sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Por que o professor Paul Krugman defende a bandeira do Tio Sam

O economista Paul Krugman, que em suas colunas no New York Times normalmente rebate a defesa de Wall Street, concilia ao “culpar o estrangeiro” por tentar se salvar, ao invés do sistema e seus interesses corporativos, argumenta Michael Hudson no artigo que começamos a publicar hoje

MICHAEL HUDSON *

Eis o dilema no qual a economia dos EUA se encontra: a política do Fed de alívio quantitativo [Quantitative Easing (QE2): a emissão de mais US$ 600 bilhões] – criando mais liquidez de forma que os bancos possam emprestar mais – busca ajudar a economia a “tomar emprestado sua saída da dívida”. Porém os bancos não estão emprestando mais, pela simples razão de que um terço dos imóveis dos EUA já se encontram hipotecados, enquanto os negócios pequenos e médios (que criaram a maior parte dos empregos nas últimas décadas) têm visto suas garantias preferenciais (imóveis e duplicatas) encolherem. Como se pode esperar que os bancos emprestem mais para reinflar os preços dos ativos da economia enquanto os salários e os preços ao consumidor continuam a cair? A economia “real” como um todo, portanto, deve encolher.
O que tornou a discussão sobre a política do Fed tão importante na última semana foi uma série de debates entre republicanos e democratas. A situação em deterioração levou um grupo de estrategistas políticos e econômicos republicanos a publicarem uma carta aberta ao presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, criticando a política do Alívio Quantitativo, inundando a economia com liquidez que transborda para os mercados de câmbio estrangeiros, para empurrar a taxa de câmbio do dólar para baixo. Não deixa de ser uma crítica. Mas que apenas arranha a superfície.
Vem Paul Krugman, um dos mais progressistas defensores da política do Partido Democrata. Suas colunas no New York Times normalmente rebatem a defesa de Wall Street e dos interesses corporativos pelos republicanos. Porém, ele concilia ao bater na China. “Culpar o estrangeiro”, ao invés do sistema, é normalmente uma resposta direitista, e ainda assim Krugman acusa a China simplesmente porque ela tenta se salvar, evitando tornar-se vítima das políticas de Wall Street, que ele normalmente critica quando a presa é o trabalhador. Ao culpar a China, ele não apenas deixa o Conselho do Federal Reserve e sua configuração pró-Wall Street aliviados, como acusa virtualmente todo mundo que se confrontou, duas semanas atrás, como uma frente unida em Seul, com o nacionalismo financeiro de Obama, quando ele e sua entourage receberam um quase unânime tapa na cara nos encontros do Grupo dos 20.
Tristemente, a coluna de Krugman “Eixo da Depressão”, na sexta-feira, 19 de novembro, mostrou a extensão de suas soluções preferidas: não vão além de um remendo marginalista. Seu artigo endossa a tentativa do Fed, através do alívio quantitativo, de reinflar a bolha imobliliária, ao inundar os mercados com créditos suficientes às mais baixas taxas de juros. Ele credita ao Fed a busca por “criar empregos”, não simplesmente socorrer bancos e manter as hipotecas sobre as propriedades em condição devedora.
A realidade é que reinflar os preços dos imóveis não vai facilitar a vida dos que vivem de salários e dos mutuários que fazem equilibrismos para viver. Baixar os juros vai reinflar os preços dos imóveis (“criação de riqueza” no estilo Alan Greenspan), elevando o grau de endividamento a que os novos mutuários precisam incorrer para adquirir suas casas. E quanto mais se paga pelo financiamento, menos sobra para gastar com mercadorias e serviços (a economia “real”). O emprego vai encolher em uma espiral financeira de austeridade.
Infelizmente, a maioria dos economistas estão sob lavagem cerebral, submetidos à trivialização da fórmula MV=PT. A ideia é que mais dinheiro (M) aumenta os “preços” (P) – supõe-se que os preços dos bens de consumo e os salários. (Pode-se ignorar a velocidade (V), que é meramente um resíduo tautológico.) (T) são as “transações”, e, quando se refere ao PIB, passa a ser (O) [para Output – Produção].
Ocorre que em torno de 99,9% do dinheiro e do crédito não é gasto em produtos de consumo (o “T” da equação MV = PT). Todos os dias um PIB inteiro passa pela Caixa de Compensações de Nova Iorque e pelo Câmbio Mercantil de Chicago, através de empréstimos bancários, ações e títulos, pacotes de hipotecas, derivativos e outros ativos financeiros e apostas. De forma que o efeito do alívio quantitativo do Fed (inflação monetária) é inflar os preços dos ativos, não os preços dos produtos de consumo e de outras mercadorias.
Esta é a dinâmica central do capitalismo financeiro de hoje. Ele sobrecarrega as economias com dívidas – e quando o serviço da dívida ultrapassa o saldo com o qual ela é paga, o Banco Central tenta “inflá-lo a escapatória da dívida”, criando novo crédito (“dinheiro”) para valorizar os imóveis, ações e títulos – o suficiente para que os devedores possam tomar emprestado o valor que devem. Este é o deus ex machina, o influxo externo de crédito para permitir que as economias financeirizadas operem seus esquemas Ponzi [pirâmides financeiras]. A dinâmica é encorajada pela taxação dos ganhos (“capital”) especulativos a um índice mais baixo do que os salários e os lucros. Então, por que os investidores deveriam financiar investimento em capital palpável, quando eles podem surfar na onda da inflação dos preços de ativos? A Bolha Econômica se torna uma “criação de riqueza” especulativa.
Isso poderá funcionar? Por quanto tempo crédulos investidores irão apostar em esquemas de pirâmide que crescem a uma taxa exponencialmente impossível, desfrutando da fictícia “criação de riqueza”, ao mesmo tempo que os banqueiros sobrecarregam a economia com dívidas? Por quanto tempo as pessoas pensarão que a economia está realmente crescendo quando os bancos emprestam para uma economia supervisionada por desregulamentadores ideológicos das agências?
O ideal dos banqueiros é o superavit completo, além e acima da capacidade de subsistência, a ser pago na forma de juros e tarifas – toda a renda pessoal disponível, o fluxo de caixa das corporações e a renda dos imóveis. Portanto, quando a QE do Fed rebaixa as taxas de juros das hipotecas, isso vai permitir que os donos de casas paguem menos – ou simplesmente vai elevar a taxa de capitalização do valor dos aluguéis?
A história de cobertura do Fed é que a QE beneficia os mutuários ao reduzir a dívida que eles devem arcar. Porém, se isso fosse verdade, seu ganho seria a perda dos bancos – e os banqueiros são os que, principalmente, constituem o Fed. Para o Federal Reserve, o “problema” econômico é que os preços das moradias em queda (quer dizer, mais acessíveis) estão matando os balanços dos bancos. Portanto o real objetivo do Fed é reinflar a bolha imobiliária (enquanto estimula, também, se puder, uma bolha no mercado de ações).
Uma coluna de Andy Kessler no Wall Street Journal (também publicada na sexta, 19 de novembro, data da coluna de Krugman no The New York Times) apontou para isso – mas também reconheceu que o Fed iria criar um desastre em relações públicas se viesse explicar que sua motivação para o QE2 era reverter a queda nos preços das propriedades. “Bernanke criaria um pânico se declarasse de forma pública que se não fosse por seu pó mágico de dólares os imóveis cairiam em um despenhadeiro”, e se admitisse que os balanços dos bancos ainda sofrem com “hipotecas e derivativos tóxicos”. Mas o grau de informação sobre a solvência bancária é amplamente fictício e se reflete no fato de que o valor do Bank of America (que comprou o Countrywide Finance) para o mercado de ações é somente metade do informado em seus livros, enquanto que o do Citibank está descontado em 20%.
A execução é, claro, ruim para os mutuários, mas é até pior para os bancos, porque o valor da pirâmide financeira de crédito, erigida na última década, torna-se lixo hipotecário. O problema com a análise de Krugman é que ele presume que a QE – cuja intenção é reinflar a bolha imobiliária – é boa para o emprego e até para a renovação da competitividade dos EUA, e não sua antítese. Ao focar somente no comércio e no trabalho, ele conclui que o dólar está se enfraquecendo apenas por causa do deficit comercial, não por conta das despesas militares e do vôo de capitais [para o exterior]. E ele assume que reinflar a bolha imobiliária – o objetivo explícito do Fed – fará as exportações dos EUA mais competitivas ao invés de menos! Da forma mais séria, ele assegura em sua coluna de 19 de novembro que “a razão central do ataque ao Fed é o auto-interesse, puro e simples. A China e a Alemanha querem que a América siga não competitiva”.
Não é isso que tem sido dito a mim na China e na Alemanha. Eles simplesmente querem evitar uma instabilidade que perturbe seu comércio e sua produção interna, e evitar perdas em suas reservas internacionais, que mantiveram (principalmente após o efeito de inércia das I e II Guerras Mundiais, quando os Estados Unidos aumentaram sua participação no ouro de todo o mundo em 80%, em 1950). O Tesouro dos EUA gostaria que os bancos dos EUA e os especuladores ganhassem US$ 500 bilhões fáceis, às expensas do Banco Central da China, pelo deslizamento especulativo da moeda do comércio. O Fed gostaria de ver a economia dos EUA renascer pela pilhagem das demais economias.
Isso não vai acontecer. O decadente padrão dólar das finanças internacionais está sendo ferido à velocidade em que as outras moedas se tornam capazes de substituir o dólar por trocas de moedas entre eles, liderados pelos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). A África do Sul acaba de se juntar a estes países na qualidade de um quinto membro. Especialistas em petróleo da Nigéria, Venezuela e Irã se associam numa tentativa de tornar o sistema monetário internacional menos injusto e menos espoliador. O colega de Prêmio Nobel de Krugman, Joseph Stiglitz, destacou (parece que ironicamente, também em artigo no Wall Street Journal): “Aquele dinheiro era previsto para a reignição da economia americana, mas, ao invés disso, circula o mundo em busca de economias que atualmente parecem estar indo bem, e causam destruição nelas”.
O Fed e o Congresso têm dito à China para revalorizar sua moeda, o renminbi, acima em 20%. Isto obrigaria o governo chinês e seu banco central a absorver uma perda de meio trilhão de dólares sobre os US$ 2,6 trilhões de reservas que acumulou. Estas reservas não são resultado simplesmente das exportações, muito menos de exportações para os Estados Unidos. Elas provêm do vôo de capital realizado por administradores financeiros dos EUA, analistas de Wall Street, especuladores internacionais e outros interessados em comprar ativos chineses. E também resultam dos gastos militares dos EUA em bases asiáticas e em outras regiões – dólares que os países recebem e gastam na China.
Autoridades chinesas tentaram deixar claro que sua objeção é à política norte-americana de criar o “crédito de teclado eletrônico” de 0,25% para comprar ativos rentáveis no exterior (e quase qualquer ativo no exterior é mais rentável). O Grupo dos 20 em Seul, na semana passada, acusou os Estados Unidos de depreciação competitiva de moeda e agressão financeira, e os países avançaram em tentativas de afastarem-se do dólar e de fato evitar a fuga de superávits financeiros e de pagamentos.
O resultado é que não há jeito dos Estados Unidos defenderem a depreciação do dólar em termos que obriguem outros países a assumirem perdas em suas posses. Investidores pelo mundo afora perderam a fé no dólar e outros papéis-moedas e estão se movendo em direção ao ouro ou simplesmente guardando suas economias. Durante o ano passado – desde os encontros dos BRICs em Yekaterinburg, Rússia, verão de 2009 – suas respostas têm sido evitar usar o dólar para se protegerem do vôo agressivo de capital dos EUA, que busca invadir os bancos centrais, comprar suas economias, matéria-prima e ativos com “crédito de papel” e de fato elevar os gastos militares.
Ao invés de apoiar essa tentativa dos países – um movimento que tem a consequência positiva para a paz mundial de limitar o aventureirismo militar dos EUA (assim como a Guerra do Vietnã finalmente forçou o dólar a se descolar do ouro em 1971), Krugman está usando a crise para atacar a China – como se o seu sucesso fosse o que está prejudicando o trabalho nos EUA, não a política pós-industrial pró-financeira, que inflou a bolha imobiliária, privatizou a saúde sem uma opção pública – e sem mesmo um desconto para compras a granel de medicamentos pelo governo dos EUA – e o fracasso em contabilizar as hipotecas e outras dívidas bancárias para verificar a condição de pagamento dos bancos.
Hoje, bater na China é muito parecido com os anteriores ataques ao Japão e outros países asiáticos no final dos anos 80, demonizando economias bem sucedidas por haverem evitado práticas predatórias que corroeram a indústria norte-americana, financializando e pós-industrializando a sua economia. A pirâmide da dívida dos EUA, que ocorreu desde 1980, se tornou uma guerra de classes que tem pouca justificativa econômica. Portanto, culpar os estrangeiros – por enriquecerem exatamente da mesma forma que os Estados Unidos fizeram desde que o Norte venceu a Guerra Civil em 1865 – simplesmente oferece cobertura política para um status quo que não funciona.
* Michael Hudson foi economista em Wall Street e hoje é professor e pesquisador na Universidade de Missouri e autor de vários livros entre eles “Estratégia Econômica do Império Americano”.

Pronunciamento do Ministro da Cultura, Juca Ferreira,

Olá minha gente de todo o Brasil.

A cultura brasileira está vivendo um dos seus melhores momentos, graças a disposição do presidente Lula em encarar a cultura como estratégica para o desenvolvimento do nosso país.

Avançamos, e muito, na construção de uma nova política cultural. Nunca houve tantos recursos para se fazer arte e cultura neste país, e nunca o Brasil foi tão admirado internacionalmente. Nossa cultura é o nosso grande diferencial.

É com muita alegria que podemos comemorar o Plano Nacional de Cultura, já aprovado pelo congresso nacional e que está sendo sancionado pelo presidente da República.

Construído por milhares de brasileiros, este plano é um guia para orientar políticas e investimentos em cultura pelos próximos 10 anos. É um instrumento que articula os governos, federal, estaduais e municipais para que, junto com a sociedade e produtores culturais, atuem pelo desenvolvimento da cultura.

É importante registrar o apoio do parlamento, que contribuiu para a elaboração e aprovação deste plano.

O plano nacional de cultura dialoga com uma extensa e fundamental agenda em andamento no Congresso. Chamo a atenção para o novo modelo de financiamento da cultura (o Procultura), para a importância do Fundo Social do Pré-Sal. Destaco também o Vale-Cultura, que vai possibilitar, com a adesão dos empregadores, que até 12 milhões de trabalhadores possam ter acesso a teatros e cinemas, comprar livros, cds e outros bens culturais que escolherem.

Estas iniciativas dão ao Brasil a oportunidade de tornar-se um país à altura de sua exuberante diversidade cultural, oferecendo mais oportunidade para quem quer produzir, fortalecendo a economia da cultura no Brasil e garantindo o direito de cada cidadão deste país de ter acesso pleno aos bens culturais.

Estamos zerando o número de municípios sem biblioteca e acabamos de assinar uma portaria determinando que, de agora em diante, só podem receber recursos do ministério da cultura os municípios que mantiverem as suas bibliotecas em pleno funcionamento.

Hoje estamos entregando a 40 brasileiros a ordem do mérito cultural, destacando indivíduos e entidades que contribuíram de forma relevante para o país, além de prestar uma homenagem especial à Darcy Ribeiro, um dos grandes ícones da nossa cultura.

Quero parabenizar a todos os artistas, produtores e trabalhadores culturais que fazem o nosso Brasil bem mais democrático, plural e mais criativo.

Todos pela Cultura para todos

Muito obrigado.

LULA OUVE MANIFESTAÇÃO A FAVOR DE JUCA FERREIRA

“É pena que a companheira Dilma não esteja aqui para ouvir”, disse o presidente, no Rio

Em clima de despedida, o presidente Lula e o Ministro da Cultura Juca Ferreira participaram ontem à noite da entrega do prêmio Ordem do Mérito Cultural 2010, no Teatro Municipal, no Rio. A plateia, formada por artistas e trabalhadores da área cultural, recebeu o Ministro aos gritos de “Fica, Juca”, confirmando um movimento que se formou na classe artística pela permanência do Ministro no governo da presidente eleita, Dilma Rousseff. Ao discursar, no fim da premiação, o presidente Lula afirmou que gostaria que a presidente eleita estivesse no Teatro para ouvir os apelos:

“Eu vi que, quando você foi anunciado, gritaram “Fica, Juca; Fica, Juca”. É uma pena que a companheira Dilma não esteja aqui para ouvir” afirmou o presidente, comparando a situação à despedida de Pelé, no Maracanã. E não sei se você fica, mas eu quero dizer, do fundo do meu coração, que agradeço eternamente o fato de ter tido você como meu Ministro da Cultura no segundo mandato.

O presidente afirmou ainda que, independentemente permanecer no Ministério, Juca Ferreira, a quem chamou de Juquinha, continuará a fazer um bom trabalho pela cultura brasileira, já que não é o tipo de pessoa que precisa de cargo.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador Sérgio Cabral também participaram da cerimônia, que premiou, entre outros, Glória Pires, Hermeto Pascoal e Leonardo Boff. No início da premiação, o presidente Lula sancionou o Plano Nacional da Cultura, que vai estabelecer as diretrizes da política cultural do governo pelos próximos dez anos.