segunda-feira, 16 de maio de 2016

5 benefícios da masturbação que talvez você não conheça

Vista com reserva no passado, prática pode ajudar a reduzir dores menstruais e combater insônia.

Da BBC
Masturbação é parte de uma vida sexual saudável  (Foto: Thinkstock/BBC)Masturbação é parte de uma vida sexual saudável (Foto: Thinkstock/BBC)
Durante muito tempo, a masturbação foi classificada por diversas sociedades como uma prática imoral e prejudicial, mas isso não poderia estar mais longe da verdade.
Especialistas dizem que é uma experiência prazerosa que traz benefícios para o corpo e para a saúde.
Por isso a BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, conversou com Mariano Rosselló Gaya, antropólogo e especialista em medicina sexual do Instituto Médico Rosselló, da Espanha, que explicou cinco benefícios da masturbação cientificamente comprovados e que você provavelmente não conhecia.
1. Alívio de dores menstruais
A masturbação pode aliviar dores, especialmente aquelas relacionadas com a menstruação e outros sintomas ginecológicos.
Masturbar-se durante o período menstrual tem o efeito de prevenir e diminuir as moléstias que costumam ocorrer no período.
"Todas as substâncias químicas que se produzem na corrente circulatória ao ter um orgasmo atuam de maneira analgésica contra as dores pré-menstruais", explicou Roselló.
"Também se produz uma desinflamação da zona genital devido à liberação das mesmas substâncias, que faz com que a pressão que as dores provocam diminua e, com elas, também o desconforto", acrescentou.
2. Fortalece o sistema imunológico
Segundo artigo publicado na Sexual and Relationship Therapy, o sistema imunológico dos homens que se masturbam funciona melhor.
"Nos homens, o fato de que a via seminal e os dutos ejaculatórios levam o sêmen para fora evita que sejam produzidas infecções de bactérias oportunistas exteriores."
"Há estudos que demonstram que indivíduos que experimentam número maior de orgasmos geram um nível maior de imunoglobina A (IgA), que é um anticorpo."
Assim mesmo, uma pesquisa do Cancer Epidemiology Centre de Melbourne, na Austrália, indicou que os homens entre 20 e 50 anos que se masturbam mais de cinco vezes por semana têm menos possibilidade de desenvolver um câncer.
Alguns estudos também indicam que em mulheres a atividade previne endometriose, doença que pode provocar infertilidade feminina.
Também se fala de prevenção de infecções, pois a atividade contribui para que se abra o colo do útero e libere mucosidade e fluidos cervicais.
Prática também pode melhorar relacionamento do casal  (Foto: BBC)Prática também pode melhorar relacionamento do casal (Foto: BBC)
3. Melhora o sono
Há muitas formas de tratar a insônia, mas uma agradável, segura e natural é se masturbar, principalmente para os homens.
Segundo o especialista, "depois do orgasmo é liberada uma série de endorfinas, hormônios, catecolaminas e citocinas que atuam como relaxantes químicos que induzem ao sono".
"O conselho francês de pesquisa médica publicou um trabalho neste sentido no ano passado e outros autores puderam constar e publicar isso", acrescentou.
A ejaculação pode provocar sono devido ao incremento do hormônio de prolactina e a queda da dopamina, o que explica a sonolência que se produz após o orgasmo.
4. Gera sensação de bem-estar
Masturbar-se é bom para ter uma boa saúde tanto em níveis biológicos como psicológicos.
"A liberação de endorfinas e catecolaminas rebaixa aos níveis de estresse e melhora nosso estado de ânimo", disse Roselló.
5. Melhora as relações do casal
Um mito muito difundido prega que a masturbação arruína relações sexuais com o cônjuge. Segundo especialistas, isso é absolutamente falso. Na verdade, é o oposto.
Masturbar-se favorece a melhoria das relações sexuais, já que ao fazer isso a pessoa aprende muito sobre seu corpo, suas reações, seus estímulos sexuais, fazendo com que o sexo seja muito mais prazeroso.
Mas não é só isso. "Em geral, a atividade sexual e a intimidade entre o casal devem ser cultivadas. Ter bons orgasmos consolida a relação e, assim, a convivência familiar", conclui Roselló.

Machado de Assis e a luta pelo fim da escravatura

Machado de Assis e a luta
pelo fim da escravatura 
A principal contribuição de Machado para a Abolição esteve, naturalmente, em ser Machado de Assis – ou seja, em ser um mulato que, dentro de uma sociedade escravagista, foi o maior escritor brasileiro de sua época, e, muito provavelmente, até os tempos de hoje, de toda a História do Brasil. Mas essa não foi a única
A relação entre Machado de Assis e a luta pela abolição da escravatura tem sido um tema constante, em geral polvilhado de equívocos e – mesmo – preconceitos, em nossa história literária. Como escreveu o próprio Machado, em uma de suas matérias jornalísticas que antecederam o 13 de Maio, “há muito burro neste mundo” (Gazeta de Notícias, 11/05/1888).
A principal contribuição de Machado para a Abolição esteve, naturalmente, em ser Machado de Assis – ou seja, em ser um mulato que, dentro de uma sociedade escravagista, foi o maior escritor brasileiro de sua época, e, muito provavelmente, até os tempos de hoje, de toda a História do Brasil.
Mas essa não foi a única.
Já nos referimos, em outra oportunidade, ao elogio de Machado a uma peça teatral, Mãe, de José de Alencar, manifestamente abolicionista. Porém, estávamos ali mais interessados nas contradições de Alencar (que, como político, estava muito longe do abolicionismo) que na atitude de Machado – que, como se sabe, não era branco – diante da mesma questão (v. “O nascimento da República e os jabutis em cima das árvores-12”, HP 27/02/2015).
Talvez, a esse respeito, a obra poética de Machado mereça uma reavaliação. Recentemente, ao reler “Americanas”, livro de poemas de 1875, deparamos com alguns trechos que não são, literariamente, desprezíveis. Por exemplo, o quarteto inicial do poema que Machado dedica a José Bonifácio (“De tantos olhos que o brilhante lume/ Viram do sol amortecer no ocaso,/ Quantos verão nas orlas do horizonte/ Resplandecer a aurora?”).
No mesmo livro está o poema “Sabina”, sobre uma violência da escravidão especialmente cruel: “Sabina era mucama da fazenda;/ Vinte anos tinha; e na província toda/ Não havia mestiça mais à moda,/ Com suas roupas de cambraia e renda.”.
Sabina, que não vive na senzala, mas na casa-grande, não percebe – ou percebe difusamente, confusamente – a sua própria condição de escrava, e se apaixona pelo filho de seus senhores. Nos versos de Machado: “e ela seguia/ Ao sabor dessas horas mal furtadas/ Ao cativeiro e à solidão, sem vê-lo/ O fundo abismo tenebroso e largo/ Que a separa do eleito de seus sonhos,/ Nem pressentir a brevidade e a morte!”.
Sabina engravida do rapaz, que viaja – e, depois, volta já casado. Ela decide suicidar-se. À beira do rio em que pretendia afogar-se, no entanto, o pensamento de que isso seria matar também o filho faz com que desista: “Ali ficou. Viu-a jazer a lua/ Largo espaço da noite ao pé das águas,/ E ouviu-lhe o vento os trêmulos suspiros;/ Nenhum deles, contudo, o disse à aurora.”
 CRÍTICA
 Algo bastante peculiar, embora não inédito, é que os adversários literários de Machado, em especial Sílvio Romero, tenham visto em sua obra um caráter “mestiço” (ou seja, mulato) e nacional, que boa parte dos amigos pessoais de Machado não conseguiram ver – ou evitavam ver.
É bem conhecido o artigo de José Veríssimo, o crítico mais próximo de Machado, quando da sua morte:
“São tanto mais de admirar e até de maravilhar essas qualidades de medida, de tato, de bom gosto, em suma de elegância, na vida e na arte de Machado de Assis, que elas são justamente as mais alheias ao nosso gênio nacional e, muito particularmente, aos mestiços como ele. Mulato, foi de fato um grego da melhor época, pelo seu profundo senso de beleza, pela harmonia de sua vida, pela euritmia da sua obra.”
Mais conhecida ainda é a carta que, depois desse artigo, outro amigo de Machado, Joaquim Nabuco, enviou a José Veríssimo:
“... ele foi de fato, um grego da melhor época. Eu não teria chamado Machado de Assis de mulato (...). O Machado para mim era um branco e creio que por tal se tornava; quando houvesse sangue estranho isso nada alterava a sua perfeita caracterização caucásica. Eu pelo menos só via nele o grego.”
Essa não era a opinião de Sílvio Romero.
Em seu livro “Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira”, publicado em 1897, Romero dedica-se a demonstrar que Tobias Barreto – seu mestre e mentor na “Escola do Recife” - é mais importante para a literatura nacional do que Machado de Assis.
Hoje, não há necessidade de refutar a tese de Sílvio Romero. A realidade já se encarregou dessa tarefa. É necessário apenas, no que vem a seguir, observar que Romero, ao levantar características étnicas, não o fez como forma de ataque a Machado – até porque Tobias Barreto também era mulato. Não deixam de ser interessantes alguns juízos que ele emite sobre Machado:
“Machado de Assis pode e deve ser também apreciado pelo critério nacionalista. Não o poeta, porque, a não ser em suas pálidas Americanas, este nos desdenhou de todo; sim o romancista e o contista; porque estes dignaram-se de olhar, uma vez por outra, para nós. Em que pese ao Sr. José Veríssimo, o nisus central e ativo de Machado de Assis é de brasileiro, e como tal se revela no caráter essencial de sua obra de mestiço” (Sílvio Romero, op. cit., Laemmert & C - Editores, Rio, 1897, p. 341).
Ou, em outra parte do mesmo livro:
“Ele [Machado] é um dos nossos, um genuíno representante da sub-raça brasileira cruzada, por mais que pareça estranho tocar neste ponto. Sim, Machado de Assis é um brasileiro em regra, um nítido exemplar dessa sub-raça americana que constitui o tipo diferencial de nossa etnografia, e sua obra inteira não desmente a sua fisiologia, nem o peculiar sainete psicológico originado daí.
“Seus romances, seus contos, suas comédias encerram vários tipos brasileiros, genuinamente brasileiros e ele não ficou, ao jeito de muitos dos nossos, na decoração exterior do quadro; mais penetrante do que qualquer desses, foi além, e chegou até a criação de verdadeiros tipos sociais e psicológicos, que são nossos em carne e osso, e essas são as criações fundamentais de uma literatura” (idem, pp. 17 e 18).
Romero usa o termo “sub-raça” como descrição de uma variedade nacional da espécie humana – no pensamento da época, frequentemente esta última era chamada “raça humana” - e não para marcar uma inferioridade. Apesar disso, é inevitável um certo ranço de inferioridade, inerente – embora na maior parte inconsciente – a esse termo.
 JUÍZO
 Ao leitor pode parecer estranho que o autor das palavras que citamos tivesse um juízo desfavorável da obra de Machado, mas assim é. Por exemplo:
“Machado de Assis não é um satírico; a mais superficial leitura de qualquer de suas obras mostra-o logo às primeiras páginas. Não é um cômico, nem como dizedor de pilhérias, nem como criador de tipos e situações engraçadas e equívocas. Não é também plenamente um misantropo, um detraqué. Não lembra, pois, nem Juvenal, nem Martins Penna, nem Molière, nem de todo Baudelaire, ou Poe, ou Dostoievsky. Não é, finalmente, da raça dos humanitários propagandistas e evangelizadores de povos ao gosto de Tolstoi. É, a meu ver, uma espécie de moralista complacente e doce, eivado de certa dose de contida ironia, como qualidade nativa que de quando em quando costuma enroupar nas vestes de um peculiar humorismo, aprendido nos livros, e a que dá também por vezes uns ares de pessimismo, também aprendido de estranhos.
“O que é seu, o que existe no seu espírito, como qualidades naturais, como bases de seu temperamento, vêm a ser o talento da análise psicológica, uma espontânea simpatia pela dignidade humana, a facilidade de generalizar os fatos e as ideias, o que tudo dá ao complexo de sua obra certo sainete moralizante, que o humour e o pessimismo emprestado não têm força de apagar. Possui, por certo, como disse, uma dose ingênita de ironia; mas esta não pôde nunca extravasar-se tumultuária e envenenadora, por ser sofreada pela timidez fundamental do temperamento do escritor.
“Machado de Assis é bom quando faz a narrativa sóbria, elegante, lírica dos fatos que inventou ou copiou da realidade; é quase mau quando se mete a filósofo pessimista e a sujeito caprichosamente engraçado” (idem, pp. 345, 346 e 347).
CATIVEIRO
 Reproduzimos demasiado extensamente as opiniões do sergipano Sílvio Romero, porque - além de ser um autor mais citado do que lido - é um dos dois críticos e historiadores literários de mais influência em nosso país, no período final da vida – e obra – de Machado (o outro é o, já mencionado, paraense José Veríssimo, em quase tudo um oposto perfeito de Romero, que o atacou em um de seus livros mais agressivos: “Zéverissimações ineptas da crítica: repulsas e desabafos” (1909); no entanto, Veríssimo é autor de juízos que permanecem inalterados até hoje: por exemplo, sobre Machado, diz ele em sua “História da Literatura Brasileira”, de 1916, que “é a mais alta expressão do nosso gênio literário, a mais eminente figura da nossa literatura”).