A Amazônia, além da já conhecida e sempre citada riqueza biológica e cultural, é um ambiente heterogêneo. Seria um equívoco pensar a região de modo generalizante, a ponto de estudiosos tão díspares como a pesquisadora alemã Maritta Koch-Wesser e o General Eduardo Dias da Costa Villas Boas, ambos palestrantes convidados do projeto Repórter do Futuro, concordarem com a existência de várias amazônias. È justamente a partir desse entendimento que Maritta vem trabalhando no projeto “Amazônia em transformação: História e perspectivas”, no Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP).
A produção acadêmica sobre a região amazônica é imensa. O interesse de estudiosos de várias áreas do conhecimento, como geografia, biologia, antropologia e outras, gerou uma riqueza de estudos tanto sobre os aspectos físicos e biológicos, quanto sobre a historiografia e as sociedades da Amazônia. Mas o conhecimento que se têm hoje não á restrito ao ambiente acadêmico. Estudos de impacto ambiental de grandes obras como Carajás e Tucuruí também podem ser vistos como fonte importante de informação, apesar de todos os interesses políticos e econômicos envolvidos nesses empreendimentos.
O projeto do IEA, iniciado no final de 2009 e coordenado por Maritta, tem como intuito agregar essas produções, sejam elas de fins acadêmicos, econômicos, ou até burocráticos, como os arquivos de órgão públicos, a exemplo da SUDAM. Ele prevê também a criação de uma rede para reunir acervos raros e não publicados sobre a Amazônia. A pesquisadora propõe a criação de uma plataforma interativa, a exemplo da Wikipedia e um sistema de busca que chama de provisoriamente de “Google Amazon”.
O projeto tenta agrupar pesquisas dos últimos 50 anos sobre a região. Para Maritta, essa foi uma época caracterizada pela evolução das pesquisas. “Esses 50 anos de transformação da Amazônia são uma época de aprendizagem que deve alimentar estratégias futuras”. Ela diz ainda que “Muitas pesquisas boas [foram feitas]”, e que já conseguiu permissão para usar o acervo de Aziz Ab’Saber e Betty Mindlin, dois grandes intelectuais e estudiosos sobre a região. Vai mais longe ao atribuir aos estudos os resultados que geraram políticas públicas de preservação, pelo menos no âmbito legal, reconhecidas como modelo em todo o mundo. Hoje a Amazônia tem 20% de suas terras em reservas.
Pensando nos benefícios práticos que os estudos podem gerar os objetivos do projeto são: resgatar a memória dos projetos de transformação; viabilizar um futuro enraizado na aprendizagem e disponibilizar as informações sobre a Amazônia, tendo em vista as divisões sub-regionais. “Isso é importante, não falar da Amazônia em termos gerais”, destaca. Sobre os propósitos do programa, a pesquisadora, que já trabalhou em diversas organizações voltadas ao meio ambiente, como a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), diz ser “importante registrar de uma forma fria o que aconteceu com cada um dos atuantes. Para futuramente continuar nessa progressão do desenvolvimento ambiental, é importante entender essas raízes”. Maritta afirma que o interesse é saber como e porque as estratégias de atuação foram pensadas em sua época. “Você tinha estratégias muito divergentes. O que vemos é que hoje há uma integração muito maior em termos de planos regionais”.
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