Todos os anos, no dia 20 de janeiro, centenas de pessoas visitam a ilha da Fortaleza, localizada a trinta minutos de barco, em frente à sede do município de São João de Pirabas no nordeste paraense, para reverenciar o Rei Sabá. Trata-se de um monumento em pedra natural esculpida em cima de um cemitério paleontológico, que vista há alguns metros de distância, assemelha-se a um homem sentado de costas para o mar como se estive meditando. É neste local considerado sagrado por religiosos católicos e afro-amazônidas que, pais, mães e filhos de santo juntamente com a população nativa celebram louvores e depositam oferendas à Dom Sebastião, o “desejado” monarca português, e simultaneamente, a São Sebastião, santo católico morto à flechadas em 286 d.c por seu zelo com os prisioneiros cristãos. O fato dos dois personagens históricos terem nascidos no mesmo dia, (20 de janeiro) é um dos elementos que contribui para o sincretismo religioso em Pirabas. É comum, por exemplo, as pessoas pensarem que o último rei da dinastia de Aviz e o mártir católico sejam as mesmas pessoas.
A festividade de D.Sebastião abre o calendário cultural de eventos no município. E nesse ano a prefeitura de São João de Pirabas através da Secretaria Municipal de Cultura, com apoio do Ponto de cultura Saberes e manifestações do salgado, deram continuidade ao ciclo de seminários que envolvem a temática sebástica na região, que tem como objetivo fomentar o turismo religioso e dar visibilidade há uma das mais antigas manifestações do povo pirabense, que recentemente se tornou patrimônio natural e cultural do município.
Como parte da programação, na tarde de quarta feira, 19, no teatro Maria Pajé, foi realizado o 3º Seminário sobre sebastianismo, que teve como tema “O mundo da encantaria e o sebastianismo”, palestra ministrada pelo Sacerdote Mina, Pai Luís Tayandô juntamente com o estudioso Antonio Ferreira, da Fundação Palmares. Na palestra ministrada para universitários, professores e alunos da rede municipal e estadual de ensino, o público conheceu alguns aspectos históricos e a origem das manifestações afro-amazônicas no Brasil. A programação teve seqüência com a exibição do curta metragem “A descoberta da Amazônia pelos turcos encantados”, que desvendou a saga das princesas turcas Jarina, Mariana e Herundina trazidas para a Amazônia, que só aqui descobriram sua condição de seres encantados, assim como, a chegada dos negros africanos ao Grão - Pará e Maranhão e, conseqüentemente, o envolvimento desses dois povos distintos com os povos da floresta. Fundindo-se em uma só cultura, originando o tambor de mina, considerada pelos pais de santo, a religião oficial da Amazônia por unir na encantaria divindades da pajelança, turcos encantados, entidades africanas e a presença cristã na figura do rei católico Dom Sebastião. Esse sincretismo religioso, segundo os adeptos dos cultos afro-amazônidas, representa o fechamento do terceiro anel da cobra grande, em cumprimento as profecias que anunciavam essa união, impossível no plano político temporal, porém concretizado no mundo encantado.
No período da noite, a pesar da chuva, o público retornou ao teatro Maria Pajé para prestigiar as apresentações culturais do evento, que contou com a participação do grupo Sol Nascente que levou para o palco as tradicionais danças regionais como a marujada de São Benedito, a chula marajoara, o bangüê entre outras. A programação foi encerrada com a tradicional roda de tambores. Momento de encontro e união de pais, mães e filhos de santo que se apresentaram encarnando as várias entidades das encantarias dos três povos responsáveis pela identidade cultural da sociedade amazônida.
Na manhã seguinte, percebia-se uma intensa movimentação de pessoas na orla da cidade aguardando as embarcações para a travessia até a ilha da fortaleza que recebeu aproximadamente duas mil pessoas para prestarem suas homenagens ao Rei Sabá e desfrutar das belezas naturais de sua mística terra.
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