segunda-feira, 16 de maio de 2016

5 benefícios da masturbação que talvez você não conheça

Vista com reserva no passado, prática pode ajudar a reduzir dores menstruais e combater insônia.

Da BBC
Masturbação é parte de uma vida sexual saudável  (Foto: Thinkstock/BBC)Masturbação é parte de uma vida sexual saudável (Foto: Thinkstock/BBC)
Durante muito tempo, a masturbação foi classificada por diversas sociedades como uma prática imoral e prejudicial, mas isso não poderia estar mais longe da verdade.
Especialistas dizem que é uma experiência prazerosa que traz benefícios para o corpo e para a saúde.
Por isso a BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, conversou com Mariano Rosselló Gaya, antropólogo e especialista em medicina sexual do Instituto Médico Rosselló, da Espanha, que explicou cinco benefícios da masturbação cientificamente comprovados e que você provavelmente não conhecia.
1. Alívio de dores menstruais
A masturbação pode aliviar dores, especialmente aquelas relacionadas com a menstruação e outros sintomas ginecológicos.
Masturbar-se durante o período menstrual tem o efeito de prevenir e diminuir as moléstias que costumam ocorrer no período.
"Todas as substâncias químicas que se produzem na corrente circulatória ao ter um orgasmo atuam de maneira analgésica contra as dores pré-menstruais", explicou Roselló.
"Também se produz uma desinflamação da zona genital devido à liberação das mesmas substâncias, que faz com que a pressão que as dores provocam diminua e, com elas, também o desconforto", acrescentou.
2. Fortalece o sistema imunológico
Segundo artigo publicado na Sexual and Relationship Therapy, o sistema imunológico dos homens que se masturbam funciona melhor.
"Nos homens, o fato de que a via seminal e os dutos ejaculatórios levam o sêmen para fora evita que sejam produzidas infecções de bactérias oportunistas exteriores."
"Há estudos que demonstram que indivíduos que experimentam número maior de orgasmos geram um nível maior de imunoglobina A (IgA), que é um anticorpo."
Assim mesmo, uma pesquisa do Cancer Epidemiology Centre de Melbourne, na Austrália, indicou que os homens entre 20 e 50 anos que se masturbam mais de cinco vezes por semana têm menos possibilidade de desenvolver um câncer.
Alguns estudos também indicam que em mulheres a atividade previne endometriose, doença que pode provocar infertilidade feminina.
Também se fala de prevenção de infecções, pois a atividade contribui para que se abra o colo do útero e libere mucosidade e fluidos cervicais.
Prática também pode melhorar relacionamento do casal  (Foto: BBC)Prática também pode melhorar relacionamento do casal (Foto: BBC)
3. Melhora o sono
Há muitas formas de tratar a insônia, mas uma agradável, segura e natural é se masturbar, principalmente para os homens.
Segundo o especialista, "depois do orgasmo é liberada uma série de endorfinas, hormônios, catecolaminas e citocinas que atuam como relaxantes químicos que induzem ao sono".
"O conselho francês de pesquisa médica publicou um trabalho neste sentido no ano passado e outros autores puderam constar e publicar isso", acrescentou.
A ejaculação pode provocar sono devido ao incremento do hormônio de prolactina e a queda da dopamina, o que explica a sonolência que se produz após o orgasmo.
4. Gera sensação de bem-estar
Masturbar-se é bom para ter uma boa saúde tanto em níveis biológicos como psicológicos.
"A liberação de endorfinas e catecolaminas rebaixa aos níveis de estresse e melhora nosso estado de ânimo", disse Roselló.
5. Melhora as relações do casal
Um mito muito difundido prega que a masturbação arruína relações sexuais com o cônjuge. Segundo especialistas, isso é absolutamente falso. Na verdade, é o oposto.
Masturbar-se favorece a melhoria das relações sexuais, já que ao fazer isso a pessoa aprende muito sobre seu corpo, suas reações, seus estímulos sexuais, fazendo com que o sexo seja muito mais prazeroso.
Mas não é só isso. "Em geral, a atividade sexual e a intimidade entre o casal devem ser cultivadas. Ter bons orgasmos consolida a relação e, assim, a convivência familiar", conclui Roselló.

Machado de Assis e a luta pelo fim da escravatura

Machado de Assis e a luta
pelo fim da escravatura 
A principal contribuição de Machado para a Abolição esteve, naturalmente, em ser Machado de Assis – ou seja, em ser um mulato que, dentro de uma sociedade escravagista, foi o maior escritor brasileiro de sua época, e, muito provavelmente, até os tempos de hoje, de toda a História do Brasil. Mas essa não foi a única
A relação entre Machado de Assis e a luta pela abolição da escravatura tem sido um tema constante, em geral polvilhado de equívocos e – mesmo – preconceitos, em nossa história literária. Como escreveu o próprio Machado, em uma de suas matérias jornalísticas que antecederam o 13 de Maio, “há muito burro neste mundo” (Gazeta de Notícias, 11/05/1888).
A principal contribuição de Machado para a Abolição esteve, naturalmente, em ser Machado de Assis – ou seja, em ser um mulato que, dentro de uma sociedade escravagista, foi o maior escritor brasileiro de sua época, e, muito provavelmente, até os tempos de hoje, de toda a História do Brasil.
Mas essa não foi a única.
Já nos referimos, em outra oportunidade, ao elogio de Machado a uma peça teatral, Mãe, de José de Alencar, manifestamente abolicionista. Porém, estávamos ali mais interessados nas contradições de Alencar (que, como político, estava muito longe do abolicionismo) que na atitude de Machado – que, como se sabe, não era branco – diante da mesma questão (v. “O nascimento da República e os jabutis em cima das árvores-12”, HP 27/02/2015).
Talvez, a esse respeito, a obra poética de Machado mereça uma reavaliação. Recentemente, ao reler “Americanas”, livro de poemas de 1875, deparamos com alguns trechos que não são, literariamente, desprezíveis. Por exemplo, o quarteto inicial do poema que Machado dedica a José Bonifácio (“De tantos olhos que o brilhante lume/ Viram do sol amortecer no ocaso,/ Quantos verão nas orlas do horizonte/ Resplandecer a aurora?”).
No mesmo livro está o poema “Sabina”, sobre uma violência da escravidão especialmente cruel: “Sabina era mucama da fazenda;/ Vinte anos tinha; e na província toda/ Não havia mestiça mais à moda,/ Com suas roupas de cambraia e renda.”.
Sabina, que não vive na senzala, mas na casa-grande, não percebe – ou percebe difusamente, confusamente – a sua própria condição de escrava, e se apaixona pelo filho de seus senhores. Nos versos de Machado: “e ela seguia/ Ao sabor dessas horas mal furtadas/ Ao cativeiro e à solidão, sem vê-lo/ O fundo abismo tenebroso e largo/ Que a separa do eleito de seus sonhos,/ Nem pressentir a brevidade e a morte!”.
Sabina engravida do rapaz, que viaja – e, depois, volta já casado. Ela decide suicidar-se. À beira do rio em que pretendia afogar-se, no entanto, o pensamento de que isso seria matar também o filho faz com que desista: “Ali ficou. Viu-a jazer a lua/ Largo espaço da noite ao pé das águas,/ E ouviu-lhe o vento os trêmulos suspiros;/ Nenhum deles, contudo, o disse à aurora.”
 CRÍTICA
 Algo bastante peculiar, embora não inédito, é que os adversários literários de Machado, em especial Sílvio Romero, tenham visto em sua obra um caráter “mestiço” (ou seja, mulato) e nacional, que boa parte dos amigos pessoais de Machado não conseguiram ver – ou evitavam ver.
É bem conhecido o artigo de José Veríssimo, o crítico mais próximo de Machado, quando da sua morte:
“São tanto mais de admirar e até de maravilhar essas qualidades de medida, de tato, de bom gosto, em suma de elegância, na vida e na arte de Machado de Assis, que elas são justamente as mais alheias ao nosso gênio nacional e, muito particularmente, aos mestiços como ele. Mulato, foi de fato um grego da melhor época, pelo seu profundo senso de beleza, pela harmonia de sua vida, pela euritmia da sua obra.”
Mais conhecida ainda é a carta que, depois desse artigo, outro amigo de Machado, Joaquim Nabuco, enviou a José Veríssimo:
“... ele foi de fato, um grego da melhor época. Eu não teria chamado Machado de Assis de mulato (...). O Machado para mim era um branco e creio que por tal se tornava; quando houvesse sangue estranho isso nada alterava a sua perfeita caracterização caucásica. Eu pelo menos só via nele o grego.”
Essa não era a opinião de Sílvio Romero.
Em seu livro “Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira”, publicado em 1897, Romero dedica-se a demonstrar que Tobias Barreto – seu mestre e mentor na “Escola do Recife” - é mais importante para a literatura nacional do que Machado de Assis.
Hoje, não há necessidade de refutar a tese de Sílvio Romero. A realidade já se encarregou dessa tarefa. É necessário apenas, no que vem a seguir, observar que Romero, ao levantar características étnicas, não o fez como forma de ataque a Machado – até porque Tobias Barreto também era mulato. Não deixam de ser interessantes alguns juízos que ele emite sobre Machado:
“Machado de Assis pode e deve ser também apreciado pelo critério nacionalista. Não o poeta, porque, a não ser em suas pálidas Americanas, este nos desdenhou de todo; sim o romancista e o contista; porque estes dignaram-se de olhar, uma vez por outra, para nós. Em que pese ao Sr. José Veríssimo, o nisus central e ativo de Machado de Assis é de brasileiro, e como tal se revela no caráter essencial de sua obra de mestiço” (Sílvio Romero, op. cit., Laemmert & C - Editores, Rio, 1897, p. 341).
Ou, em outra parte do mesmo livro:
“Ele [Machado] é um dos nossos, um genuíno representante da sub-raça brasileira cruzada, por mais que pareça estranho tocar neste ponto. Sim, Machado de Assis é um brasileiro em regra, um nítido exemplar dessa sub-raça americana que constitui o tipo diferencial de nossa etnografia, e sua obra inteira não desmente a sua fisiologia, nem o peculiar sainete psicológico originado daí.
“Seus romances, seus contos, suas comédias encerram vários tipos brasileiros, genuinamente brasileiros e ele não ficou, ao jeito de muitos dos nossos, na decoração exterior do quadro; mais penetrante do que qualquer desses, foi além, e chegou até a criação de verdadeiros tipos sociais e psicológicos, que são nossos em carne e osso, e essas são as criações fundamentais de uma literatura” (idem, pp. 17 e 18).
Romero usa o termo “sub-raça” como descrição de uma variedade nacional da espécie humana – no pensamento da época, frequentemente esta última era chamada “raça humana” - e não para marcar uma inferioridade. Apesar disso, é inevitável um certo ranço de inferioridade, inerente – embora na maior parte inconsciente – a esse termo.
 JUÍZO
 Ao leitor pode parecer estranho que o autor das palavras que citamos tivesse um juízo desfavorável da obra de Machado, mas assim é. Por exemplo:
“Machado de Assis não é um satírico; a mais superficial leitura de qualquer de suas obras mostra-o logo às primeiras páginas. Não é um cômico, nem como dizedor de pilhérias, nem como criador de tipos e situações engraçadas e equívocas. Não é também plenamente um misantropo, um detraqué. Não lembra, pois, nem Juvenal, nem Martins Penna, nem Molière, nem de todo Baudelaire, ou Poe, ou Dostoievsky. Não é, finalmente, da raça dos humanitários propagandistas e evangelizadores de povos ao gosto de Tolstoi. É, a meu ver, uma espécie de moralista complacente e doce, eivado de certa dose de contida ironia, como qualidade nativa que de quando em quando costuma enroupar nas vestes de um peculiar humorismo, aprendido nos livros, e a que dá também por vezes uns ares de pessimismo, também aprendido de estranhos.
“O que é seu, o que existe no seu espírito, como qualidades naturais, como bases de seu temperamento, vêm a ser o talento da análise psicológica, uma espontânea simpatia pela dignidade humana, a facilidade de generalizar os fatos e as ideias, o que tudo dá ao complexo de sua obra certo sainete moralizante, que o humour e o pessimismo emprestado não têm força de apagar. Possui, por certo, como disse, uma dose ingênita de ironia; mas esta não pôde nunca extravasar-se tumultuária e envenenadora, por ser sofreada pela timidez fundamental do temperamento do escritor.
“Machado de Assis é bom quando faz a narrativa sóbria, elegante, lírica dos fatos que inventou ou copiou da realidade; é quase mau quando se mete a filósofo pessimista e a sujeito caprichosamente engraçado” (idem, pp. 345, 346 e 347).
CATIVEIRO
 Reproduzimos demasiado extensamente as opiniões do sergipano Sílvio Romero, porque - além de ser um autor mais citado do que lido - é um dos dois críticos e historiadores literários de mais influência em nosso país, no período final da vida – e obra – de Machado (o outro é o, já mencionado, paraense José Veríssimo, em quase tudo um oposto perfeito de Romero, que o atacou em um de seus livros mais agressivos: “Zéverissimações ineptas da crítica: repulsas e desabafos” (1909); no entanto, Veríssimo é autor de juízos que permanecem inalterados até hoje: por exemplo, sobre Machado, diz ele em sua “História da Literatura Brasileira”, de 1916, que “é a mais alta expressão do nosso gênio literário, a mais eminente figura da nossa literatura”).

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Fernando Siqueira: “diretoria da Petrobrás sabota a companhia”

Fernando Siqueira: “diretoria da Petrobrás sabota a companhia”
O que publicamos nesta página é o voto de Fernando Siqueira, em nome da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), na assembleia de acionistas da nossa maior empresa, que apreciou o balanço de 2015, realizada no último dia 28.
O texto tem o grande mérito de ser claro – verdadeiramente didático. Siqueira, vice-presidente da AEPET, demonstra que a diretoria que Dilma nomeou para a Petrobrás - após o fracasso melancólico, e inédito na história da empresa, da inepta Graça Foster, cuja única credencial era sua intimidade com a ocupante do Alvorada - simplesmente “avermelhou” o balanço da empresa, ou seja, fabricou um prejuízo inexistente.
Não é qualquer prejuízo: trata-se de um rombo de R$ 34,84 bilhões, obtido pelo expediente de desvalorizar as reservas de petróleo da empresa, calculando seu valor pelo amesquinhado preço do barril de petróleo, imposto pela especulação dos monopólios petro-financeiros dos EUA e outros países.
Evidentemente, isso nada tem a ver com a realidade. Reservas não são barris de petróleo já extraídos – e não podem ser precificadas pelo valor de um determinado momento, pois, simplesmente, seu conteúdo somente será extraído no futuro, quando o preço do barril já não será o mesmo de hoje. E, também é evidente, o preço do barril de petróleo não continuará nos atuais níveis.
Fernando Siqueira observa que nem a Shell, que não tem nenhum pré-sal como reserva – exceto aquela parte que Dilma entregou, no campo de Libra – e que em 2015 teve um desempenho desastroso no “óleo de xisto”, fez uma desvalorização tão grande quanto àquela da diretoria da Petrobrás.
A questão é: por que essa diretoria que Dilma transplantou para a Petrobrás fez esse atentado contra o país?
Rigorosamente, porque a política do atual governo é privatizar a Petrobrás. Daí a liquidação de ativos que, desde a época da senhora Foster, foi apelidada de “desinvestimento”. A historieta de que o sr. Vendine & cia. estão entregando ativos a preço vil para, depois, investir, é uma fraude. O que eles estão fazendo é reduzir o tamanho da empresa, reduzir os seus investimentos e reduzir a sua capacidade técnica – ao implementar um plano de demissões que elimina justamente aqueles funcionários que têm cristalizada, em sua competência, a capacidade alcançada pela empresa.
Só existe um motivo para reduzir o tamanho da Petrobrás: deixar campo aberto para as multinacionais petroleiras. É esse, também, o significado do apoio do governo do PT ao projeto de Serra, que retira da Petrobrás a condição de operadora única do pré-sal.
Com certeza, eles não têm condições políticas de privatizar inteiramente a Petrobrás. Portanto, privatizam por partes o Grupo Petrobrás – gasodutos, distribuidora, etc. Com isso, diminuem as possibilidades de investimento da empresa.
É nauseante – para usar uma palavra suave – que Dilma e o PT atribuam à Operação Lava Jato as dificuldades da Petrobrás, que são inteiramente causadas pela política privatizante do governo, incluída nela o roubo contra a companhia, estimado, pela perícia da PF, em R$ 42 bilhões de sobrepreços e superfaturamento – onde estão embutidas as propinas que bancavam partidos e políticos governistas.
Pelo contrário, o que a Lava Jato fez até agora foi devolver à Petrobrás uma parte do dinheiro roubado – uma parte mínima, é verdade, cerca de R$ 2,9 bilhões (nas ações até agora ajuizadas, pede-se o ressarcimento de R$ 21,8 bilhões). Mas a Lava Jato não acabou. Dizem alguns que mal começou...
Abaixo, o leitor, através da descrição de Fernando Siqueira, poderá ver como a atual diretoria – a rigor, o atual governo – sabota a Petrobrás.
C.L.
FERNANDO SIQUEIRA
 Senhor presidente
 A AEPET, como acionista minoritária, não aprova as Demonstrações Contábeis de 2015 pelos seguintes motivos, entre outros: a Diretoria da Petrobrás realizou uma baixa contábil difícil de entender, pois o lucro bruto da Companhia foi de R$ 98,5 bilhões; o EBITDA foi de R$ 74 bilhões e o Lucro Líquido, R$ 15 bilhões. Pois bem, com essa baixa contábil, de R$ 49,75 bilhões, a Diretoria conseguiu gerar um rombo “virtual” na empresa de R$ 34,84 bilhões, o maior da sua história! Nem o famigerado Mercado entendeu. O mais grave é que se deu a munição que os entreguistas (da grande mídia e do Congresso Nacional) precisavam para justificar a retirada da Petrobrás de operadora única e disponibilizar o pré-sal para o cartel internacional do petróleo.
Em recente palestra que fizemos em audiência publica na Câmara dos Deputados, o argumento dos entreguistas era recorrente: “A Petrobrás está quebrada. Como uma empresa com um rombo de R$ 34,84 bilhões por ano pode desenvolver o pré-sal?” É importante lembrar que a maior petroleira do mundo, a Exxon, não fez baixa contábil por considerar que este preço atual do petróleo é temporário. Resulta de manobra dos EUA e Arábia Saudita de enfraquecer a Rússia e os BRICS – como fizeram com a União Soviética na década de 90.
Olhando a curva de variação dos preços do petróleo, desde a década de 1940, vemos que a tendência é de subida e não de queda desses preços. A baixa contábil da Petrobrás foi maior em mais de 50% do que a da segunda colocada, a Shell, que teve perdas significativas e reais com o fracasso do seu petróleo não convencional.
A Petrobrás já descobriu mais de 60 bilhões de barris no pré-sal, dos quais ela detém mais de 40 bilhões, que somados à reserva do pós-sal superam 50 bilhões de barris. Além disto, se o fator de recuperação atingir o conseguido na Bacia de Campos, essa reserva duplica. Então, como explicar a redução das reservas para 13,2 bilhões?
O mais grave dessa baixa é o fato de que: se a Petrobrás não pagar dividendos aos acionistas, por três anos consecutivos, as ações preferenciais dela passam a ter direito a voto, ou seja, a gestão da Petrobrás passa para o controle da iniciativa privada até se reverter este quadro. Lembremos que a maioria desses acionistas preferenciais são estrangeiros, possíveis sócios das concorrentes da Petrobrás. É um risco muito alto para o País.
Além disto, essa baixa tende a esconder os graves prejuízos da venda de ativos a preços irrisórios. Seria esta a estratégia? A quem interessa essa baixa contábil, inclusive tendo sido feita outra, maior ainda, em fevereiro de 2015? Seria uma nova manobra para facilitar a privatização/desnacionalização?
Os Acionistas brasileiros exigem uma explicação fundamentada, pois além de deixarem de receber dividendos, vêem com preocupação cerca de 80.000 empregados sérios, honestos e competentes deixarem de ser premiados com a merecida participação nos lucros, que proporcionaram à Companhia, além de terem-na levado ao prêmio máximo da indústria do petróleo pela terceira vez.
A baixa geológica dos campos de petróleo, como Papa Terra, foi amplamente compensada pela elevação de expectativa de outros campos, como por exemplo, os campos da cessão onerosa, para os quais era prevista uma reserva de 5 bilhões de barris equivalentes. Hoje esse volume recuperável pode chegar a 20 bilhões de barris, sendo que o excedente já está contratado com a Petrobrás sob contrato de partilha de produção. Também os campos de Lula, Sapinhoá e Jubarte tiveram suas expectativas iniciais grandemente elevadas. 
As normas contábeis internacionais do setor petróleo, nos parágrafos 120 a 124 do SFAS 19 (Statement of Financial Accountig Standard) dizem textualmente: “O valor contábil das reservas não poderá ser reajustado pela mudança de preços, somente pela mudança na estimativa da quantidade de óleo e gás das reservas.” Portanto, o valor contábil dos campos citados e vários outros pode ser reajustado para cima em função das reservas do pré-sal virem se mostrando muito superiores às estimativas iniciais.
Diz o Engenheiro de Reservatórios Paulo Cesar Ribeiro Lima, ex-Petrobrás e hoje competente Assessor Legislativo do Congresso Nacional, em seu excelente trabalho “Ativos, Resultados Financeiros e Balanço da Petrobrás de 2015”:
“Caso não houvesse o impairment o lucro de 2015 seria de cerca de R$ 15 bilhões. A realidade: a Petrobrás apresenta uma excelente situação econômica e operacional com futuro altamente promissor devido aos altos volumes recuperáveis do pré-sal e ao grande parque de refino. O impairmentmascarou essa realidade.
“Apesar de apresentar o maior crescimento da produção entre as grandes petroleiras mundiais, de ter realizado as maiores descobertas, com o menor custo de extração; mesmo tendo em 2015 os preços dos derivados acima do mercado internacional, a Petrobrás foi a que apresentou, em 2015, o maior prejuízo contábil entre as grandes companhias de Petróleo.
“Uma empresa que gera um lucro bruto de R$ 98,5 bilhões, tem um portfólio de produção superior a 50 bilhões de barris, extraordinária infraestrutura de refino, fertilizantes, gás, energia terminais e dutos, é o maior e mais rentável patrimônio do País. Não pode ter sua imagem fragilizada por uma manobra contábil tão estranha, que derruba a imagem da empresa perante a sociedade”.
Portanto, senhor presidente, a acionista minoritáriaAssociação dos Engenheiros da Petrobrás, propõe uma drástica revisão na baixa contábil efetivada.
VENDA DE ATIVOS
A venda de ativos neste momento em que eles estão desvalorizados é um fato inaceitável. Ativos estratégicos como a distribuidora (que leva combustíveis aos confins do Brasil onde as outras nem cogitam), a Gaspetro e campos do pré-sal são invendáveis, até porque eles geram grande fluxo de caixa para a Petrobrás.
A AEPET já enviou sugestões de várias alternativas a essa venda de ativos, em carta a V.Sa. entre elas: tomada de um empréstimo ao Banco de Desenvolvimento dos Brics (a India e a China são grandes importadores, tendo grande interesse nisto) no valor de US$ 30 bilhões; empréstimo junto ao Banco de Desenvolvimento da China, US$ 20 bilhões; cobrança do Governo dos US$ 20 bilhões pelas perdas que causou obrigando a Petrobrás a importar derivados e vender no mercado nacional por preços inferiores inclusive, às distribuidoras suas concorrentes. Tais iniciativas totalizariam US$ 70 bilhões, um valor que representa 70% da dívida líquida da Petrobrás, podendo ser usados US$ 20 bilhões para quitar a dívida de curto prazo e US$ 50 bilhões para os investimentos de alto retorno, como os campos do pré-sal. Daria também para concluir as obras da Renest e do Comperj, que já têm instalações com 85% concluídos. Parar obras gera prejuízos da ordem de 50% a 100% dos projetos. E nosso parque de refino precisa ser ampliado urgentemente para atender à demanda do País.
Outro ponto inaceitável é a venda de campos maduros do Nordeste e Norte do Espírito Santo. Esses campos são verdadeiros laboratórios para se desenvolver a tecnologia de recuperação secundária, a ser usada no pré-sal, além da sua alta importância social como geradores de empregos e desenvolvimento nessas regiões. Qual seria o retorno financeiro dessas vendas? Qual o impacto na redução da dívida da Companhia?
A AEPET propõe a suspensão das vendas de ativos.
 REESTRUTURAÇÃO
A reestruturação da Companhia está requerendo mais visão estratégica e menos financista. Um ponto importante é ter uma política de Recursos Humanos que volte a fazer com que os empregados sintam orgulho de trabalhar para a Companhia, como se tivessem trabalhando pelo engrandecimento do Brasil. Era assim que os empregados se sentiam no passado. Até desmontarem a política de RH.
Outro ponto fundamental: é preciso acabar com o EPCismo, contrato  por pacote, em que uma obra é comandada em sua totalidade por uma empreiteira, que executa os projetos e fornece os materiais. Sem qualquer compromisso com segurança e operacionalidade das instalações. Esta modalidade, criada em 1995, sistematizou a corrupção e facilitou os pacoteiros a subcontratarem os seus concorrentes e “combinar” o preço das obras dos empreendimentos.
Outra preocupação é o exagero na redução de chefias. Sabemos que o ex-presidente Reichstul, visando obter o apoio dos gerentes para desnacionalizar a Companhia, mais que dobrou o valor da gratificação de chefia (a RG passou de R$ 12.000 para R$ 25.000, na época) e aumentou muito o número de cargos de gerentes e de consultores técnicos. Foi o início da “flexibilização” da consciência de alguns gerentes. Um gerente que ganhava R$ 25.000 por mês passava para R$ 6.000, se perdesse o cargo, ou seja, perdia ¾ do salário. Alguns desses gerentes passaram a trabalhar muito mais para o seu chefe imediato do que para a Petrobrás, que ficou com sua defesa altamente fragilizada. Daí a serem cooptados por certas empreiteiras e políticos foi um pequeno passo.
A Diretoria de Gás e Energia, na Gestão Graça Foster, também ampliou o quadro de gerentes, de forma excessiva. Portanto, é louvável um processo de redução de chefias, mas não se pode ser radical nessa redução a ponto de comprometer a governança da Companhia.
No caso da Diretoria Financeira, por exemplo, foram reunidas as duas maiores áreas: Contabilidade e Tributária - que já eram grandes - numa única e passaram a formar uma megaestrutura, com quase 1300 empregados. Assim, 60% da Diretoria Financeira ficaram sob as ordens de uma única gerência executiva. Praticamente impossível de serem gerenciadas adequadamente, pois se criam gargalos, os procedimentos ficam centralizados, burocratizados e tornados muito mais lentos. Hoje, as grandes organizações prestigiam a área tributária diante da sua importância financeira para cada companhia.
Outro ponto importante, a reestruturação em andamento na companhia tem tido foco no curto prazo, em detrimento de seu planejamento estratégico. Deslocar, por exemplo, a Engenharia Básica de seu Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, o Cenpes, para a área de empreendimentos, tirando o foco na inovação, no desenvolvimento, na otimização e na integração com a pesquisa e os órgãos operacionais é um desastre. Essa experiência já foi testada no passado e mostrou-se totalmente inadequada. Foi corrigida rapidamente. Para que insistir no erro? É importante lembrar ainda que os empreendimentos estão, hoje, sendo reduzidos drasticamente, em função dos cortes nos investimentos.
Foi com a forma atual que a Petrobrás conseguiu por três vezes o prêmio máximo da indústria do petróleo, levando ao mundo a competência dos brasileiros e gerando emprego e tecnologia para as empresas do País. O Cenpes, com os programas PROCAP – 1000, 2000 e 3000 antecipou-se às necessidades da Companhia para desenvolver tecnologia necessária à Exploração e Produção em águas profundas, na vanguarda de todas as petroleiras do mundo. Para que mexer num time que está ganhando de goleada? Qual a perspectiva dessa mudança?
O recente PIDV (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária) proposto pela atual Direção é uma temeridade pela proposta de afastamento de até 12.000 empregados, não só os aposentáveis como no PIDV anterior, mas também os com qualquer tempo de Companhia. Qual o objetivo de tal Plano que, pela sua amplitude, pode desfalcar a Companhia de valores profissionais vitais à sua sobrevivência e crescimento? Podem sair técnicos com alto conhecimento e/ou também alocados em funções estratégicas e difíceis de substituir em curto prazo. Qual a perda de tecnologia e dos investimentos em treinamento desse pessoal?
A AEPET propõe uma profunda revisão no processo de reestruturação.