militante da área e foi consultora também.
O que se espera é um avanço do próprio Ministério nas políticas públicas, para ponto de cultura, nos editais e não só para a cultura popular, mas na indígena e quilombola também. E hoje o novo formato quer formar políticas públicas para a Cultura Afro dentro da SDC (Setor de Difusão Cultural).

IAP - 2011 é consagrado pela ONU como o “Ano Internacional dos Afro-descendentes”. Quais as atividades pensadas para a data e como contribuir para diminuir as desigualdades étnicas no Brasil?

AF - As atividades pensadas para o ano já estão sendo efetuadas. Hoje o movimento social negro está organizado e pedindo imediata implantação da Lei 10.639.03, que trabalha com a Cultura Afro nas escolas. Hoje essa atividade é um campo de batalha nosso que essa Lei seja implementada, onde o Estado Brasileiro tem uma grande dívida conosco e a Lei não é um pagamento de dívida, é apenas uma reparação para com o movimento.
E o que se espera disso? Para terminar com essa situação, o Estado Brasileiro tem que assumir o papel em dizer que ele nos massacrou, nos oprimiu durante mais de 500 anos e este ano a ONU foi feliz em lançar este “Ano Mundial pelo Afro-Descendência”. O mundo tem que respeitar a raça preta, o nosso gênero, nossa etnia, nossa religião, nossos costumes e respeitar a cidadania como um todo.

IAP - O IAP trabalha pela interiorização de suas ações. Como o CNPC trabalha as políticas públicas visando o acesso cultural a todos os recantos do Brasil?

AF - Bacana o IAP trabalhar com a interiorização. Hoje, o CNPC está com um formato de trabalho que faz um intercâmbio com todos os seguimentos em nível nacional. E esse tipo de intercâmbio visa provocar e fomentar a discussão de políticas públicas para a cultura em geral.
Como o IAP tem uma gerência específica para gênero, etnia, trabalha com quilombola e com a própria cultura negra, hoje a gente dentro do CNPC está com um trabalho em que os Institutos, as Fundações e Secretarias que tem esse trabalho, valorizam os nossos costumes e as nossas tradições.

IAP - Santarém ganhará um Núcleo de Produção Digital (NPD) e uma representação do IAP. O que podemos oferecer ao povo de Santarém, visando o aprimoramento artístico dos que trabalham com arte?

AF - Parabéns a Santarém e ao IAP. Independente de co-partidária a cultura não tem esta característica, ela é limpa e única. Santarém precisa disso e o que mais for oferecido, que a própria cidade abrace com amor esses dois fomentos que o IAP vai implantar lá. E que ela contribua com mais esse crescimento, chamando mais parceiros, não só o IAP, chamando o Ministério da Cultura e outros Ministérios que trabalhem com a cultura para que venham investir naquela cidade, pois ela tem muito que crescer em conjunto com o Estado do Pará, por que o Pará é só um.

IAP - O que está sendo pensado pela Regional Norte e quais os projetos em andamento?

AF - Hoje, o que se trabalha é uma visão geral que nós aprovamos na Segunda Convenção Nacional de Cultura: o “Custo Amazônico”. Hoje, o “Custo Amazônico” tem que ser implementado urgentemente, por que a Amazônia sofre. A Região Norte sofre perdas de políticas públicas pela longitude que ela tem das outras regiões, o Sudeste ganha por estar perto do Centro-Oeste, o Sul ganha, o Nordeste às vezes ganha também e nós aqui ao Norte ficamos ao léu, sem políticas públicas especificas.

IAP - O que é o “Custo Amazônico”?

AF - O “Custo Amazônico” tem vários conceitos. Um deles é o intercâmbio entre a Região Norte e as outras regiões do Estado Brasileiro. Neste custo, por exemplo, o artista que estiver no Rio Grande do Sul, com um espetáculo de dez mil reais, possa ter condições de chegar com esse valor aqui na Região Norte e não venha perder dinheiro. Porque, haja vista, no Estado do Pará só para chegar em Breves de barco leva-se doze horas e uma passagem de rede custando R$ 80,00 ou imaginem ter que gastar no mínimo R$2.000,00 com passagens de avião por não haver vôo direto para o Acre.
Então o “Custo Amazônico” passa por toda essa estruturação mais econômica. É uma política econômica, por que sem a economia não se tem política.

IAP - Como representante da Cultura Afro no CNPC, como você avalia hoje o momento do afro-descendente?

AF - Hoje é um bom momento, de todos que já atravessamos. Momento no qual a própria Cultura Afro está se identificando, está indo para fora. Nunca no CNPC a Cultura Afro teve uma cadeira, hoje nós temos uma e algo inédito: um “babalorixá” nesta cadeira, e do Norte, morador do Estado do Pará e bebedor de açaí.