quarta-feira, 15 de junho de 2016

A vida de Ananindeua

Semana passada, a rede record de Belém,  lançou uma pesquisa sobre quem ganharia as eleições deste ano em Ananindeua, atraves do Instituto Paraná,  em que o Pre Candidato a Prefeito Jefferson Lima, aparece com 30, 3%, O atual Prefeito Manoel Pioneiro com 23, 3% e o Deputado Estadual Cel. Neil com 17, 7%. Nessa pesquisa não se viu a rejeição de cada um desses candidatos,  também não apareceu os outros pré candidatos,  será que essa pesquisa e confiável?  Porque não apareceu a rejeição?  Sera que essa pesquisa foi tendenciosa?  Onde iremos parar com esses dados. Jefferson Lima, um cidadão que quando radialista,  falava que nunca iria entrar na vida pública,  pois tinha nojo de política, mas não cumpriu essas palavras,  foi Candidato a Prefeito de Belém pelo PP contra o Zenaldo , passando 2 anos, se lança pelo PP, candidato ao Senado Federal na chapa de Simão Jatene, criticando em palanques a familia Barbalho, em menos de um mês,  esse mesmo cidadão,  troca de lado, apoiando quem ele criticou. Manoel Pioneiro,  Prefeito por duas vezes, deputado estadual,  chegando a Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Pará,  em Ananindeua e muito criticado por sua atual gestão e por fim, o Deputado Estadual Cel. Neil, militar de carreira com 1 ano e meio de mandato no legislativo. Com esses perfis será, que essa pesquisa e verdadeira.?

segunda-feira, 6 de junho de 2016

As esquinas da Lei Rouanet


“Se os desonestos brasileiros
voassem, nós nunca veríamos
o sol.”
(DA)

 
Durante o Governo Collor começaram as primeiras picaretagens, que colocaram a Lei Rouanet como uma prostituta nas esquinas do país, à espera de seus clientes e respectivos gigolôs. É sempre bom relembrar o projeto de uma atriz da Globo, para a realização de um espetáculo para o qual levou um milhão de reais, espetáculo esse que sequer foi concretizado. Posteriormente, um outro ator global teve um projeto de vinte milhões de reais aprovado, para a realização de um filme sobre Assis Chateaubriand, filme esse que ninguém sabe e ninguém viu.
Daí para a frente tivemos empresário que virou dramaturgo e produtor teatral de seus próprios escritos. Como falta a devida fiscalização, o rei do cimento imperou nessa pratica, sem qualquer veto por parte de quem de direito. Durante o período em que Marta Suplicy foi Ministra da Cultura, por sua imposição dois costureiros tiveram aprovados projetos para a realização de desfiles de modas em Paris e nos Estados Unidos.
Cabe aqui uma pergunta: essa questão de desfile de modas não é assunto para outro Ministério? Industria e Comercio talvez, ainda mais com realização fora do país. E os projetos relativos ao Cirque du Soleil? Isenção de milhões de reais por parte dos seus patrocinadores, enquanto o povo tinha que pagar ingressos acima de trezentos reais para assistir. E os mega musicais importados dos States, com ingressos que só a elite econômica do país pode pagar?
Nos anos sessenta e setenta, o Conselho Estadual de Cultura de São Paulo, através de suas várias comissões, patrocinava eventos voltados especificamente à cultura, através de editais para recebimentos de projetos. Na área teatral onde atuei na Comissão Estadual de Teatro, todo espetáculo aprovado fazia uma temporada na Capital ou por cidades do interior paulista, cobrando ingressos populares que nunca ultrapassavam a casa dos dez reais, em dinheiro de hoje. Com isso toda a sociedade tinha condições de assistir aos principais eventos teatrais produzidos em São Paulo.
A aprovação de projetos para o devido culto à personalidade, como é o caso do filme sobre o ex-Presidente Lula, ou outro relativo ao Zé Dirceu, são exemplos pouco edificantes e que mostram de que forma o Governo Federal administra a Lei Rouanet. Isto sem falar em um monumento em homenagem ao funk que teve um aporte de quatro milhões de reais, segundo o que vem sendo veiculado pelas redes sociais. Ter Ministério ou Secretaria, não é o problema, que está diretamente ligado às deturpações que se verificam na utilização da lei de incentivos fiscais.
Enquanto isso o Museu do Ipiranga está fechado a quase três anos, por falta de verbas para sua restauração. E como ele, outros museus padecem do mesmo mal, enquanto os parasitas e mamadores de plantão, se locupletam com o dinheiro do povo, que assiste ao total abandono de nossas raízes culturais fincadas em nosso rico folclore. Enquanto a Lei Rouanet não for reformulada, em uma proposta formulada por Juca Ferreira, que dorme em alguma gaveta do Congresso, continuaremos a assistir esse espetáculo de prostituição explicita.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Papete e Naná Vasconcelos: magos dos ritmos do Brasil

Desde aquele 9 de março em que Naná  se foi e este 26 de maio em que perdemos Papete, os ritmos do Brasil passaram a soar mais tristes e tímidos, menos arrojados e mais carentes de brilho

Ao verificar a trajetória de músicos como Naná Vasconcelos e Papete, é forçoso concluir que a busca por uma cultura nacional-popular, ao contrário do que dizem certos falastrões equivocados, não se confunde com a defesa dos valores artesanais, do passadismo canhestro, da rusticidade ‘folquilórica’, da caducidade de linguagem e da precariedade criativa. Nada disso: Papete e Naná Vasconcelos provaram – e muito bem - que o nacional-popular se nutre e convive com a modernidade e com a invenção, sendo um conceito que continuamente se renova e se recicla
MARCUS VINICIUS DE ANDRADE*
A vida deu-me o privilégio de conviver e trabalhar com dois dos maiores percussionistas do Brasil: Papete e Naná Vasconcelos. Infelizmente, neste ano de 2016 tive a desventura de perder ambos os amigos, mortos num intervalo de dois meses e meio de diferença. Desde aquele 9 de março em que Naná se foi e este 26 de maio em que perdemos Papete, os ritmos do Brasil passaram a soar mais tristes e tímidos, menos arrojados e mais carentes de brilho, como se sentissem a ausência daqueles dois magos que os trataram com tanta dignidade e competência, a ponto de trazê-los para a linha de frente da cena musical.
Conheci Naná em 1966, quando o professor, multiartista e agitador cultural Jomard Muniz de Britto promoveu no Recife um espetáculo de que participávamos eu, Terezinha Calazans (depois conhecida nacionalmente como Teca Calazans), Marcelo Melo e Toinho Alves (que viriam a fundar o Quinteto Violado), o que seria meu futuro parceiro Geraldo Azevedo e outros artistas, entre os quais um crioulinho simpaticíssimo que sabíamos apenas ser baterista do Quarteto Iansã e antigo músico da Banda da Prefeitura do Recife. Era Naná, também conhecido como Juvenal de Holanda Vasconcelos. Naquele espetáculo, ele literalmente "deu um show" quando, largando a bateria, cantou e dançou maravilhosamente uma música de Ataulfo Alves, tocando também vários instrumentos de percussão. A partir de então, Naná passou a ser figura essencial na música pernambucana. Na época, embora ainda no auge, a bossa-nova começava a tornar-se repetitiva e algo enfadonha, e alguns compositores (eu, inclusive) já andavam atrás de novas opções em termos de linguagem, buscando fugir daquele esquema clássico de banquinho-e-violão e, mais ainda, daquele acompanhamento rítmico de bateria cool, com vassourinha na caixa, bumbo leve e toques sincopados de caixeta. Isso era muito bom para a bossa-nova, mas insuficiente para quem quisesse enveredar por outros toques e caminhos que nos eram oferecidos pela exuberância rítmica brasileira. Ao ouvir Naná fazendo música nova e sofisticada com instrumentos de percussão tradicionais, retirando-os de seus contextos sonoros habituais e trazendo-os da cozinha acompanhante para a sala da frente do discurso musical, percebemos que havia ali um imenso campo de possibilidades. Em 1969, quando da diáspora musical pernambucana (em grande parte causada pelo terror que foi o AI-5, promulgado em dezembro do ano anterior), muitos de nós já estavam residindo no Rio de Janeiro, onde passei a dividir um apartamento com Naná.  Não eram raros os shows coletivos com todo o ‘grupo pernambucano’ exilado no Rio, no entanto éramos eu, Geraldo Azevedo e Naná os que mais costumavam se apresentar juntos, a ponto de pensarem que formávamos um trio. Nesses espetáculos, executávamos músicas do Nordeste, dizíamos um monte de bobagens divertidas e mostrávamos as primeiras obras de minha parceria com Geraldo. Mas foi ali que Naná, abandonando definitivamente a bateria, começou também a mostrar seus experimentos com a tumbadora e o berimbau, este até então um instrumento restrito ao universo da capoeira. Nas mãos de Naná, porém, tanto o berimbau como a tumbadora ganhavam aspectos de alta contemporaneidade, produzindo timbres e acentos inusitados, comparáveis aos sons de Varése, Boulez, Messiaen e outros magos da contemporaneidade vanguardista. Em nossos ensaios no apartamento do Flamengo (ao qual eventualmente assistiam Milton Nascimento, Elomar e outros amigos), eu já me admirava com o tanto de novidade que Naná podia extrair daqueles instrumentos tão ‘batidos’. O mundo -duas doses atrasado, como dizia Humphrey Bogart - só veio a ouvir isso algum tempo depois. Verdade é que Naná tava mesmo lá na frente.
O mesmo ocorria com a música de Papete, que conheci em 1976, quando ele integrava o elenco do Jogral, templo da música paulistana, então capitaneado por Paulo Vanzolini, Luis Carlos Paraná e Marcus Pereira, três bambas que dispensam comentários. A exemplo do que fazia Naná ao descapoeirar o berimbau, também Papete (José de Ribamar Viana, um Ribamar como todo maranhense que se preza) costumava meter seus instrumentos em fria, convocando-os sem o menor pudor para todo e qualquer gênero que se tocasse na casa. Assim, nas madrugadas do Jogral, não era raro ouvir o berimbau de Papete intrometendo-se num fado cantado pela Paula Ribas, ou seu tambor-onça maranhense saracoteando numa guarânia do Luis Carlos Paraná. E o mais interessante é que tudo combinava maravilhosamente, só faltando mesmo ouvir-se um pandeiro acompanhando uma marcha-fúnebre, o que não ocorreria então porque ninguém ali tinha a desagradável ideia de morrer. Algum tempo depois, Paraná, Marcus Pereira e Vanzolini tiveram de aceitar essa ideia, mas sei que o fizeram a contragosto, sob protestos.
Pois bem, voltando a Papete... Em 1976, ele tinha gravado pelo legendário selo Discos Marcus Pereira, um LP intitulado Pepete, Berimbau e Percussão, no qual exibia todas as estripulias sonoras que apresentava no Jogral. Como se achasse pouco, Marcus Pereira exigiu-lhe mais: dois anos depois (já tendo eu assumido a Direção Artística daquela gravadora), Marcus sugeriu a Papete que se voltasse para a música de seu Maranhão natal, daí surgindo Bandeira de Aço, um disco referencial, que mudaria para sempre a história musical daquele estado. Pela primeira vez, o ritmo e as melodias das toadas do bumba-meu-boi chegavam ao disco em linguagem moderna, a partir do que os festejos maranhenses de S. João nunca mais seriam os mesmos. Com esse disco, Papete não só revelou uma talentosa geração de autores locais (Josias Sobrinho, Godão, Sergio Habibe e outros), como também chamou a atenção do Brasil para a riqueza musical do bumba-meu-boi, transformado hoje em principal referência cultural do estado. Os festejos juninos do Boi, outrora tratados como mera curiosidade popularesca, estão hoje, para o povo maranhense, como estão o carnaval dos trios e do axé para o povo baiano.
Estive ao lado de Naná e, principalmente de Papete, em quase todos os momentos de suas vidas. Extinta a Discos Marcus Pereira, tomei a iniciativa de convocar Papete (assim como vários outros velhos companheiros de propostas discográficas) para a Gravadora CPC-UMES, onde damos continuidade à boa e velha luta pelo melhor da Música Brasileira, que, tal como a luta com as palavras, é aquela luta mais vã pela qual “no entanto lutamos, mal rompe a manhã”, como diz o grande Drummond. Na CPC-UMES, Papete gravou o CD Jambo e, no ano passado, aquele que é o seu último registro fonográfico, um CD duplo que agrega um disco com obras recentes (Sr. José) e outro que é uma releitura do clássico Bandeira de Aço. Creio que nossa parceria com Papete não poderia ter tido termo mais honroso.
Ao verificar a trajetória de músicos como Naná Vasconcelos e Papete, é forçoso concluir que a busca por uma cultura nacional-popular, ao contrário do que dizem certos falastrões equivocados, não se confunde com a defesa dos valores artesanais, do passadismo canhestro, da rusticidade ‘folquilórica’, da caducidade de linguagem e da precariedade criativa. Nada disso: Papete e Naná Vasconcelos provaram – e muito bem - que o nacional-popular se nutre e convive com a modernidade e com a invenção, sendo um conceito que continuamente se renova e se recicla. Junto a estes dois percussionistas se poderia citar também Airto Moreira, outro notável renovador, nacional, popular, moderno e eterno como tudo que é verdadeiramente bom. Essa santíssima trindade da percussão brasileira reúne, pois, os primeiros nomes que, individualmente, se projetaram como performers e virtuoses dos instrumentos que executam. Com Naná, Papete e Airto Moreira, a percussão do Brasil passou a ocupar também o centro dos palcos, ganhando seus próprios e merecidos holofotes. Já não era sem tempo, na terra onde se diz que o ritmo está em tudo.