quarta-feira, 27 de abril de 2016

RESPEITO A CULTURA POPULAR EM BELÉM






Todos os anos, uso esse espaço virtual para pedir apoio e ao mesmo tempo tentar SENSIBILIZAR parlamentares e a própria sociedade, para que olhem com carinho para cultura popular que dentro de seu conceito entende-se: CULTURA POPULAR é uma expressão que caracteriza elementos culturais específicos de uma sociedade ou região, esse conceito está atrelado a uma outra palavra que é FOLCLORE que significa: conjunto de costumes, lendas, provérbios, manifestações artísticas em geral, preservado por um povo ou grupo populacional, por meio da tradição oral, populário.. Se observarmos é lindo os dois conceitos com duas lindas palavras. Pois bem, infelizmente o Poder Público e diga-se de passagem o municipal não sabe e nem zela por essas duas palavras, muito menos por esses dois conceitos. Durante anos, venho discutindo com a gestão cultural do Município de Belém, o respeito pelas tradições culturais folclóricas existentes no município, mas nunca deram atenção a essa discussão e diga-se de passagem não é de hoje. A Fundação Cultural do Município de Belém existe dês do ano de 1989, através de lei criada pelo Prefeito Said Xerfan, A mais de 15 anos venho brigando a favor de uma vertente cultural que só existe aqui no Pará, vertente essa, que nasceu na belle epoque, e que não tem mistura e não veio de outra região ou pais, Os Pássaros Juninos, Os Cordões de Bichos e os Cordões de Pássaros, em Belém, ja se teve mais de 25 manifestações desse nivel, mas com o descaso e desrespeito do Poder Publico Municipal muitos deixaram de hoje esterem abrilhantando, a Quadra Joanina ou Quadra Junina,e isso, aconteceu independente de gestor e partido politico. Mas esse ano a falta de RESPEITO, COMPROMETIMENTO e VALORIZAÇÃO ultrapassou dos limites. Os Pássaros tem uma estrutura para palco italiano, os cordões para palco de rena, mas nem isso temos, O Teatro Escola São Cristovão entregue as baratas, um teatro experimental que o Prefeito Helio Gueiros, entregou para a cultura popular, um certo prefeito na époa fez o favor de desativar, já se apresentou em Escola Circo, Anfiteatro do Memorial dos Povos Imigrantes, no Auditorio do Museu , no Cine Olimpia, mas em um local digno NUNCA. Hoje 27/04 a Fumbel chama os grupos para um conversa e lá, IMPÕE as regras: Existe 18 grupos entre Pássaros, Cordões de Pássaros e Bichos, em Belem e nos Distritos DAMOS, DAOUT e DAICO, 25 Bois Bumbás e bumbas, 4 Casamentos na Roça, 15 Grupos Parafocloricos e mais de 50 Quadrilhas Juninas e diga-se de passagem as quadrilhas ( não tenho nada contra pelo contrário pois sou folclorista) recebem auxilio montagem, tem uma mega estrutura de apresentação e gritam dentro da FUMBEL, seus técnicos gritam que só gostam de quadrilhas.Pois bem, na reunião de hoje esses ditos TÉCNICOS que não conhecem os conceitos à cima citado nesta postegam, IMPÕE: Só terão direito a participar da quadra joanina 10 Pássaros, 10 Bois, alguns Parafolclóricos e nem um Casamento na Roça, a Estrutura irá voltar para Pça. Waldemar Henrique. Nada contra a praça, mas estamos sabendo que isso é por conta que Belém irá sediar o festival Nacional de Quadrilhas e só se tem dinheiro para tal, os grupos recebem um mísero cache que antes era de R$ 2.ooo,00 e isso, para custear as despesas, na reunião de hoje irão receber R$1.500,00 e com desconto de 16% ficando em R$ 1.200,00 salvo engano. ORA QUE ISSO, ESTAMOS EM UM ANO ELEITORAL , CADE A COMISSÃO DE CULTURA DA CAMARA MUNICIPAL? SERÁ QUE ESSA COMISSÃO É SO PRA GRITAR PELA LEI VALMIR? CADE O RESPEITO, SACANAGEM, SEM SEM-VERGONHICE, MAS TODO MUNDO VAI NOS GRUPOS PEDIR VOTO E DIZER QUE APOIA A CULTURA POPULAR. No mes de Fevereiro a Fumbel INVESTE no CARNAVAL, para que depois o próprio carnaval DESMORALIZE essa FUNDAÇÃO. NESTE MOMENTO ACLAMO A QUEM QUER SEJA , AJUDE-NOS ESTAMOS SÓ, QUEREMOS RESPEITO.MAIS UMA VEZ CADE OS VEREADORES? 
NÃO ESTOU FAZENDO CAMPANHA PRA NINGUÉM, ATÉ POR QUE NINGUÉM NUNCA OLHOU PARA NÓS E SIM PEDINDO RESPEITO!





sexta-feira, 22 de abril de 2016

ORAÇÃO A SÃO JORGE

Ó Deus onipotente, Que nos protegeis Pelos méritos e as bênçãos De São Jorge. Fazei que este grande mártir, Com sua couraça, Sua espada, E seu escudo, Que representam a fé, A esperança, E a inteligência, Ilumine os nossos caminhos... Fortaleça o nosso ânimo... Nas lutas da vida. Dê firmeza à nossa vontade, Contra as tramas do maligno, Para que, Vencendo na terra, Como São Jorge venceu, Possamos triunfar no céu Convosco, E participar Das eternas alegrias. Eu  andarei  vestido  e  armado, com as armas  de  São Jorge. Para  que  meus inimigos tendo  pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem, nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal. armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas  e  lanças  se  quebrem  sem  ao  meu corpo chegar, cordas  e correntes se quebrem sem ao meu corpo,  amarrar.        

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Guerra do Contestado: a luta de um povo contra a usurpação de Farquhar

A Guerra do Contestado: a luta de um povo contra a usurpação de Farquhar
Na próxima semana, em nossa edição do dia 21, em homenagem a Tiradentes e à Inconfidência Mineira, publicaremos, com o site América do Sol, suplemento sobre a espoliação de nossos minérios.
Hoje, nosso tema é o livro “A Sangrenta Guerra do Contestado”, do jornalista Paulo Ramos Derengoski.
Há tempos estávamos para escrever sobre o trabalho de Derengoski, uma raríssima reconstituição dos fatos de um dos episódios mais desconhecidos da nossa História. Por fim, optamos por expor um extrato da própria obra.
A Guerra do Contestado começou com a usurpação da “Southern Lumber Corporation”, uma gigantesca serraria pertencente ao notório norte-americano Percival Farquhar, sobre as terras da região fronteiriça na época disputada pelo Paraná e Santa Catarina. Em uma região onde o Estado nacional estava ausente, uma extensa área foi expropriada - o que fez a revolta, que tomou forma mística, explodir.
C.L.
PAULO RAMOS DERENGOSKI
Os Sertões do “Contestado”, nos atuais limites entre Paraná e Santa Catarina: seus primeiros habitantes foram índios kaingang e xokleng que ali corriam livremente, pescando e caçando nos afluentes do Iguaçu e do Negro, por entre os verdes vales do rio do Peixe e as escarpas azuladas do morro do Taió.
Só bem mais tarde é que vieram bandeirantes e predadores paulistas, com instruções precisas do preposto colonial do Marquês de Pombal - o Morgado de Mateus - para impedir que bugres guaranis, padres jesuítas, irregulares gaúchos e o rebotalho da soldadesca castelhana fincassem pé na margem direita do rio Uruguai, ocupando os ricos campos nativos da Serra-Acima, onde se espalhava gado selvagem e bagualada xucra.
Assim, desde o início, estabeleceu-se naqueles ermos uma aguerrida frente patriarcal, pastoril e paramilitar.
Com o tempo, o sistema de estratificação social tornou-se rígido. Ali, nos carrascais, a presença da religião era quase nula - e a cruz não chegou a acompanhar de perto a marcha desbravadora da espada, do bacamarte e do chicote, como aconteceu no resto do país.
Na virada do século, acentuou-se a exploração da erva-mate, então exportada em grandes quantidades para o Prata, tornando a área cobiçada por negociantes vindos do Norte.
Nesta ocasião, o governo republicano fez uma grande concessão à “Southern Lumber Corporation” - a maior serraria do mundo — outorgando-lhe quinze quilômetros de terras, campos e pinheirais para cada lado dos trilhos de uma longa e sinuosa ferrovia, que a “South Brazil Railway” e o “Sindicato Farquhar” se comprometiam a construir entre o Paraná e o Sul.
Foi então que milhares de caboclos que estavam ali fixados perderam seus “teres e haveres” do dia para a noite, desalojados para sempre de suas roças miseráveis e de seus ranchos improvisados, criando-se um clima de tensão social.
Até mesmo os médicos e grandes proprietários foram atingidos pela brutal desapropriação. E muitos deles eram imigrantes gaúchos, afeitos às lutas e entreveros do Sul, com a cabeça feita pelas antigas façanhas dos farrapos, com antepassados egressos das campanhas militares fronteiriças.
 A “GUERRA”
 A Guerra do Contestado — corria o ano de 1912 e muitas foram suas causas remotas e iniciais: aberrações sociais, patologia econômica, questões limítrofes entre estados, arrocho fiscal, surto messiânico, fanatismo religioso, disputas políticas provincianas, luta pela posse de terras, cobiça por pinheirais, açambarcamento de erva-mate, avanço de grupos estrangeiros, grilagem, ignorância, milenarismo, miséria...
Devido à falta da presença física da Igreja na região, o alimento espiritual daquele povo sempre fora fornecido pelos profetas, mandraqueiros, mágicos e benzedores que por ali viviam.
Dentre eles, destacou-se a figura patética de “São” João Maria(e os historiadores depois provariam ter existido mais de um João Maria), milagreiro e líder nato, venerado por populacho de Serra-Acima. Mas foi um de seus discípulos mais ousados — José Maria — quem acendeu o pavio da guerra.
Barbudo, atarracado, cabeçudo, indiático, José Maria havia sido soldado raso da Polícia Militar do Paraná e não era um despreparado, embora trouxesse estampado (no fácies e na fala) os traços característicos da paranoia. Não por acaso, seu livro de cabeceira — do qual nunca se separava — era “Carlos Magno e os Doze Pares de França”, donde tirava histórias fantásticas para contar e recontar aos caboclos embevecidos.
Depois de muito perambular pelo sertão, ele se estabeleceu nos campos do Irani e resolveu “proclamar a monarquia” nos sertões de Taquaruçu.
E o Estado do Paraná, que então cobiçava a região, logo embalou uma expedição militar que seria chefiada pelo coronel João Gualberto, com ordens precisas para dispensar os fanáticos e trazê-los maneados um a um, para fazê-los desfilar nas ruas de Curitiba.
O choque armado que, em breve, iria se travar foi uma escaramuça quase. Um entrevero apenas. Uma pequena fagulha, se comparada com o vasto e incontrolável incêndio que durante quatro longos anos iria se alastrar pelos sertões do planalto em chamas.
A chamada “Guerra do Contestado” foi um dos episódios mais sangrentos da nossa história. Uma saga à altura do grande massacre de Canudos, lá nos sertões do Vaza Barris.
Mas que não teve, a descrevê-la, o talento de um Euclides da Cunha.
CAUSAS
 A duplicidade entre o fato e o argumento, entre o sono e o sonho, entre o real e o imaginário, entre o consciente e o inconsciente, sempre foi uma característica dos apocalípticos, dos catastróficos, dos profetas do caos, dos adventistas do “Millenium”.
É só isso que os mantém suspensos entre o céu e a terra - entre o inferno e o paraíso...
Em todo o mundo, das várzeas lamacentas do Ganges aos abismos do delírio místico de Machu Picchu, atravessando os desertos ressequidos da Palestina ou as montanhas escarpadas do Tibet, as promessas messiânicas - seus paraísos e seus infernos - nunca se destinaram a indivíduos isolados, mas sim às grandes coletividades.
O reino milenarista sempre foi - sempre será - um reino futuro: pelo qual se espera em expectativa mística, em respeito, em genuflexão, em sofrimento, em dor... Como veremos a seguir.
 AS BAIONETAS DE SANTO ANTONIO
 A vitória dos jagunços catarinenses na sangrenta batalha de Caragoatá - em 8 de março de 1914 - alterou completamente a correlação de forças na região contestada com o Paraná.
O incêndio continuou a se alastrar cada vez mais forte, empurrado pelo vento milenar da vingança, crepitando, estalando pelas trilhas do planalto em chamas, alimentado pela fome das alucinações místicas, dos transes - das visões se clareando...
Entusiasmados com os próprios êxitos, novos cabecilhas rebeldes - como o tropeiro Chico Alonso, o rábula Antônio Tavares, o ex-marinheiro alemão Henrique Wolland, o peão Adeodato Ramos e os irmãos Sampaio - fundam outros redutos e se espalham como água pelas veredas do sertão. Desde a margem esquerda do áspero Iguaçu, descendo pelos íngremes vales do Peixe, até as barrancas pegajosas do Uruguai, tudo aquilo era um território em ebulição: um tremedal.
A partir de abril de 1914, audaciosos bandos de fanáticos fortemente armados e sempre com uma fita branca amarrada no chapéu de abas largas - símbolo da “Irmandade Santa” - passaram a varejar as estradas em todas as direções da rosa dos ventos. Invadiam fazendas, preavam animais, confiscaram gêneros e arreios - e ainda submetiam os prisioneiros a brutais julgamentos sumários.
O menor castigo que aplicavam era uma surra de vara de marmelo: sobre as feridas sanguinolentas derramavam salmoura viva. Mas também recorriam à degola pura e simples — o “refresco”, na gíria dos carrascais.
O GENERAL MESQUITA
 Tal efervescência logo acionou uma reação ainda mais forte. Um veterano da campanha dos Canudos, o general Carlos Mesquita, recebeu ordens do Rio de Janeiro para se dirigir ao teatro das operações e “liquidar de vez com a agitação fanática”.
Tratava-se de um oficial da velha escola, estudioso da obra de Napoleão Bonaparte e com uma concepção clássica da arte bélica.
Chegando ao local do conflito, ele caiu na realidade: um clima de surdo descontentamento minava toda a região. A tropa estava extenuada - a pé - e a alimentação era rala. O moral era zero: muitos habitantes do lugar achavam que os jagunços eram imbatíveis, que tinham se transformado em “acauãs”, guerrilheiros sagrados da Mãe da Lua, que só apareciam à noite, nas trevas invisíveis. Além disso, os conflitos entre os militares que provinham de outras regiões do país e os potentados locais eram constantes. O próprio general Mesquita chegou a mandar prender - amarrado na roda de uma carreta - um negociante local de erva-mate (de nome Micchinis), acusando-o de “negativamente patriota e supinamente explorador”.
 O ATAQUE
 No dia 17 de maio de 1914, depois de fazer um rápido levantamento cartográfico da área, o general Mesquita atacou, à frente de 1.700 homens, aos quais haviam se incorporado duas seções de artilharia de montanha. A força atacante se dividiu em duas colunas, e num movimento de pinças cercou o Reduto de Santo Antônio, encravado no alto de um chapadão, cercado de rincões, mataria e itaimbezais. Mas depois de algumas horas de marchas forçadas por entre as galharias, troncos podres e raízes, uma chuva de balas deteve uma das colunas.
Apesar disso, o general Mesquita manteve o plano original e continuou a avançar. Por volta das cinco horas da tarde suas metralhadoras já cuspiam fogo sobre o acampamento rebelde.
Consciente de sua superioridade e rápido na ação, o comandante logo ordenou um assalto à baioneta calada, e antes de a noite cair, o toque de vitória ressoou dentro do reduto - que, no entanto, tinha sido abandonado. Até ali as baixas legalistas tinham sido cinco mortos e três feridos. Doze cadáveres de jagunços foram contados entre os destroços.
Temeroso de um contra-ataque, o general Mesquita mandou levantar acampamento de volta na madrugada de 18 de maio - um dia chuvoso, frio e borrascoso, como acontece nessa época no planalto. Durante a penosa marcha de retorno, a tropa foi alvejada inúmeras vezes por tiroteios esparsos e certeiros, vindos do alto das copas dos pinheirais e do oco das imbuias seculares. Era um aviso de que o jaguncedo não pretendia arredar pé das montanhas.
Assim - antes de terminar - a luta recomeçava. Os canhões ainda abriam fogo com grandes estrondos no interior da mataria: a galhada se quebrava, os troncos despencavam - as cobras se encolhiam em seus ninhos - e os jagunços davam gritos e gargalhadas medonhas. Avisavam: dali não sairiam.
No dia 19 de maio, a tropa do general Carlos de Mesquita entrava em Porto União carregando seus mortos e feridos. Havia arrasado o Reduto de Santo Antônio, mas deixara incólumes as “cidades-santas” de Caragoatá, Tamanduá, Tavares, Perdizes, Aleixo e Santa Maria.
Depois desse episódio, dessa vitória (ou derrota, ninguém sabe), os fanáticos ficaram ainda mais convencidos de que o “exército encantado de São João Maria” - o Colosso - já descia das nuvens do céu para intervir na luta e decidir a sorte da guerra santa.
Para aumentar a confusão, o general Mesquita pediu demissão sumária no dia 29 de maio, dando por encerrada sua missão. Dizia ele textualmente, conforme reprodução do “Relatório Soares” (págs. 47-48): ... “Não me competia mais andar com forças federais à caça de bandidos, como capitão- do-mato do tempo de escravatura. Aos governos compete agora, com suas forças policiais, exterminar os bandidos que apareceram, limpando assim a zona de elementos perniciosos. Em parte a culpa é dos referidos governos... que descuram da instrução, deixando a ignorância campear livremente... chegando o fanatismo a constituir grupos, como o que acabo de liquidar numa vitória inglória...”
Palavras, palavras, palavras...
Mas o fato é que, depois da Expedição Mesquita, a caboclada passou a acreditar como nunca nos sonhos e fantasias de seus profetas, na espera do advento do “Milênio”, na expectativa paradisíaca da ressurreição do “deus dos carrascais...”
O caudal do messianismo engrossava. A loucura desembestava...

Impeachment de Dilma ainda precisa passar pelo Senado; saiba como vai funcionar

Com o sinal verde dado neste domingo (17) pela Câmara dos Deputados para abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o futuro do mandato presidencial está agora nas mãos dos 81 senadores.
Nesta segunda-feira (18), o processo será enviado ao Senado e no dia seguinte (19) lido no plenário da Casa. Ainda na terça-feira, os líderes partidários deverão indicar os 42 parlamentares que vão compor a comissão que analisará o assunto no Senado, com 21 titulares e 21 suplentes. A comissão tem prazo de 48 horas para eleger o presidente e o relator. Por causa do feriado de 21 de abril, nesta quinta-feira, isso deverá ocorrer somente na segunda-feira (25).
Os integrantes da comissão especial serão definidos conforme a proporcionalidade dos partidos ou dos blocos partidários. A partir daí, o colegiado terá dez dias para apresentar um relatório pela admissibilidade ou não do processo de impeachment. O que ainda não está claro é se são dias corridos ou dias úteis. O parecer será votado na comissão e independentemente do resultado também será apreciado pelo plenário do Senado. Em ambos os casos, a votação será por maioria simples.
Afastamento
Caso aprovada a admissibilidade do processo pelo Senado, o que deve ser decidido entre os dias 10 e 11 de maio, a presidenta Dilma Rousseff será notificada e afastada do cargo por um prazo máximo de 180 dias, para que os senadores concluam o processo. O vice-presidente da República, Michel Temer, assume o posto. Mesmo se for afastada, Dilma manterá direitos como salário, residência no Palácio da Alvorada e segurança. Nesse período, ela fica impedida apenas de exercer suas funções de chefe de Estado.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Josué Guimarães visita o Mosfilm: o cinema da URSS na década de 50

 Josué Guimarães é hoje um autor decisivo na história da literatura brasileira.
Surpreendentemente, sua obra ficcional, iniciada com o livro de contos “Os Ladrões” (1970), foi toda criada após o golpe de 1964, quando Josué enfrentou uma odiosa perseguição – durante um tempo, viveu na clandestinidade, até ser preso em 1969, em Santos; posteriormente, recorreu ao uso de pseudônimos para conseguir publicar alguma coisa na imprensa.
Em período de menos de 20 anos (ele faleceu em 1986), o escritor gaúcho escreveria “Depois do último trem”, “É tarde para saber”, “Os tambores silenciosos” - talvez a sua obra mais conhecida - “Dona Anja”, “Enquanto a noite não chega”, “Camilo Mortágua”, “Amor de Perdição”, os dois primeiros volumes de “A Ferro e Fogo” (ele não teve tempo para terminar o terceiro e último volume), uma série de livros para crianças (“A casa das quatro luas”, “Era uma vez um reino encantado”, “A onça que perdeu as pintas”, “Meu primeiro dragão”, “História do agricultor que fazia milagres”, “O avião que não sabia voar”, “A última bruxa”), mais dois livros de contos (“O cavalo cego” e “O gato no escuro”) e uma peça de teatro (“Um corpo estranho entre nós dois”).
Antes de 1964, Josué foi, sobretudo, jornalista (desde 1939, quando mudou para o Rio de Janeiro) e político (em 1951, foi o vereador mais votado, pelo PTB, em Porto Alegre, e vice-presidente da Câmara; depois, foi chefe de gabinete de João Goulart na Secretaria de Justiça do Rio Grande do Sul, e, no governo Jango, de 1961 a 1964, foi diretor da Agência Nacional).
Pois foi este homem que, em 1952, realizou uma viagem à União Soviética e à China Popular. Desta viagem resultou o livro “As Muralhas de Jericó”, que jamais foi publicado em vida do autor.
Espantosamente, é seu primeiro livro, e já mostra todas as qualidades de estilo que se revelariam 18 anos depois, quando iniciou sua série de contos, romances e novelas.
O título é uma espécie de trocadilho ideológico: Josué, o personagem bíblico, sucessor de Moisés, fez ruir, ao som de trombetas, as muralhas da cidade de Jericó; já o moderno nacionalista Josué Guimarães pretendia, com seu livro, fazer ruir – nem que fosse um pouquinho - a cortina de ferro de desinformação, que o imperialismo levantara em torno da URSS e da China.
Não sei até que ponto é confiável a história, contada pela prefaciante da edição publicada pela L&PM, de que teria sido Getúlio Vargas, então presidente da República, quem aconselhou Josué Guimarães, em jantar no Palácio do Catete, a não publicar seu livro de viagem “para não perturbar a ordem estabelecida no país”.
Não parece o estilo de Getúlio, em geral muito cioso no respeito ao espaço alheio, e cuja atividade consistia, precisamente, em mudar “a ordem estabelecida no país” - o que fez até ao extremo do próprio sacrifício.
A prefaciante atribui essa suposta informação a familiares de Josué Guimarães.
Pode ser, mas, tanto esse prefácio, quando as notas acrescentadas ao livro pela mesma prefaciante, não inspiram muita confiança. De forma geral, ela demonstra todos os preconceitos anticomunistas que Josué Guimarães jamais demonstrou – e que, no texto, faz um tremendo esforço para combater, esperando que seus leitores os superem, e apontando o bloqueio da imprensa ocidental pelo imperialismo como responsável pelas deformações em relação à URSS e à China daquela época.
Em relação a esse problema da edição, ficaremos por aqui, acrescentando apenas que algumas notas revelam uma deplorável ignorância (por exemplo, não é verdade que a URSS tenha adotado uma “política de isolamento”, que Churchill descreveu com o termo “cortina de ferro” - pelo contrário, Churchill estava atribuindo aos soviéticos o resultado da política imperialista de bloqueio à URSS; e também não é verdade que a Komintern – a Terceira Internacional – tivesse por objetivo “estabelecer a sujeição total dos partidos comunistas de cada país”; se fosse assim, jamais haveria revolução na China).
Mas nada disso prejudica – ou nem isso é capaz de prejudicar – o valor literário e histórico de “As Muralhas de Jericó”.
Nesta página, o leitor poderá ler uma pequena amostra. É o relato que Josué faz de sua visita ao Mosfilm, um dos maiores estúdios russos da época (e, aliás, até hoje, como se pode constatar pelas duas Mostras Mosfilm de Cinema, realizadas no Brasil, em 2014 e 2015).
C.L.

JOSUÉ GUIMARÃES
Estamos na sala de projeções do único cinema em três dimensões de Moscou. É um cinema, como eles próprios dizem, em período experimental. O povo assiste aos filmes coloridos, depois, se quiser, poderá mandar as suas observações para os estúdios produtores.
É uma sala pequena, talvez para trezentos espectadores. O prédio é velho e adaptado, as cadeiras são numeradas como, aliás, em qualquer outro cinema da União Soviética. Não há perigo de superlotação e ninguém pode entrar após a projeção da película. A frase que mais se lê em qualquer lugar de Moscou é o clássico É PROIBIDO FUMAR, os cinemas não são exceção da regra, antes pelo contrário, não se pode fumar na sala de projeção nem sequer no saguão de entrada. Fumar mesmo só na rua, se o vício for maior que o medo ao frio.
A tela é de vidro e pequena, de acordo com o tamanho da sala, e apresenta raiaduras em diagonal, entre vidro fosco e brilhante. Receberíamos óculos de papelão, com papel celofane verde e encarnado? Não. Eles eliminaram o invento norte-americano dos óculos, por impraticável, criando um outro sistema que, se não estou enganado, se resume no uso de telas de vidro superpostas e dupla, ou tripla, projeção.
Há um ponto ideal para que nossos olhos encontrem a terceira dimensão, e se faz necessário manter a cabeça em determinada posição. E o que se vê assim é simplesmente assombroso. A tela se transforma, de repente, numa grande janela aberta. As cenas se desenrolam como se nós, os espectadores, estivéssemos debruçados num janelão, enxergando a profundidade de maneira impressionante. Bastará, entretanto, tirar a cabeça daquele ponto ideal para a imagem se tornar menos luminosa e sem profundidade. Esse é o defeito que está mobilizando os técnicos soviéticos de cinema, desejosos todos de encontrar uma solução que alivie o público da imobilidade completa a que está obrigado atualmente. Imobilidade extremamente cansativa.
Mas não resta dúvida que o passo dado pela técnica soviética, proporcionando a terceira dimensão, em cores, em sala comum de projeção, é dos mais avançados na história do cinema. Os objetos tomam volume e a perspectiva é real. As árvores, realmente, balouçam seus galhos, independente de qualquer outra cena de fundo que adquire o seu plano definido na paisagem. E quando alguma coisa avança em direção da máquina, da objetiva, essa alguma coisa se projeta fora da tela como se penetrasse na própria sala onde estamos. A isso tudo, devo acrescentar o perfeito colorido dos filmes soviéticos atuais, considerados como os de maior perfeição em todo o mundo, sem os exageros de cores que estamos acostumados a ver nos filmes tecnicolor, onde em geral o céu é azul carregado, os cavalos são vermelhos e as pessoas são bonecos cor-de-rosa, de cabelos azuis.
Afirmam os que se dizem entendedores de fotografias e de cores que o processo usado na Rússia é Agfa, levado da Alemanha, mas de uma coisa não podemos escapar: é reconhecer que o colorido dos filmes soviéticos é incomparavelmente superior a qualquer similar alemão, mesmo em se tratando de cores no ramo da fotografia. Há, nos dias atuais, no colorido do cinema russo, uma delicadeza maravilhosa de tons. Nuances onde mal sentimos a cor, e muitas vezes as suas paisagens apresentam céus de matizes diversos, desde o alaranjado discreto do crepúsculo ao céu azul-claro dos dias ensolarados. As pessoas em cena têm pele natural e são mais vivas, no entanto, do que quaisquer outras que tenhamos visto anteriormente. Uma prova está num dos poucos filmes coloridos da União Soviética que foi liberado para as plateias brasileiras: Flor de Pedra. Busquemos, pois, nas críticas dos nossos entendidos em cinema, a opinião sobre a técnica da cor dos estúdios de Moscou.
Stalin tem uma frase que foi reproduzida na entrada de um dos maiores estúdios da União Soviética, o Mosfilm: “O cinema, nas mãos do poder soviético, representa uma valiosíssima e inapreciável força”. Lenin tinha ido mais longe ao desejar prestigiar a cinematografia na Rússia, afirmando: “De todas as artes, a mais importante para nós é o cinema”.
Seria avançar muito querer afirmar que essa ou aquela manifestação de arte tenha recebido do governo da União Soviética especial proteção, ou merecido maior atenção. Todos nós sabemos que o balé corre pelo sangue dos russos e a dança faz parte de sua vida, quase dos seus hábitos. Hoje em dia o teatro é uma potência e o autor mais representado continua sendo Shakespeare, o que nos dá bem uma ideia do nível cultural das plateias.
Assim, a despeito das frases de Lenin e dos reforços recebidos da parte de Stalin, não nos aventuramos a afirmar que o cinema tenha merecido atenção especial, quanto mais proteção, mas simplesmente dizer que a sétima arte, tão abandonada no Brasil, é hoje tida na Rússia não só como uma grande e poderosa indústria, capaz de canalizar rios de dinheiro para o povo soviético, como, e principalmente, um meio de levar beleza e bom gosto às multidões.
Não vemos um produtor de filmes na União Soviética lançando estórias de bandidos e mocinhos, de amores triangulares, de crimes, de enredos policiais. Não há o interesse de fazer o filme sensação, o grande golpe de bilheteria. Que foi Flor de Pedra - para citar apenas o mais conhecido - se não uma apoteose de arte, de cores, de bom gosto, enfim?
Mas passemos para a Mosfilm, um dos maiores estúdios de Moscou, situado, praticamente num arrabalde da Capital da Rússia dos nossos dias. Ele faz parte do grupo de cinco grandes estúdios soviéticos que estão dentro dos limites da cidade de Moscou e o valor dos seus estúdios atinge a casa dos cem milhões de rublos. Não há, é natural, magnatas do cinema, e tampouco veremos agentes de publicidade criando estórias de amores e de divórcios entre os principais artistas. O povo todo sabe que as artistas são casadas, em sua grande maioria, e têm filhos e são humanas como qualquer mocinha espectadora. Mesmo porque nem as próprias revistas de cinema — de kino — perdem tempo com futilidade e sensacionalismo. Os redatores especializados entram fundo na crítica do valor da obra apresentada, analisando os seus defeitos e salientando as suas vantagens como obra de arte. Desaparecendo a finalidade comercial como base da produção, os filmes e os produtores se libertam de uma série de injunções materiais, dando largas à imaginação e ao bom gosto.
A Mosfilm produz somente películas coloridas, não se dedicando a trabalhos em preto e branco. Atualmente realiza de doze a quinze filmes de longa metragem. Em geral, uma película requer quatro meses de trabalho. As despesas com cada obra variam de três a nove milhões de rublos. Os filmes mais conhecidos já produzidos pela Mosfilm são: A Queda de BerlimIvan, o TerrívelFlor de PedraA Batalha de StalingradoLenin em OutubroCossacos de KubanEncontro sobre o ElbaContos da Terra SiberianaHomens Valentes e Véspera de Natal, de Gogol, que está sendo produzido em terceira dimensão.
Assistimos em Moscou, em dois dias consecutivos,A Queda de Berlim, considerada a melhor produção soviética, tendo custado a importância de nove milhões de rublos. Ora, valendo o rublo cinco cruzeiros, é fácil avaliar o custo dessa obra monumental que procura retratar - e o conseguiu brilhantemente - a odisseia dos soldados e do povo soviético na luta contra o nazismo. A estória se resume na vida de um jovem e modesto operário russo que obtém o “Prêmio Stalin” batendo todos os recordes de produção individual numa grande usina de aço. Por esse motivo é levado à presença do chefe do governo e participa de um almoço na companhia dos maiores homens da União Soviética. Nesse meio tempo, os alemães invadem a Rússia e dominam as cidades do oeste. O operário ingressa nas forças armadas e consegue um dia chegar até Berlim, quando participa da implantação da bandeira vermelha no alto do Reichstag. O filme reconstitui a conferência de Yalta entre Churchill, Roosevelt e Stalin e retrata os últimos dias de Hitler e Eva Braun nos subterrâneos anti-aéreos, atendo-se, na medida do possível, à verdade histórica, de acordo com documentos encontrados. É uma película forte e impressionante, e as cenas de batalha - quase todas reconstituídas - são de uma autenticidade admirável.
O sistema de salários na indústria de filmes na União Soviética também difere muito do que conhecemos. Um diretor, por exemplo, recebe de cinco a seis mil rublos mensais e, ao finalizar a sua obra, tem o direito a uma espécie de gratificação de setenta e cinco mil rublos. Os principais artistas recebem setenta e cinco por cento do salário do diretor - isto é - de três mil e quinhentos a quatro mil e quinhentos rublos mensais, e ainda a mesma percentagem sobre a gratificação final de setenta e cinco mil rublos, que vem a ser quarenta e cinco mil cruzeiros. Uma organização distribuidora financia os trabalhos prevendo todas as despesas, salários e gratificações e, após, lança o filme no mercado nacional, arrecadando as receitas e prestando contas ao Estado.
Encontramos o diretor Gregorie Alexandrov às voltas com cenas do seu novo filme Glória ao Povo, cuja artista principal é Vinogradova. Tem como operador o célebre Tissé, autor dos melhores trabalhos de câmera na União Soviética. O filme gira em torno da vida do grande compositor russo Glinka, transcorrendo a maioria das cenas na Itália, onde aquele músico obteve os seus maiores sucessos.
Alexandre Prushko - o hoje célebre diretor de Flor de Pedra - nos recebe com um grande sorriso e paralisa a filmagem de seu novo trabalho Sadko. Interessa-se em saber do êxito e da crítica de seu filme no Brasil e agradece os elogios que fazemos à sua obra, onde o colorido atinge toda a sua grandeza. E sobre Sadko - uma antiga lenda russa que já serviu de motivo para uma ópera - diz Alexandre Prushko:
Considero este meu trabalho superior à Flor de Pedra, pois hoje disponho de maiores recursos técnicos.
Horas depois assistimos a quatro partes deSadko, já concluídas e com som, e não tínhamos dúvidas da afirmativa de Prushko: o trabalho será superior a Flor de Pedra. Stolizrov, o principal ator, também trabalhou naquele filme anterior de Prushko, e é considerado hoje um dos maiores e mais queridos atores da União Soviética.
Outro diretor não menos famoso nos é apresentado na Mosfilm: Abraão Room. Ele dirigiu os filmes A Baía da MorteTribunal de HonraO Fantasma que Não Volta, e agora dirige, de Sheridan,Escola de Intrigas, em que atuam todos os grandes atores do famoso Teatro de Arte da Rússia.
Quando esses filmes serão exibidos no Brasil? Não sabemos. Eles não contêm propaganda comunista, não defendem qualquer ideologia. São, na sua grande maioria, obras-de-arte. Enquanto isso, os nossos cinemas repetem velhas películas americanas, na falta de obras novas, e o nosso público bate palmas para sensacionais estórias de gangsters onde sempre o passivo de mortes é assustador.

Me preocupa muito o dia seguinte', diz Marco Aurélio Mello sobre eventual impeachment

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, em seu gabinete na sede da corte em Brasília, atende o telefone celular e responde sobre seu ânimo: “Eu vou muito bem, mas o Brasil, nem tanto”. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, Mello mostra séria preocupação com os rumos do País, principalmente se vingar o afastamento da presidente Dilma Rousseff. E adverte para que não se venda à sociedade a imagem de que teremos “o conserto do Brasil no dia seguinte ao afastamento da presidente.”
Aos 69 anos, o ministro, que afirma que nem pensa em se aposentar, define que o STF vive seu momento mais agudo desde 1988. O magistrado reforça que a corte precisa focar o mundo técnico e jurídico (ao apreciar as razões do impeachment), mas reage ao desembarque do PMDB. “Não entra na minha cabeça que o partido que formou a chapa e tenha o vice-presidente simplesmente rompa com o governo. Não segue a ordem natural das coisas.” E vislumbra: “O movimento que está no contexto é o de substituição, sem dúvida nenhuma, da presidente da República”.
Jornal do Comércio - A presidente diz que impeachment sem fato ou crime de responsabilidade é golpe. O que o senhor acha disso?
Marco Aurélio Mello - Não analisamos no Judiciário o fato ou conotação política do processo, mas o aspecto jurídico, constitucional e legal, que envolve a existência de um fato jurídico que consubstancie crime de responsabilidade. Isso evidentemente pode chegar ao Judiciário, que é a última trincheira da cidadania. Temos de aguardar os desdobramentos e que todos tenham juízo e que haja um apego maior à ética.
JC - É o momento mais difícil do STF?
Mello – Desde a Constituição de 1988, sem dúvida nenhuma.
JC - Como o senhor qualifica estes tempos em que vivemos?
Mello - O Brasil está numa encruzilhada. Precisaríamos definir o rumo a tomar, a partir de fatos que precisam ser apurados, e sabendo de início que não estaremos com dias melhores após o afastamento da presidente da República. O que cumpre à Câmara dos Deputados é verificar se as causas de impedir representam crimes de responsabilidade e se estão provados os fatos. Agora precisamos aguardar, esperar. Me preocupa muito o dia seguinte, ou seja, o fato de a situação atual ser adversa daquela de 1992.
JC - No que é adversa?
Mello – No impedimento do presidente Fernando Collor de Mello não tínhamos os segmentos como hoje. A presidente, considerando o PT, tem. Lá havia um consenso, que se formou e escaneou o impeachment. Hoje em dia, não. O panorama que está no horizonte sinaliza conflitos futuros, e evidentemente o PT estará na oposição.
JC - O que pode acontecer?
Mello – Os segmentos antagônicos se defrontarem na rua, e aí teremos de ver se as nossas forças repressivas, representadas pelas polícias militares, são suficientes para controlar a situação. Se não forem, o último recurso estará na intervenção das forças armadas. Isso nós não queremos, não pretendemos...
JC – O senhor vê esse risco?
Mello – Não tenho a menor dúvida de que não temos ou que falta a compreensão dos interesses nacionais. Não há governança por falta de diálogo. Ou seja, a voz da presidente da República não ressoa no Congresso de forma positiva. Isso é muito ruim, porque os poderes são harmônicos e independentes, mas devem atuar em conjunto.
JC – Isso revela as fraquezas da democracia brasileira?
Mello – O modelo republicano, vencedor no plebiscito de 1993, funciona em outros países, mas precisa haver uma compenetração para se ter presente o coletivo de quem ocupa cargos públicos. Não dá para simplesmente potencializar o interesse individual ou o interesse simplesmente partidário e romper com o Poder Executivo, como o Legislativo acabou rompendo.
JC - O senhor se refere ao PMDB?
Mello - Falo dos partidos em geral, mas não entra na minha cabeça que o partido que formou a chapa e tenha o vice-presidente simplesmente rompa com o governo. Isso é para mim é impensável. Não segue a ordem natural das coisas.
JC - O que o partido pretende com isso?
Mello - O movimento que está no contexto é o de substituição, sem dúvida nenhuma, da presidente da República. Agora que não se venda à sociedade que há uma esperança possível de frutificar, ou seja, que teremos aí o conserto do Brasil no dia seguinte ao afastamento da presidente. O que nós precisamos é de negociação, que as forças que estão se digladiando sentem à mesa e vejam o que é melhor para a nacionalidade e combatam a crise que maltrata o cidadão comum, que é a crise econômica e financeira.

"Não entra na minha cabeça que o partido que formou a chapa e tenha o vice-presidente simplesmente rompa com o governo"

JC - Esse cidadão pode reagir?
Mello - Não, ele está muito apaixonado, passa a querer vísceras, sangue. Como o que foi divulgado em gravações e intercepções telefônicas antes da hora, infringindo a lei também, e o vazamento da delação do senador Delcídio Amaral. É hora de termos os pés no chão e atuarmos com racionalidade.
JC - Qual é a responsabilidade do juiz Sérgio Moro nessas divulgações?
Mello - Sou um entusiasta da atuação da PF, MPF, da magistratura, mas desde que façam de acordo com o figurino legal. Vou repetir a célebre frase de Rui Barbosa: ‘Fora da Constituição, fora da lei, não há salvação’.
JC - O juiz desrespeitou a Constituição?
Mello - Toda evidência da lei é muito clara. A lei determina o sigilo do que foi alvo da intercepção telefônica, principalmente se os fatos passaram a estar sob a jurisdição do STF. Mas aí ele potencializa, numa visão subjetiva e capacidade intuitiva, o interesse nacional e fecha a lei. Se o cidadão comum vazasse o alvo da intercepção, cometeria crime, segundo a lei de regência, mas o legislador não previu a possibilidade de um erro de quem julga.
JC – O juiz não pode ser punido como o cidadão comum?
Mello - Ele personifica o estado, teremos de aguardar o posicionamento das instituições. Fica muito difícil, pois a interpretação é um ato de vontade vinculado ao interpretar o ordenamento jurídico. Precisaremos aguardar os desdobramentos. Não estou julgando o colega, estou apenas dizendo o que proclamo no meu dia a dia no Supremo.
JC - As ‘escusas’ pedidas pelo juiz ao STF serão aceitas?
Mello - Não conheço as informações que ele enviou. Em tese, ele teria revelado um arrependimento. Não sei (se o ato) é perdoável. Os órgãos atuam mediante provocação, não sei se há um pedido em curso visando alguma glosa, tanto no campo administrativo como penal. Não sou o julgador do juiz Moro, não posso me pronunciar.
JC - Qual foi o momento mais agudo dessa crise recente?
Mello - A fogueira já estava com a chama muito alta e aí jogaram mais lenha com o vazamento da delação do senador Delcídio e depois a divulgação da nefasta conversa (Lula e Dilma). Aí se incendiou o País.
JC - Quem poderia fazer o papel de negociador?
Mello - Todos os deputados federais, senadores e a chefia do Executivo, mas é preciso ter vontade política para isso, o que parece que não há. A função do STF não é de conciliador ou mediador, (a corte) age por provocação, a partir da Constituição Federal. Além disso, já temos muito o que fazer.
JC – Parece que as pessoas não estão ligando muito para a Constituição.
Mello - Isso é histórico, desde Roma. O leigo quer vísceras e sangue e, neste contexto em que se sente ludibriado, a paixão prevalece. E isso não é bom na busca de um Brasil melhor. Esse momento revela que o senso democrático, às vezes, não prevalece. A nossa democracia ainda está em consolidação. A partir do momento em que a coisa degringole, que haja a babel, com depredações e vítimas no confronto entre segmentos antagônicos, e as forças repressivas sejam insuficientes, teremos que ter uma medida extrema, mas só neste caso.
JC - Os juízes têm de ser mais reservados em seu ofício?
Mello - Os juízes também são cidadãos, e a crítica técnica e científica tem de haver. A apatia não pode ser o mal da nossa quadra.
JC – Por que o juiz Sérgio Moro foi alçado a ídolo nas ruas?
Mello - Tenho para mim que ele é uma pessoa reservada. Somos carentes de valores e aí, quando surge alguém que, cumprindo o dever, se realça, é tido como herói, como foi também com o ministro Joaquim Barbosa.

Relator do impeachment reafirma que houve crime de responsabilidade e é aplaudido de pé por deputados

O relator Jovair Arantes (PTB-GO) foi aplaudido de pé pelos deputados pró-impeachment durante a reunião desta segunda-feira (11) da comissão. Arantes reafirmou que, na sua opinião, houve crime de responsabilidade e conclamou seus colegas a votarem pelo seguimento do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara.
— São fortes os indícios que as transações financeiras relatadas constituíram um tipo de financiamento bancário configurando a prática do crime de responsabilidade. Conclamo os colegas para acompanharem meu voto e pela consequente pela instalação pelo Senado.

Para o relator, o seguimento do processo também é importante para estancar a crise e devolver a credibilidade para a presidente, caso ela não seja afastada.

— A admissão da denúncia dará chance para que a presidente prove a sua inocência ao Senado, se não autorizarmos a população pode achar que não tivemos coragem. Uma crise dessas só se resolve com aprofundamento das investigações.
Dilma é acusada de crime de responsabilidade pelas chamadas ‘pedaladas fiscais’ e por decretos de crédito não autorizados pelo legislativo.