sábado, 30 de outubro de 2010

Uma jazida diferente: como se formaram e como nós descobrimos as imensas reservas do pré-sal

Nos últimos 30 anos, a Petrobrás acreditou numa nova concepção de jazida, diferente das convencionais. Durante esses 30 anos, ela não pôde explorar essa jazida porque a camada de sal, de mais ou menos dois quilômetros de espessura, perturbava o levantamento sísmico, limitado a duas dimensões. Quando veio a evolução tecnológica, com a sísmica de três e quatro dimensões, a Petrobrás, finalmente, pôde atingir o objetivo com mais precisão e consolidar aquilo que imaginava que fosse uma enorme província petrolífera.
A camada de sal não é uma rocha rígida, ela é gelatinosa. Quando se tinha de trocar a broca, às vezes seguidamente durante o dia, cada vez que se retirava a coluna, a camada de sal fechava o poço. A Petrobrás teve que revestir o poço com uma tubulação de aço, o que leva um tempo maior. Então, o primeiro poço levou um ano para ser perfurado e custou U$ 260 milhões. Hoje, a perfuração está custando mais ou menos U$ 60 milhões e não se pode baixar muito, porque há um tempo mínimo de perfuração e uma plataforma nessa profundidade, com essa especialização, está custando U$ 600 mil por dia. Uma forma de baixar o custo seria construir novas plataformas.
Como é o mecanismo de formação do petróleo? Os rios trazem material orgânico, depositam no fundo do mar, junto com areia, pedras, diversos materiais e, com a pressão da coluna d’água, esses materiais formam uma rocha mista porosa, com o material orgânico no seu interior. Esse material orgânico, durante milhões de anos, é fermentado por micro-organismos. E esses micro-organismos atuam na rocha geradora onde estão depositados esses materiais e transformam esse material orgânico em petróleo. Quando o petróleo amadurece, a pressão dentro dessa rocha geradora atinge um valor elevado, de 5 mil libras ou até de 10 mil libras, a temperatura se eleva e a rocha se rompe, deixando escapar o petróleo gerado dentro dela. Aí esse petróleo caminha para a superfície por diversos caminhos e se perde, mas, se em alguma parte esse petróleo encontra uma rocha porosa que o armazene, aí está formado um reservatório convencional.
Qual a diferença para a jazida do pré-sal? Da mesma maneira, o material orgânico foi depositado no fundo do mar e também durante milhões de anos foi fermentado. Mas há uma diferença fundamental. Quando os continentes sul-americano e africano começaram a se separar, o mar penetrou na fenda entre eles e ficou confinado, não tendo movimento lateral de correntes e ondas. O mar confinado só tinha a elevação, a elevação da maré. Aí houve uma evaporação muito grande da água do mar e uma concentração de sal, que desceu e se depositou em cima desse material orgânico ali depositado. Essa camada de sal, que atingiu uma espessura de dois quilômetros, teve duas vantagens fundamentais: se depositou em cima dessa rocha geradora, protegeu-a mecanicamente e selou-a, de tal forma que, quando o petróleo se formou, amadurecendo o material orgânico fermentado pelos Phitoplanctos (micro-organismos), a pressão subiu e não houve o rompimento da rocha geradora, portanto não houve perdas. Então, o petróleo formado está todo lá, na própria rocha geradora.
Essa é a diferença do reservatório do pré-sal e do convencional, gerando duas vantagens do pré-sal sobre uma jazida convencional. A primeira é que todo material orgânico se transformou em petróleo e ficou retido no reservatório. Segunda: em um reservatório convencional, as bactérias comem o petróleo leve e deixam o petróleo pesado, de pior qualidade. No pré-sal, as bactérias não tiveram acesso, porque o sal não deixou. Ou seja, o sal protegeu não só mecanicamente, como biologicamente, uma vez que não deixou as bactérias daninhas comerem o petróleo leve. Então, o petróleo do pré-sal é muito melhor do que o nosso petróleo convencional. É um petróleo muito melhor do que, por exemplo, Marlim ou Albacora. Eles têm um grau API em torno de 15 e 16, significa óleo pesado, e o pré-sal tem 28 a 34. Quanto mais alto o grau, mais leve e melhor qualidade tem o petróleo.
Com isso, os técnicos da Petrobrás, a partir do primeiro furo, tiveram comprovada aquela teoria estudada durante 30 anos e tiveram a alegria de ter, em 11 poços perfurados, encontrado petróleo em 11, confirmando as expectativas. As estimativas, conservadoras, dos geólogos da Petrobrás, sobre a reserva esperada chegam a, pelo menos, 90 bilhões de barris de petróleo. Há, entretanto, a perspectiva de se chegar a 300 bilhões, mas não vamos raciocinar com essa hipótese, vamos ficar apenas nos 90, que já vamos ter “problemas” suficientes.
Os primeiros problemas são os blocos que a Petrobrás comprou associada, infelizmente, a empresas estrangeiras. A Exxon comprou um bloco, no segundo leilão, junto com a Petrobrás. A Exxon tem 40%, a Petrobrás tem 20% e a americana Amerada Hess tem 40%. Ela esperou a Petrobrás fazer 11 furos para fazer o poço dela, para não ter risco nenhum.
Enfim, a Petrobrás furou todos os seus poços e já encontrou petróleo. Quando perfurou, achou, e testou o bloco de Tupi. Então, o presidente Lula mandou retirar 41 blocos do pré-sal que estavam incluídos no 9º leilão da ANP, porque se transformaram em bilhetes premiados. Porque a atual lei do petróleo foi feita para incentivar a vinda de empresas estrangeiras para investirem em áreas ainda não descobertas, correndo riscos. No pré-sal não tem mais risco. Já está descoberto. Normalmente, numa pesquisa desse porte, o índice de sucesso de 10% é muito bom. Fura-se 10 poços e acha-se petróleo em 1. Agora você fura 11 e acha 11, não tem mais risco. Então a Lei atual, a 9478/97, não se aplica ao pré-sal.
A primeira estimativa da província é de que ela vai de Santa Catarina até o Espírito Santo, mais ou menos com 800 Km de extensão, por 200 Km de largura, em média.
Uma pergunta que sempre surge: se alguma empresa estrangeira furar fora do mar territorial (200 milhas) e encontrar petróleo, o que acontece? É dona? Só que não tem condições técnicas e nem comerciais de explorar o petróleo sem apoio logístico do Brasil. Imagine-se montar uma infraestrutura de produção, tratamento e transporte de óleo a mais de 300 km da costa. É impossível, técnica e comercialmente. Esperamos até que tenha petróleo, mas ninguém vai investir. Aliás, a Lei 9.478/97 foi feita para incentivar pesquisas em áreas novas, mas nenhuma empresa estrangeira colocou nenhum centavo em qualquer área nova, só nas que a Petrobrás já tinha pesquisado e devolvido.

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