Não se pode no Brasil falar em religiões puras. O sincretismo entre correntes religiosas é a regra e não um privilégio.
Consideremos sincretismo a unificação iu fusão de diferentes cultos e doutrinas com a reinterpretação de seus elementos.
Negros, indígenas e europeus fundiram-se no Catimbó. A concepção da magia, processos de encantamento, termos, orações, são
da bruxaria ibérica, vinda e transmitida oralmente.
A terapêutica vegetal é indígena pela abundância e proximidade, além da tradição médica dos pajés. O bruxo europeu também já
trazia o hábito e encontrou no continente a fartura de raízes, vergônteas, folhas, frutos, cascas, flores e ainda a ciência secular
aborígene na mesma direção e horizonte. A convergência foi imediata.
Influência do Negro
Com o negro africano houve fenômeno idêntico. Apenas quando arredado do eito da lavoura açucareira, velho, trêmulo e sempre
amoroso, assumiu posição mais decisiva como Mestre orientador e dono dos segredos. Pelo simples fato de viver muito, existe,
espontaneamente, um sugestão de sabedoria ao redor do macróbio. Quem muito vive, muito sabe. O diabo não sabe por ser
diabo, mas por ser muito velho. Velhice é sabedoria. O saber, tendo como base experiências acumuladas, mantém-se na memória
popular como o melhor e lógico. Doutor novo, experimenta. Doutor velho, trata. O negro escravo, de carapinha mudando de cor,
representava um indiscutido prestígio misterioso: negro quanto pinta, tem três vezes trinta. O “negro-velho” era assombroso “faz
medo a menino”, curador, rastejador, vencendo o veneno da cobra, da faca fria e da bala quente.
Angolas, Benguelas, Canbindas foram os nossos Pais Pretos, Negro do Congo, Pai Angola, Negro de Luanda, vivos nas estórias
populares, anedotários, feitiços. Bantos são topônimos negros do Rio Grande do Norte, cafuca, cafundó, cafunga, cassangue,
catunda, massagana, mocambo, zumbi, buíque, cabugá. Foram armados depressa, subindo na fama coletiva. Deram armas,
mucamas, amas-de-leite, mães pretas, xodós dos senhores de engenho, dor de cabeça da Senhora Dona, fidalgas e preferidas.
Os maiores Mestres de Catimbó foram negros e ainda o são, em maioria absoluta, mestiços e mulatos. Do cerimonial das
macumbas dos bantos, o Catimbó mantém as linhas, significando a procedência dos encantados, nações, invocação dos antigos
negros valorosos. Em função disso podemos considerar como comum, além dos mestres a presenças de pretos velhos trabalhando
no Catimbó.
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