quinta-feira, 31 de maio de 2012

Paradoxo: Crise Política na Cultura X Participação Social por Charles Narloch e Patricia Canetti

Carta dos conselheiros titulares de artes visuais e arte digital no Plenário do CNPC Caros colegas, Temos pela frente um desafio que precisamos responder à altura: a criação e renovação dos Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC, junto ao Ministério da Cultura - MinC, para o período 2012 a 2014. Os membros dos Colegiados Setoriais participam da formulação de políticas públicas de cultura no Governo Federal e avaliam a aplicação do Plano Nacional de Cultura. Exercem um papel fiscalizador das ações do MinC, cobrando pertinência e coerência em sua execução. O CNPC deve ser o mais legítimo canal de diálogo com o MinC, assim como ocorrem com os conselhos nacionais das demais áreas de governo. São dezenove segmentos com representação da sociedade civil no CNPC. Todos são eleitos democraticamente. Se pensarmos estrategicamente - e deixarmos de lado o pensamento segmentado - podemos afirmar que a participação política das artes visuais naquela instância cresceu desde o início da criação do Sistema Federal de Cultura, em 2005. Atualmente teremos dois Colegiados Setoriais diretamente relacionados à arte contemporânea - artes visuais e arte digital - e quatro outros de áreas afins, que anteriormente também eram vinculadas pelo MinC às artes visuais: arquitetura, artesanato, design e moda. Como conselheiros titulares de artes visuais e arte digital no Plenário do CNPC, pedimos a atenção de todos para a importância deste espaço conquistado de participação social e, principalmente, neste momento específico, de renovação e ampliação. Quase sem divulgação pelo MinC, está deflagrado o processo de eleição dos delegados estaduais que participarão dos Fóruns Nacionais Setoriais. Para que o processo continue representativo, todos nós precisamos ficar atentos e participar. São os delegados eleitos nos Fóruns Estaduais Setoriais que, em Brasília, reunidos em um segundo momento, para o Fórum Nacional Setorial, poderão votar e concorrer às vagas dos Colegiados Setoriais; Todos os Estados e o Distrito Federal deverão eleger seus delegados, três para cada área setorial. (O MinC vai arcar com as despesas de deslocamento de todos os delegados eleitos até Brasília. Nossa participação conjunta nos últimos anos, somada às outras 17 representações setoriais, nos mostrou a importância de construirmos Colegiados Setoriais atuantes, compostos pelos diversos agentes que compõem cada área. Entretanto, em nossa avaliação e pela experiência que tivemos naquele espaço, percebemos que o CNPC e o próprio MinC vivem uma crise inédita: Se, por um lado, alguns setores do MinC defendem essa instância como um espaço legítimo para a pactuação das políticas públicas com a sociedade, outros (também do MinC) parecem ignorar as conquistas dos últimos anos e tentam, visivelmente, minimizar ou neutralizar o papel do conselho e de seus colegiados. Trata-se, portanto, de um triste paradoxo. Até então o MinC foi o maior defensor da implantação de um Sistema Nacional de Cultura em que o Conselho Nacional e seus equivalentes nos Estados e Municípios seriam as instâncias deliberativas mais relevantes para o fortalecimento da participação social. Mas o que se percebe é que o MinC, que pautou Estados e Municípios para a adoção dessa prática, hoje precisa reaprender o que ensinou. O processo eleitoral, discutido e deliberado pelo CNPC, foi ignorado pelo MinC. Denúncias e pedidos de atenção dos atuais conselheiros não faltaram, como já divulgamos, mas estes foram solenemente ignorados ou até menosprezados pela ministra Ana de Hollanda, protagonista ímpar de uma série de demonstrações declaradas de desprezo às práticas legítimas de pactuação de políticas públicas. Pelo exemplo ou orientação da ministra, secretarias e instituições vinculadas do MinC parecem - neste momento - estar alheias ao processo eleitoral do CNPC, situação muito diferente da vivida em 2010, quando o envolvimento das mesmas foi total. Diante desta realidade, exclusiva do atual governo e inédita desde a eleição do ex-presidente Lula, o desencanto e o desânimo têm contaminado aqueles que militam nos mais diversos segmentos culturais, levando tantos a um sentimento de incredulidade e decepção. Preocupados que estamos com esta reação quase atônita da sociedade, propomos aqui a manutenção da ocupação crítica e consciente daquele espaço, como resposta política eficaz. Uma luta legítima, mas usando a inteligência como estratégia. Estamos propondo aqui uma ampla mobilização de todos os agentes culturais brasileiros para a eleição de seus delegados. Se é isso que a atual ministra quer evitar, é isso que conscientemente deveremos oferecer. Nos Colegiados e no Plenário do CNPC, temos a oportunidade de mostrar ao Governo Federal que não pensamos apenas em “nossos quadrados”, mas na defesa da cultura como um todo. Por isso, não é hora de nos dividirmos, por mais que as “gavetas” que nos classificam naquele espaço instiguem diferenças e peculiaridades. Somos agentes em diferentes segmentos culturais, por todo o país. Temos muito a contribuir nas artes visuais e arte digital, mas também no artesanato, no patrimônio cultural, nos museus, na moda, no design ou na arquitetura e urbanismo, já que muitos de nós também atuam nesses segmentos. Por que nos considerarmos divididos se podemos somar? Ocupar esses espaços no CNPC é mais do que legítimo, é um exercício político que nos permitirá conquistar maior respeitabilidade e, finalmente, sermos ouvidos. Inscreva-se no portal do MinC e mobilize seu segmento em sua cidade, em seu Estado. As inscrições encerram no dia 24 de junho; Para votar ou ser votado, o cadastramento online é obrigatório. Ajude a divulgar o que o MinC parece manter em segundo plano e vamos mostrar ao Governo Federal a força e a persistência da cultura. Abraços! Charles Narloch Membro titular do Colegiado Setorial de Artes Visuais, membro titular do CNPC (2010-2012) Patricia Kunst Canetti Membro titular do CNPC, representante do segmento de Arte Digital (2008-2012)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Dom Casmurro de Machado pelo crítico Agripino Grieco

Que dicção deliciosa, que arte enleante na maneira por que os detalhes, em geral prosaicos, tombam gota a gota e adquirem por vezes não sei que beleza lírica! AGRIPINO GRIECO Se me exilassem para sempre do Brasil, permitindo-me levar na bagagem apenas cinco livros nacionais, é evidente que não dispensaria o meu Alencar, o meu Castro Alves, Pompeia, Euclides, mas também não dispensaria este romance do não totalmente meu Machado de Assis. Tudo aqui é em numerosos capítulos curtos, como já era no Brás Cubas e voltaria a ser no Esaú e Jacó. Entanto, se o assunto e as intenções valem pouco no trabalho, que dicção deliciosa, que arte enleante na maneira por que os detalhes, em geral prosaicos, tombam gota a gota e adquirem por vezes não sei que beleza lírica! Imperceptível o sotaque inglês e, esquecida uma ou outra afetação de purismo, saltam mil recordações cariocas, e simples palavras revivem cenas e tipos ainda vistos ou comentados em nosso tempo de criança. Havia terraço no Passeio Público, o Imperador passava de coche, as casas não dispensavam o ornato do oratório, a sobrecasaca era a farda solene dos burocratas, lia-se Walter Scott, demandava-se com fúria. Ignoro se Machado acreditaria fazer em Dom Casmurro livro à moda de Sterne: sei, sim, que fez, querendo ou não querendo, romance de costumes, tanto quanto era possível que ele o fizesse, e os que hoje se interessam tão fortemente pelas questões de folclore devem atentar que não lhe faltam à narrativa muitos documentos de folclore urbano. Trate-se embora de coisa desagradável, que doçura na expressão "calundus", empregada a certa altura pelo autor! Até a lentidão é saborosa nesse Rio em que o ritmo não era de automóvel. Raras as repetições, frequentíssimas noutros volumes seus, e as personagens não parecem na iminência de cair em catalepsia. Se eu organizasse um Baedeker para a leitura de Machado, aconselharia, mesmo perturbando a ordem cronológica, que principiassem pelo Dom Casmurro e só abordassem as antipáticas Memórias Póstumas de Brás Cubas muito mais tarde, como não aconselharia ninguém a iniciar-se no Eça através das pretensiosas cartas de Fradique Mendes. Tem-se a impressão de que nas Memórias as almas são examinadas com uma lupa, enquanto em Dom Casmurro há outro desafogo e não escapa a bonomia de determinadas passagens que começam num ar inquietante, de suposta catástrofe, e concluem em vulgares incidentes de quotidianismo burguês. Curioso é que o romancista, divertindo-se ao de leve com a vaidade administrativa de dado sujeito ou com os ciúmes de Bentinho, prove que nós só ironizamos bem aqueles defeitos de que participamos muito ou pouco. Machado, servindo em ministério, ficava radiante quando o convidavam para fazer parte do gabinete do ministro, acolhia reverente senadores e deputados, e, em função de marido, era ciosíssimo dos seus direitos junto à alva Carolina, não franqueando a quase ninguém, em intimidades alarmantes, a sua morada do Cosme Velho. Mesmo consentindo que o menino Bento e a menina Capitu brinquem de missa, o exato é que, receoso talvez de complicações com uma gente rancorosa, Joaquim Maria só se refere a padres e frades com relativa brandura. Sua sege, no momento, não é a da viagem de Sterne, e seu leproso não é o da cidade de Aosta, da narração de Xavier de Maistre: uma verdade local se impõe aos leitores. E que sutileza de toque nas insinuações que chegam de mansinho, até se aclararem subsequentemente! Noutros volumes, Machado, dando-nos o pão, dá-nos também o castigo, e aqui só nos dá o pão. Nada em ressalto, conta-se tudo a meia voz. Ainda que ele continue refratário a descrever a paisagem, que é nele simples nomenclatura ("Não tornaria a contemplar o mar da Glória, nem a serra dos Órgãos..."), adivinha-se-lhe por estas páginas a estima dos jardins e o prazer de vagar pelas ruas velhas do centro ou dos bairros, e sente-se que ele protestaria contra a mutilação dos nossos parques, o do Passeio, onde Bentinho conversou com José Dias, e o do campo de Santana, que ele conheceu quando apenas campo e sem parque, sem a obra-prima de Glaziou, vendo talvez, ao ir como jornalista ao Senado, as lavadeiras às voltas com trouxas de roupas. É o jardim uma das raras dádivas do governo aos pobres, e querem retirá-la. Nenhuma fatigante literatura de tese em Machado. Ninguém busque encontrar nele um corpo de doutrina, coerência de atitudes filosóficas. Nas suas tiradas, um aforismo ou um paradoxo destrói quase sempre o anterior. Contraditar-se não era a menor das suas volúpias. Porque constranger-se – pensaria ele – escolhendo entre duas opiniões, se tudo é matéria para uma boa frase? Sem ostentação, sabe ir encaminhando placidamente o fato que, aparentemente mínimo, é na realidade o que define tudo, decide de tudo. Dos cochichos acaba saindo uma voz nítida que nos perseguirá sempre. E nem nos irritamos quando o autor retorna a um trecho anterior para melhor explicação, como os sujeitos que se despedem e voltam para procurar a bengala ou um livro esquecido. Tanta gente a se preocupar com a infância, a juventude e a velhice de Machado de Assis, fazendo vida romanceada, fazendo o romance do romancista. Para quê? Amontoam-se as conjecturas, as hipóteses, as probabilidades em torno ao grande prosador. Ora, nesse homem, o mais importante acontecimento biográfico foi mesmo o haver composto o Dom Casmurro. Em vão os maus exegetas tramaram tudo para tornar o ídolo odioso. Machado resiste aos que quase o espatifam a golpes de turíbulo. Quando me dizem: "Você não gosta de Machado de Assis!", respondo: "Não gosto é dos machadianos tais e tais (enumero os nomes de vários senhores e senhoras), que o exploram em biografias ou ensaios idiotas e lhe atribuem uma onividência genial...". Também declaro não gostar dos antimachadianos à Liberato Bittencourt, dignos em tudo de figurarem entre aqueles machadianos. Mas posso deixar de gostar de Capitu, embora se tenha abusado dos seus olhos não menos que do sorriso de Gioconda, do nariz de Cleópatra e dos pés de Cendrillon? Lamento apenas que fiquem num detalhe e esqueçam inúmeros outros. Ruim a tendência a imobilizar-se nesses trechos seletos, que acabam convertendo-se em lugares-comuns pela negligência dos antologistas e diminuem o interesse de conjunto em relação às obras do mestre. Aliás a celebridade desses olhos de Capitu deve derivar de um equívoco. Dezenas de amadores creem que ressaca, no caso, é, não coisa de mar, e sim convalescença de bebedeira, a sugerir o langor, o cansaço e também o fascínio que há debaixo das pálpebras femininas após uma noite de orgia. Certo, o mais obsceno das mulheres está-lhes sempre nas pupilas. As damas ocultam tudo e o mais comprometedor se acha ali à mostra. Todavia, antes do Dom Casmurro, que é de 1899, antes dos "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" de Capitu, Gomes Leal, no Anticristo, livro de 1884, já falara nos "olhares oblíquos" dos judeus. Lembre-se que a apresentação da heroína é feita em linguagem de passaporte: "Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo". Mas impressionante, mesmo para quem haja vivido longa vida e corrido muitas literaturas, é a perfídia sempre engatilhada dessa brasileira, o seu maquiavelismo do coração, pior que o do espírito. Capitolina recorda-nos a manta descrita por Fabre e que devora o macho depois de fecundada. Aprendeu ela música, e isso enterneceria Machado, que foi sócio do Clube Beethoven e amigo do pianista Artur Napoleão, adorou cantoras famosas e aludia sempre a óperas, tudo com um interesse que não parece ter demonstrado pela pintura e pela escultura. Observe-se que não fornece ele propriamente minúcias de adultério, detendo-se sempre à margem da cena escandalosa. E uma nota soberba é quando Capitu incide numa espécie de distração ou de cincada e pergunta a Bento, o pai putativo, se já reparara que os olhos do pequeno Ezequiel possuíam a "expressão esquisita" dos olhos de Escobar, o pai autêntico. Inconsciência, provocação, prazer de lembrar o delito? Um pouco de tudo nesse pedacinho admirável. Nem se esqueça o que vai esparso pelo livro em matéria de lucidez de ódio, sendo evidente que as personagens de Machado se odeiam sempre mais do que se amam. A alguns parecerá que Bento, pela força do hábito, deveria acabar estimando o rapaz, como ocorre num dos mais conhecidos romances de Bourget, mas o nosso Bentinho, apesar de todas aquelas mansuetudes de superfície, é da raça dos implacáveis, de uma implacabilidade tanto mais forte quanto disfarçada em aparência de olvido ou perdão. Taine, falando antes da aparição de Daudet, referiu-se à falta de crianças na literatura francesa. Também as crianças não exuberam em Machado, e este Ezequiel, aparecendo assim em ambiente difícil, não trouxe grande beleza e nobreza à classe. Agora, perguntarei a mim mesmo se Capitu é uma grande figura universal. Poderá ela entrar na galeria em que figuram Julieta, Margarida, Manon Lescaut, Eugênia Grandet, Carmem? Não creio. À maneira de certos vinhos que da Europa vêm para cá, o nosso romancista não resistirá à travessia do Atlântico. Franceses, lendo-o naturalmente em tradução francesa, enxergarão nele um francês, o que lhe tira qualquer nota de sedução na originalidade americana, e preferirão os que, embora mais fracos, lhes levam umas tintas de tropicalismo. No Dom Casmurro, onde o laboratório de experiências do autor está menos à mostra do que no Brás Cubas, Machado, como de costume, insiste em algumas palavras, mas, sendo estas sempre comuns (nada do léxico farto de Camilo ou Coelho Neto), não gritam, não adquirem cor vermelha no papel. Estranhe-se que lhe escapassem os vocábulos "chacarinha" e "taramela", assim mesmo à lusitana. Não lembro que ninguém os proferisse nunca dessa forma no Brasil e, em meu recanto de província, "chacrinha" e "tramela", muito mais doces de pronúncia, é que eram frequentes. Pior ainda um "comborço". Quando esse homem de extremo bom gosto se equivoca vai logo ao mau gosto extremo. Diversas passagens de Dom Casmurro recordam outras de livros de Machado. A heroína, até metade do romance, faz pensar em Iaiá Garcia e Helena. Aquilo de possível arranhão nos joelhos de uma senhora qualquer traz à memória uma cena de Quincas Borba, entre Sofia e Palha. A página em que Ezequiel, ainda garoto, goza com o sofrimento do rato na boca do gato, mostra um esboço de concorrente ao sádico da "A causa secreta". As coisas equinas e as coisas de dinheiro, especialmente as lotéricas, não se desprendem das cogitações de Machado: "a felicidade conjugal pode ser comparada à sorte grande"; "os saldos da juventude"; "fazendo vir do credor a relevação da dívida"; "contrato feito no próprio cartório do céu"; "como quem empregou em um só bilhete todas as suas economias de esperanças, e vê sair branco o maldito número"; "tais promessas são como a moeda fiduciária"; "não faz moratórias, perdoa as dívidas integralmente"; "ajuste de contas morais"; "reformar uma letra"; "Purgatório é uma casa de penhores"; "o prêmio da loteria gasta-se, e a morte não se gasta"; "Jeová, posto que divino, ou por isso mesmo, é um Rothschild mais humano"; "a minha imaginação era uma grande égua ibera" (e, a propósito destas éguas, "que concebiam pelo vento", desfaça-se uma dúvida de Bentinho: são de Virgílio e não de Tácito). Vejamos algumas reminiscências de leituras europeias. O italiano Marcolini é uma transposição (mais uma) do ator Delobelle à condição de tenor. A pirueta de José Dias ante o projeto, ainda muito vago, de uma viagem à Europa, aproveita o caso da leiteira de La Fontaine, aliás aproveitado de vários outros do Oriente e do Ocidente. Um resquício do "dormeur éveillé" das Mil e uma noites, na tradução de Galland, vem nos "sonhos do acordado" (e quantos sonhos em Dom Casmurro!). A mania dos superlativos em José Dias é efeito repetido de velhas anedotas, especialmente italianas, havendo em Donville uma esplêndida, que só não reproduzimos devido ao fecho escabroso. "Ancianidade viçosa" representa feliz variante de "verte vieillesse". Já "inimigos contíguos" será pouco harmoniosa variante de "énnemis intimes". Quando Machado diz que "a alopatia é o catolicismo da medicina", apenas altera o conceito dos Goncourt: "Il me semble voir dans une pharmacie homéopathique le protestantisme de la médecine." Também há "olhos policiais" no poeta português Macedo Papança. De quem a prioridade? A expressão machadiana: "não a conheceu, nem podia, tão outra a fizeram os anos e a morte", deriva da frase garrettiana: "tão outro estará mudado". Na ironia: "O céu e a terra acabam conciliando-se", influíram dois versos de Molière que o uso concentrou num só: "Il est avec le ciel des accomodements". A propósito dos amores de Bentinho e Capitu: "Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas...". Garrett: "Os anjos aqueles dias / Contaram na eternidade: / Que essas horas fugidias, / Séculos na intensidade, / Por milênios marca Deus / Quando as dá aos que são seus". Se os vermes dos livros respondem que nada sabem dos textos que roem e só querem roer, mostram-se modestos, porque devem ter aprendido alguma coisa ao roer conscientemente um volume de Lachambeaudie, onde existe a fábula intitulada "Le rat dans la bibliothêque". E tão renaniano era o nosso Machado que o seu Ezequiel morre quase como a irmã de Renan (ele de febre tifoide e ela de febre perniciosa), sendo igualmente sepultado em região da Ásia. Mas vou concluir narrando um caso não desinteressante a propósito de Joaquim Maria. Costumo eu passar de ônibus em frente a um sobrado do Engenho Novo, de frontaria toda descascada. Possui duas árvores à frente e, ao lado, vistosa casa de cachorro. Pois certo velhote que viaja comigo, e que me contou já haver lido quinze vezes o Dom Casmurro, afirma ter sido ali a morada de Bentinho. Foi para ali que ele se transferiu da rua Matacavalos, sentindo talvez uma diminuição nisso de tornar-se suburbano, parecendo-lhe possivelmente a primeira viagem de trem uma aventurosa expedição de sertanista. E foi naquele sobrado que lhe veio a ideia de escrever a História dos subúrbios. O tal velhote conheceu, em menino, um sujeito idoso que fora copeiro de Bento e, meio revoltado com a sua casmurrice, a sua indiferença pela vizinhança, o vira muitas vezes "hortar, jardinar e ler", como se diz no livro, vendo-o igualmente encher à noite folhas e folhas de papel. Pouco depois dessas informações, o meu companheiro de ônibus apontou para um muro coberto ao mesmo tempo de flores e de cacos de garrafa, e transmitiu-me este comentário: "A alma de Machado era também assim...".

VIVA OS PÁSSAROS JUNINOS

O Pássaro Junino é a única manifestação cultural que só pode ser vista no Estado. É feita pelo amor e dedicação das comunidades da região, que se esforçam e não ganham nada em troca para oferecer um espetáculo à parte à sociedade paraense. Além disso, é pura tradição, pois nasceu no tempo da Belle Époque e, mesmo com tantas dificuldades, até hoje sobrevive. Com isso, não irei cansar de fazer um apelo aos nossos Parlamentares, vamos defender os Pássaros Juninos. E Hoje inicio uma campanha, quem defende a Cultura dos Pássaros Juninos?

Código Florestal: texto aprovado no Senado pode ser recuperado

O GLOBO BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff quer recuperar o texto do Código Florestal aprovado no Senado e derrubado na Câmara. Ela procura, no entanto, uma alternativa para que, vetando parcialmente as 21 modificações, não deixe um vácuo que gere insegurança jurídica para os produtores rurais. O mais provável é que a presidente opte por vetar alguns pontos do texto. Para tanto, uma equipe de técnicos de cinco ministérios prepara sugestões e não descarta um veto total. Para dar opção ao Planalto, líderes do Senado estão costurando acordo para aprovar semana que vem o projeto dos senadores Jorge Viana (PT-AC) e Luiz Henrique (PMDB-SC). Dilma avaliou que não poderá assinar abaixo do texto aprovado pelos deputados. Isso porque ele cassa o acordo entre o governo e ruralistas na fase anterior do trâmite da matéria, no Senado, e retoma a anistia aprovada pelos deputados em maio do ano passado para quem desmatou em beiras de rios (APPs). — A presidente está querendo uma fórmula para recolocar o texto do Senado e dar tratamento diferenciado aos pequenos produtores de um a dois módulos. Seria um sinal para os pequenos produtores e atrairia setores mais resistentes — disse Viana.

Senador Randolfe Rodrigues diz que há setores fascistas no PSOL

Quarta-feira, Maio 09, 2012 Senador Randolfe Rodrigues diz que há setores fascistas no PSOL
Parlamentar, que já pertenceu ao PT, não nega boatos de que pode deixar o partido. Em OGlobo. "Eles não leram uma obra básica do Lenin: Esquerdismo, a doença infantil do comunismo" O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) assumiu o mandato no ano passado como o mais jovem integrante da nova legislatura. Rapidamente, tornou-se um dos mais atuantes parlamentares do Congresso. Combativo e crítico ao governo, tornou-se autor das principais representações contra autoridades, entre elas a que pede ao Conselho de Ética a cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Apesar do momento de glória em Brasília, o senador, de 39 anos, está em crise com seu partido. Filiado ao PSOL desde 2005, quando deixou o PT após 19 anos de militância - começou a militar ainda na adolescência - Randolfe se sente acuado por integrantes da legenda. E não nega que pode sair do partido. - Eu de fato quero um partido de massas, que governe para milhões. O partido tem de avançar para isso. Às vezes, o PSOL se limita a dialogar apenas com um gueto. Esse é o meu incômodo. Vou aguardar as eleições municipais e espero que o partido saia bem. Depois delas, vou definir o que farei - diz. Apesar de ter se projetado nacionalmente, são as questões locais que levaram o senador ao desconforto com a legenda. Segundo ele, a busca por investimentos nacionais e estrangeiros para desenvolver a infraestrutura de seu estado, o Amapá, foi criticada intensamente por correligionários: - Isso foi tido por alguns como uma conversão ao capitalismo. É uma argumentação tosca, inadequada, e não é de esquerda. É fascista. Hitler e Mussolini defendiam a mesma ideia de realidades isoladas, sem diálogo com o mundo. Outro fato que teria ensejado críticas internas foi sua sugestão de criar um museu sobre a luta dos aliados no combate ao eixo nazifascista. Assim como o Rio Grande do Norte, o Amapá abrigou durante a Segunda Guerra uma base aérea dos aliados para apoio ao combate em solo europeu. Randolfe defendia então que o museu fosse construído com recursos do governo do estado e do governo americano. - Quando defendi a construção de um museu sobre a luta dos aliados no combate ao nazifascismo, afirmaram que eu tinha me convertido ao imperialismo. Existe uma lógica autofágica dentro do partido. Não há compreensão de muitos setores a esse espaço do Parlamento. Há uma conversão da idiotice em má-fé. Eles não leram uma obra básica do Lenin: Esquerdismo, a doença infantil do comunismo. O senador diz que hoje não há qualquer partido em vista, mas reconhece que já foi cortejado: - Sempre tem uma troca de charme, mas neste momento é uma resposta que não tenho amadurecida. Fora do PSOL, eu teria dificuldade de saber o caminho. Mas, no espectro político brasileiro, cabe a um partido mais à esquerda que dialogue com a social-democracia, e não que rompa com a social-democracia.