sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pirabas Homenageia Dom Sebastião

Diz a lenda em uma de suas versões, que após a desastrosa derrota do exército português na memorável batalha de Alcácer – Quibir no Marrocos em 1578, D.Sebastião, rei de Portugual desaparece misteriosamente do local do confronto. Para não ser executado pelos mouros, embarca em um navio negreiro que naufraga no litoral paraense onde atualmente chamamos de barra de Pirabas. Nadando em direção ao continente, chega a um platô de pedras na ilha da fortaleza onde ficou encantado. Versão esta que, segundo estudiosos, não têm respaldo histórico.

Todos os anos, no dia 20 de janeiro, centenas de pessoas visitam a ilha da Fortaleza, localizada a trinta minutos de barco, em frente à sede do município de São João de Pirabas no nordeste paraense, para reverenciar o Rei Sabá. Trata-se de um monumento em pedra natural esculpida em cima de um cemitério paleontológico, que vista há alguns metros de distância, assemelha-se a um homem sentado de costas para o mar como se estive meditando. É neste local considerado sagrado por religiosos católicos e afro-amazônidas que, pais, mães e filhos de santo juntamente com a população nativa celebram louvores e depositam oferendas à Dom Sebastião, o “desejado” monarca português, e simultaneamente, a São Sebastião, santo católico morto à flechadas em 286 d.c por seu zelo com os prisioneiros cristãos. O fato dos dois personagens históricos terem nascidos no mesmo dia, (20 de janeiro) é um dos elementos que contribui para o sincretismo religioso em Pirabas. É comum, por exemplo, as pessoas pensarem que o último rei da dinastia de Aviz e o mártir católico sejam as mesmas pessoas.

A festividade de D.Sebastião abre o calendário cultural de eventos no município. E nesse ano a prefeitura de São João de Pirabas através da Secretaria Municipal de Cultura, com apoio do Ponto de cultura Saberes e manifestações do salgado, deram continuidade ao ciclo de seminários que envolvem a temática sebástica na região, que tem como objetivo fomentar o turismo religioso e dar visibilidade há uma das mais antigas manifestações do povo pirabense, que recentemente se tornou patrimônio natural e cultural do município.

Como parte da programação, na tarde de quarta feira, 19, no teatro Maria Pajé, foi realizado o 3º Seminário sobre sebastianismo, que teve como tema “O mundo da encantaria e o sebastianismo”, palestra ministrada pelo Sacerdote Mina, Pai Luís Tayandô juntamente com o estudioso Antonio Ferreira, da Fundação Palmares. Na palestra ministrada para universitários, professores e alunos da rede municipal e estadual de ensino, o público conheceu alguns aspectos históricos e a origem das manifestações afro-amazônicas no Brasil. A programação teve seqüência com a exibição do curta metragem “A descoberta da Amazônia pelos turcos encantados”, que desvendou a saga das princesas turcas Jarina, Mariana e Herundina trazidas para a Amazônia, que só aqui descobriram sua condição de seres encantados, assim como, a chegada dos negros africanos ao Grão - Pará e Maranhão e, conseqüentemente, o envolvimento desses dois povos distintos com os povos da floresta. Fundindo-se em uma só cultura, originando o tambor de mina, considerada pelos pais de santo, a religião oficial da Amazônia por unir na encantaria divindades da pajelança, turcos encantados, entidades africanas e a presença cristã na figura do rei católico Dom Sebastião. Esse sincretismo religioso, segundo os adeptos dos cultos afro-amazônidas, representa o fechamento do terceiro anel da cobra grande, em cumprimento as profecias que anunciavam essa união, impossível no plano político temporal, porém concretizado no mundo encantado.

No período da noite, a pesar da chuva, o público retornou ao teatro Maria Pajé para prestigiar as apresentações culturais do evento, que contou com a participação do grupo Sol Nascente que levou para o palco as tradicionais danças regionais como a marujada de São Benedito, a chula marajoara, o bangüê entre outras. A programação foi encerrada com a tradicional roda de tambores. Momento de encontro e união de pais, mães e filhos de santo que se apresentaram encarnando as várias entidades das encantarias dos três povos responsáveis pela identidade cultural da sociedade amazônida.

Na manhã seguinte, percebia-se uma intensa movimentação de pessoas na orla da cidade aguardando as embarcações para a travessia até a ilha da fortaleza que recebeu aproximadamente duas mil pessoas para prestarem suas homenagens ao Rei Sabá e desfrutar das belezas naturais de sua mística terra.

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